Por Carlos Barreto –
Eusébio, ainda hoje considerado um dos melhores jogadores de sempre, era um homem diferente, sempre aclamado onde chegava, de uma simplicidade rara, só quem com ele partilhou, vivenciou esta figura ímpar que nunca se negava a cumprimentar e dar uma palavra a quem pedia.
Em 1996 tive o privilégio de o contratar e acompanhar para o lançamento em Luanda, Angola, da marca “Kia Motors”.
Após várias reuniões para o acordo comercial, Eusébio na sua simplicidade e sem advogados, deu a sua palavra e com um aperto de mão ficou celebrado o acordo.
A sua preocupação era ter tempo para poder visitar o alfaiate em Leiria, cidade a uma hora de Lisboa e mandar fazer dois fatos de Verão para o clima quente de Angola e, a viagem de avião ser em classe executiva.
Na data marcada embarcou e na chegada a Luanda sem qualquer informação da sua presença, logo no aeroporto foi rodeado por gente que o identificava. Entendemos logo que Eusébio precisava de reforço de segurança, pois onde quer que fossemos era inundado de pessoas à sua volta, e Luanda nesta fase não era uma cidade segura.
Eusébio tinha a agenda programada, presenças na Televisão, presença no lançamento da marca “Kia” e toda a logística de um evento destes. Foi contatado pela Presidência da República do Futungo, o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, convidou-o para uma pelada de futebol no palácio no sábado pela manhã, com equipas da segurança privada e do restante pessoal da Presidência.
Alguém da segurança fez uma pequena palestra a informar que o Presidente e Eusébio não podiam ser de forma alguma machucados e não eram permitidas entradas duras.
Eusébio mesmo já com a sua idade, ainda perfumava futebol quando tocava na bola e a colocava a 30 metros sem dificuldade.
Fosse qual fosse o programa diário, 7 horas da manhã lá estava Eusébio, na praia a fazer o seu jogging e a oxigenar para mais uma jornada, e como se tornou um hábito quando a Van chegava, a praia já estava inundada de jovens e pessoas de todas as idades para o verem e tocarem.
Tínhamos mandado produzir milhares de postais com a foto e autografados por Eusébio para oferecer, resultado, ao fim de três dias tinham esgotado.
Eusébio tinha os seus hábitos: assistimos a um jogo de futebol na televisão Benfica-Porto e o seu ritual de enrolar uma toalha de rosto de cor branca, no punho e sempre concentrado a ver o jogo.
Vários foram os episódios vividos, mas realço que Eusébio nunca se negava a ouvir os mais desfavorecidos e quando ficava sensível a pedidos de carência, dava indicação para se poderem apoiar. Em outras viagens cheguei a levar medicamentos e leite em pó “NIDO”, para pedidos que lhe tinham sido feitos e que não os esquecia.
Se os jovens de hoje ídolos do futebol, fossem mais atentos, e não esquecessem facilmente a sua origem, o mundo do futebol estaria muito melhor, a ganância, a vaidade e as redes sociais distancia cada vez mais os adeptos dos seus ídolos.
Exemplos como o de Eusébio são diplomas de autenticidade, de genuinidade e de que o futebol é do povo para o povo, e que ainda hoje são recordados como os grandes embaixadores de pessoas comuns que nasceram com o dom de jogar futebol.
CARLOS BARRETO – Consultor de Comunicação; Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Lisboa, Portugal.
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