Por Jeferson Miola

No último 1º de março se completaram exatamente seis meses da tentativa de assassinato de Cristina Fernández de Kirchner [CFK]. O fracassado atentado ocorreu em 1º de setembro de 2022.

CFK presidiu a Argentina por dois mandatos, durante o período de 2007 a 2015. Atualmente ela acumula, constitucionalmente, os cargos de vice-presidente da República e de presidente do Senado.

Mesmo se tratando, portanto, de um grave atentado contra uma autoridade constituída pela soberanía popular – uma tentativa de magnicídio, portanto – o judiciário do país cria dificuldades processuais e sabota a investigação do caso para proteger os implicados, que em sua maioria são vinculados ao entorno do ex-presidente Maurício Macri.

Há uma abundância de provas e indícios a esse respeito. Como a do deputado Gerardo Milman, do partido de Macri, que dois dias antes do atentado disse a amigos que “quando a matarem, estarei no litoral”. E, de fato, no data da tentativa de assassinato de Cristina, o deputado estava no litoral.

Apesar desta “coincidência” muito suspeita, a juíza do caso, Maria Eugênia Capuchetti, notória pelos vínculos com o partido Juntos pela Mudança, de Macri, se recusa a investigar esta e outras pistas relevantes.

Como, por exemplo, a associação do Grupo Caputo, de propriedade de um amigo íntimo de Macri, com o setor de extrema-direita Revolução Federal, fundado por Jonathan Morel, ao qual pertence um dos três criminosos presos pelo atentado.

Morel é uma pessoa extremamente agressiva, que costuma fazer ameaças de morte e estimular violência e terror contra a própria CFK e políticos e militantes kirchneristas.

Por corporativismo, a justiça federal argentina negou o pedido da defesa de CFK de afastamento da juíza Capuchetti, que continua no caso cometendo um sem número de arbitrariedades e irregularidades processuais.

Enquanto, por um lado, o partido togado sabota a investigação da tentativa de magnicídio, por outro lado acelera a farsa judicial para condenar e prender ilegalmente CFK no processo farsesco por corrupção.

Tal como a gangue de Curitiba no Brasil, na Argentina o partido togado faz um combate feroz e implacável ao kirchnerismo. Com o mesmo atrevimento político e a mesma audácia gangsterista de juízes e procuradores da Lava Jato contra Lula e o PT no Brasil. E de modo articulado com a mídia hegemônica, que destila ódio, propaga violência política e sentencia Cristina e o campo progressista do país à morte.

A maior líder popular argentina é tratada com seletividade e rito “especial”, tal como no lawfare contra Lula.

É que assim como no Brasil, o poder judiciário da Argentina também está infiltrado por elementos perigosos de extrema-direita ao estilo de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.

Agem de maneira idêntica: instrumentalizam os cargos públicos para propósitos espúrios. Eles corrompem o sistema de justiça para materializar objetivos pessoais, financeiros, políticos e ideológicos.

Do mesmo modo que a gangue de Curitiba tentou, sem êxito, banir Lula da história e da política nacional, o partido togado da Argentina também age para proscrever e banir Cristina e o kirchnerismo do proceso político do país.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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