Por Cacau de Brito –
Apesar de a abolição da escravidão ter ocorrido há muitos anos atrás, até hoje pagamos caro pela herança racista desse período sombrio de nossa história.
O racismo é uma relação de poder, estruturado em nossas instituições sociais, políticas e econômicas. Ele está presente na desigualdade social e nos processos de exclusão da população negra no Brasil. Isso se chama racismo estrutural, ou seja, a formalização de práticas históricas, culturais, e institucionais que ocorrem frequentemente, causando disparidades entre grupos de diferentes classes sociais, ao longo do tempo.
A população preta tem sido criminalizada, violentada e excluída desde a escravidão e ainda hoje luta por mais direitos e igualdade social. As principais vítimas de violência são os jovens negros, principalmente os homens. Por causa do preconceito racial, são muitos os casos de jovens presos injustamente, pois são confundidos com os verdadeiros criminosos por terem a mesma cor da pele ou outros traços físicos semelhantes. Muitas vezes, apenas por ser negro, o jovem já é acusado de roubo, como aconteceu no mês passado no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, com o instrutor de surf Matheus Ribeiro, 22, que aguardava a namorada em frente a um shopping center junto à sua bicicleta elétrica e foi acusado por um casal branco de ter roubado o veículo.
Observamos o racismo também na desigualdade do nível de escolaridade entre crianças e jovens negros e brancos.
Em pesquisa realizada pelo IBGE, de 10 milhões de jovens que deixam de estudar, 71% são negros. Essa evasão escolar acontece por que o adolescente negro precisa trabalhar para ajudar nas despesas familiares e, assim, troca a escola pelo mercado de trabalho. A pesquisa revelou ainda que os jovens negros passam menos tempo na escola que os jovens brancos e que, de cada 100 negros, 10 não sabem ler e escrever.
O racismo estrutural está enraizado na educação. É preciso combater a desigualdade racial na educação com políticas pedagógicas mais assertivas, ações afirmativas e também com escolas de qualidade em tempo integral, oferecendo estudo, comida, arte, cultura e esporte.
A falta de acesso à educação, afeta também os jovens no mercado de trabalho. Sem educação e alguns critérios excludentes, os jovens negros desempregados representam quase o dobro dos brancos. Em pesquisa realizada pelo IBGE, das jovens entre 15 e 29 anos desempregadas, cerca de 15 milhões são pretas e pardas.
O governo precisa investir em educação, cursos profissionalizantes acessíveis, esporte, cultura e lazer para as crianças e adolescentes da periferia e das comunidades faveladas das grandes e médias cidades brasileiras. Somente com o investimento público poderemos ter a esperança de que o racismo e a desigualdade sejam superados nas próximas gerações.
CACAU DE BRITO é advogado, escritor e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.
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