Por José Macedo

Viva 2 de Julho, de 1823, efetivo e autêntico grito por nossa Independência e soberania!

Maria Felipa de Oliveira, Maria Quitéria e Joana Angélica representam a mulher baiana, por suas importâncias na Independência da Bahia e na consolidação da Independência do Brasil.

Quando, vivia em Salvador, não perdia o desfile em comemoração ao 2 de Julho, cujo trajeto se iniciava no Largo da Lapinha, onde está a imagem do Caboclo, símbolo da Independência da Bahia. Seu final é a Praça do Campo Grande, onde se localiza o Teatro Castro Alves, também, local de grandes manifestações e festas populares. Porém, o que mais me impressionava naquele desfile era: negras, negros e pessoas simples carregando aquelas bandeiras/estandartes, ovacionando a Independência da BAHIA, em o 2 de Julho de 1823, data da consolidação da independência do Brasil.

O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, Palácio Rio Branco, Salvador, Bahia. (Reprodução)

Ficava olhando a postura daquelas pessoas, via em tudo e todos aura e áurea de patriotismo, de sentimento vitorioso, de otimismo e de uma rebeldia contida. Por que negras e negros, ali, naquele desfile? Elas, eles? Tanto na Independência da Bahia ou do Brasil, chegando à Proclamação da República, o negro foi jogado às favas, desprezados pelo poder político, à própria sorte e sem perspectiva de uma vida melhor.

As desigualdades socioeconômicas, as injustiças persistem e a liberdade dos negros ainda não aconteceu, apesar de sua importância, com a presença nos momentos históricos da nação e de suma relevância. Porém, esses segmentos de nossa população, em todo tempo, são desconhecidos e nunca recompensados. Assim, esse meu comentário sobre a perversidade das desigualdades pode ser visto a olhos nus na desigualdade e na injustiça verificadas. É nesse segmento, ora apontado, onde as maiores injustiças são praticadas.

Forte São Marcelo, Salvador – Bahia

Vê-se, assim, por exemplo, no Sistema carcerário, nas filas de desempregados, nos índices de salários mais baixos, nos índices de crianças fora da escola ou na evasão escolar, nas marquises dos que dormem nas ruas de nossas cidades, nos boias frias, nos índices de homicídios, onde morrem mais pardos, negros e favelados, aí descortina-se a verdade de um país injusto com seus filhos, que ajudaram a construi-lo.

Dia 2 de julho de 1823 marcou definitivamente o fim da dominação portuguesa no Brasil. (Reprodução)

Então, nas minhas meditações sobre 2 de Julho, chego à conclusão de que, o andar de cima, onde os vitoriosos vivem, estes não possuem vontade política para a inclusão dos marginalizados do processo econômico. A visão desse universo de miséria mostra o melhor lugar para esconderem-se por trás das cortinas, como ocorre. Há 4 anos, fiz um artigo sobre 2 de Julho e descobri nas pesquisas e reflexões, a importância de segmentos da população baiana, a mulher de modo geral, as religiões de matriz africana, os negros e negras.

Entre outras mulheres valorosas nas lutas políticas da Independência, Maria Quitéria, Joana Angélica, do 2 de Julho, encontrei uma figura ímpar que me chamou à atenção: Maria Felipa de Oliveira. Ela era uma mulher, politicamente, engajada, marisqueira e, de elevada consciência social, nascida em Itaparica, a terra do imortal, meu amigo, o saudoso João Ubaldo Ribeiro. Maria Felipa liderava dezenas de brasileiras, baianas, que atraiam os portugueses para a praia e davam neles surras de cansanção.

Encourados do Pedrão, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. (Oséas Santos)

Assim, vejo que, temos de conquistar nossa independência e, sem libertar o negro, o pobre e o favelado, eliminar heranças dos 350 de escravidão, as injustiças ao pobre, ao trabalhador, afastando mentirosos políticos, impostores ou protofascistas, do poder político desse país, nossa independência continuará inexistindo.

Viva 2 de julho, um grito de verdadeiros brasileiros e brasileiras, à espera de que tenhamos, um dia, a efetividade de uma nação justa e, politicamente, soberana!

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.