Por Amirah Sharif

Semana passada, combinamos de falar sobre “My Octopus Teacher” ou “Professor Polvo”. É um documentário original da Netflix, dirigido pelos diretores James Reed e Pippa Ehrlich, que traz uma história única entre um polvo e um ser humano. Opa! Então, é assunto para comentarmos aqui.

Era uma vez um polvo fêmea e um ser humano mergulhador e cineasta, cujo nome é Craig Foster. Ele não estava feliz, tinha perdido o gosto por quase tudo nessa vida, quando resolveu praticar mergulho nas florestas submarinas da Cidade do Cabo, África do Sul. Desse encontro, nasceu uma amizade inusitada, encantadora, emocionante.

Encontro inesperado

Um dia, o mergulhador se depara com um estranho amontoado de conchas no fundo do mar e aquilo que ele via era um polvo coberto por uma armadura feita para se proteger dos predadores. Voltou no dia seguinte e encontrou a casa do polvo, que, na verdade, é um polvo fêmea. Por isso, lanço uma pergunta: por que o título do filme não é “Professora Polvo”?

Lula Lelé (Reprodução)

Lembrei de um desenho de Hanna Barbera: a Lula Lelé, que na verdade não era lula e sim um polvo. Mas, foi só uma ligeira lembrança. Voltemos ao documentário, vencedor do Oscar em 2021.

O que é um polvo?

Vamos simplificar a descrição do polvo: um molusco de corpo mole, que não possui esqueleto, que carrega quase todo o seu cérebro nos braços, melhor dizendo, nos tentáculos. Será que nós, seres humanos, iríamos algum dia pensar que aprenderíamos algo com um polvo, uma criatura tão diferente de nós? Pois é. A partir da experiência de Craig Foster, podemos aprender muito, daí o título do documentário, que só ouso criticar o título.

“My Octopus Teacher”. (Divulgação)

Nós, seres humanos, adoramos antropomorfizar nossos pets e eu me incluo: colocamos roupinha, sapatinhos, casaquinho, lhes fazemos caminha com travesseiro e cobertor, enfim, damos forma ou características humanas a algo que não é humano. Confesso que até antropomorfizo minhas imagens de santos católicos, mas acho que os santinhos já se acostumaram com o meu tratamento. Os pets… esses já até aguardam eu lhes fazer a cama e cobri-los antes de dormir, após um “dorme com Deus”.

Gentileza gera gentileza

Uma das lições que aprendemos com esse documentário é que quanto mais entrarmos em contato com a natureza e estivermos próximos dela, mais aprenderemos a ser gentis e respeitar as diferenças. Afinal, fazemos parte desse mundo e não somos mero visitantes. Aliás, é emocionante ver o polvo fêmea estender um tentáculo tímido até o dedo de Foster. Naquele momento, acredito que o mergulhador tenha entendido seu lugar no mundo e sua reconexão com ele. O toque dessa criatura exótica, que se alimenta de lagosta, balança tentáculos para brincar com um cardume de peixinhos e o abraço intenso e sincero a um mergulhador estranho, tudo isso balançou corações do outro lado da telinha.

Certamente que sim.

Certa vez, o genial Albert Einstein disse que “há uma intenção no Universo”. Verdade. Nada é por acaso. E não foi por acaso que o polvo fêmea nos concedeu presenciar todas as etapas e dramas de sua vida e Craig conseguiu captar de forma surpreendente seus hábitos: a caça, as estratégias para capturar seus alimentos evitando predadores, nos mostrando que o polvo é um ser vivente, inteligente, com sentimentos. À medida que assistimos o documentário, constatamos que é necessário proteger o que precisa ser protegido e que é uma vergonha haver animais em extinção, única e exclusivamente por nossa falta de diligência com o planeta.

O espectador

Vou precisar dar um pequeno “spoiler”, porque há um momento no documentário, em que o polvo fêmea (Foster não lhe deu um nome) é atacado por um tubarão, perde um tentáculo e Craig Foster apenas filma, não interfere, porque talvez tenha tido razões para isso. Foi um mero espectador de mais um dia dos 300 documentados pelo cineasta mergulhador. E é aí que eu, modestamente, me posiciono. O fato de Craig Foster ter sido um mero espectador da batalha entre o polvo e seu predador e de não ter feito nada para ajudar o molusco, me entristeceu profundamente. Eu teria clamado por Poseidon ou por Netuno para acudirem minha amiga. Mas aí há uma diferença.

Eu já tenho a certeza da minha missão aqui na Terra: a de proteger e defender os animais.

Amor incondicional

Para quem pensava que o melhor amigo do homem é o cachorro, se surpreendeu quando assistiu “ Professor Polvo”. Após o sucesso do documentário, Foster criou o “Sea Change Project”, que ajuda a proteger o ecossistema das florestas submarinas da África do Sul.

O documentário é simplesmente surreal, ou como dizem os jovens, é “irado”! Uma excelente dica para quem não assistiu. Em tempos de pandemia, mais uma lição: há muitos mundos no nosso mundo. Basta querermos mergulhar neles. Portanto, enquanto há vida, vamos viver a vida!!!


AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br