Redação

Tudo indica que o governo apostou na imunidade de rebanho, disse à Reuters o relator da CPI da Covid do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), ao afirmar que o presidente Jair Bolsonaro nunca quis comprar vacinas e ainda estimula aglomerações, tendo inclusive adotado uma postura reincidente em determinadas condutas.

“O presidente primeiro negou a doença, chamou de gripezinha, depois ele foi contra o isolamento, o lockdown, depois minimizou o uso da máscara e estimulou uma aglomeração. Por que isso? Porque a imunização de rebanho, a imunização natural, ela pressupõe que o vírus se propague, então você tem que promover aglomerações, essa propagação do vírus, para que, pelo contágio de parcela considerável da população, você possa consequentemente imunizá-la”, acrescentou.

NUNCA QUIS VACINA – “Por isso ele (Bolsonaro) nunca quis vacina… falou que estava sentado (em cima) do cheque de 20 bilhões de reais dado pelo Congresso Nacional e que não compraria vacina nenhuma, nenhuma e quem mandava era ele. Agiu dessa forma em relação à Pfizer”, reforçou.

Em entrevista exclusiva, Renan disse que, por essa razão, o governo advogou pelo tratamento precoce com cloroquina e ivermectina, gastando inclusive recursos públicos. “Não há como dar outro nome a isso, a essas constatações, a não ser como imunidade de rebanho”, ressaltou.

O relator afirmou que, no momento, não há como se responsabilizar criminalmente o presidente Jair Bolsonaro por eventuais erros no enfrentamento da pandemia no país.

FALTAM ELEMENTOS – “Até agora não há (elementos para responsabilizar o presidente), apesar das evidências das provas de tudo o que está comprovado e tudo que foi postado, que foi publicado em Diário Oficial, dito, repetido. Ainda ontem (quinta) presidente repetiu algumas coisas que fizera lá atrás e pelas quais está sendo investigado”, disse.

Entretanto, Renan ressalvou que a CPI está apenas começando, tendo acesso a informações e provas, dando o direito ao contraditório.

Destacou que, embora avalie que não há dúvidas sobre a atuação do presidente, é óbvio que elas precisam ser provadas “em todas as suas etapas”. E avaliou que a comissão vai fazer um relatório conclusivo do tamanho que a sociedade brasileira espera dele.

EFEITOS DA PROVA – “A CPI tem buscado documentos, atos publicados no Diário Oficial, também declarações, também ordens que foram dadas, tudo isso vai ter o seu valor para efeitos da prova.

“Mas nós vamos investigar seja em qual direção for e vamos juntar tudo o que for necessário para que, se houver necessidade da responsabilização, que ela aconteça com muito critério, com muito rigor”, destacou. Segundo ele, a CPI apura se houve o cometimento de crime sanitário e crime contra a vida.

Para o relator da CPI, o objetivo principal da investigação é agilizar o calendário de investigação, com a correção de erros e omissões praticadas e avançando na imunização.

BOLSONARO REINCIDE – “Qual o problema maior do governo? É que o presidente da República reincide todos os dias”, disse Renan, ao considerar que isso minimiza o papel de cada um, citando os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, defensores de medidas de isolamento social.

Por outro lado, Renan disse que já está “absolutamente clara” a responsabilização penal do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Em tom de ironia, disse que seriam necessárias 20 acareações para contrapor às declarações de Pazuello, o que seria improdutivo. Renan minimiza a necessidade de reconvocá-lo. O senador não descarta, no entanto, que Pazuello possa ser chamado para explicar informações a partir do desdobramento de outros depoimentos.


Fonte: Portal Terra