Por Amirah Sharif –
Ontem, 21 de maio, foi meu aniversário e hoje é o Dia do Abraço.
Ano passado, não recebi nenhum abraço de humanos. Neste ano, também não. Encomendei o kit festa da vizinha e cantei parabéns para mim, agradecendo a Deus por mais um ano de Vida!!
Não permito que meus filhos de quatro patas cheguem à mesa, porque certamente vão querer mordiscar e comer o que não devem: frituras, doces, chocolate. Temos que ter consciência de que pertencemos a raças diferentes: a deles é a canina, a felina e a nossa, a humana. Mas, atenção, porque, às vezes, alguns confundem raça com cor de pele, o que é bem distinto. A raça é a humana e a cor de pele, amarela, azul, branca, vermelha, preta, marrom.
Nossa alimentação é diferente dos peludinhos. Então, sempre que pudermos, é bom não deixá-los sair da “dieta”, mesmo sendo só uma vez ao ano.
Chico Xavier e o abraço do cão
Mas, como em toda regra há exceção, vou lhes contar um fato que aconteceu com o iluminado Chico Xavier.
Certa vez, por volta de umas duas horas da manhã, Chico Xavier andava em uma rua escura de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, quando ouviu um barulho ensurdecedor de correntes. Ele se perguntava sobre aquele som, pois não seria de um irmão desencarnado. Se fosse, não haveria um barulho tão real. Indagava a Deus sobre o que iria enfrentar naquela rua escura. Continuou caminhando, preocupado, até que, ao dobrar a esquina, viu um enorme cão da raça dinamarquês correndo em sua direção. Chico parou e o cão colocou as patas sobre seus ombros, como se dissesse: “Espere um pouco! Estou precisando de ajuda!” E começaram a dialogar. Sereno, Chico indagou ao cão: “é o senhor que estava por aqui me amedrontando?… Vou lhe pedir licença, porque preciso ir para casa. O cachorro, olhando para aquele homem franzino à sua frente, não arredou pé. Então, o bondoso Chico resolveu fazer um trato com aquela criatura ali parada. Pediu para que o cachorro o acompanhasse até sua casa e, lá, ele lhe daria toda a comida que tivesse. Parece que o cachorro entendeu e, assim, foram andando, lado a lado.
Era costume, quando Chico Xavier chegava em casa, depois de uma longa jornada no Centro Espírita Luiz Gonzaga, sua irmã Luiza se levantar para lhe fazer um café quentinho. Então, preocupado com a irmã, ao chegar, gritou para ela não sair do quarto, pois estava com uma visita. Luiza estranhou, mas seguiu o conselho do irmão e não saiu dos aposentos.
Naquela época, quem não tinha geladeira, armazenava os alimentos em bacias. Assim, Chico pegou tudo o que tinha, conforme o prometido, para alimentar o faminto cachorro dinamarquês. Parecia que o cão não se alimentava há dias. Quando a visita terminou de comer a carne, Chico ainda abriu duas latas de sardinha e lhe deu, em agradecimento, pela companhia pacífica. O cachorro foi embora e, então, Luiza saiu do quarto e soube do acontecido. Ficou perplexa ao saber que o irmão havia oferecido toda a carne que tinham para o animalzinho faminto.
“Luiza, eu tinha que cumprir a promessa que fiz a ele”, disse o respeitável Chico Xavier à irmã, e prosseguiu: “o cão me deixou seguir o caminho em paz e eu lhe dei a carne”.
Nesse caso, era o que se tinha a fazer. Havia um cão faminto sem se alimentar há dias, preso a correntes e um humano de boa-vontade. Não iremos impor cardápios “politicamente” corretos.
Animais de rua
Por outro lado, é oportuno perguntar: quantos de nós passamos por animais de rua e sequer os olhamos? Quantos de nós, com pressa ou medo, vemos moradores de rua com seus bichinhos a tiracolo e sequer queremos saber como estão conseguindo sobreviver nesse tempo de pandemia ou em qualquer tempo? Quantos de nós olhamos no olho dessas criaturas humanas e não humanas e lhes perguntamos se precisam de algo? E quantos de nós faríamos uma promessa a um não humano e lhe daria toda a comida que tivéssemos? Por que não percebemos que um animal também sente fome? Por que passamos a responsabilidade para o outro, para um protetor ou para o poder público? Por quê?
Dia do Abraço
Recebo diariamente muitos abraços e “lambeijos” de meus filhos não humanos. Para eles, todo dia é dia do abraço e festa. Para eles, não há pandemia, tampouco isolamento social.
Ontem, mais uma vez, evitei lhes dar coxinha, brigadeiro, bolo de chocolate. Mas, para alguns moradores de rua que conheço e que têm filhos de quatro patas, resolvi dividir os salgados, docinhos, tudo! Providenciei uma boa ração para os patudinhos, mas imagino que também saborearam os quitutes. Inevitável!
Tenho certeza de que aquela carne e as sardinhas que o humano Chico deu ao cãozinho fizeram um bem enorme a ambos. Se hoje, dia do abraço, não podemos abraçar parentes e amigos por conta do isolamento social, sugiro abraçar uma causa. Particularmente, optei pelo abraço à causa animal.
Presente de aniversário
Quando se é criança, a gente quer é ganhar brinquedos, apesar de haver sempre um parente que leva um par de meias ou uma peça de vestuário como “lembrancinha” pelo aniversário, e ainda temos que agradecer como prova de bons modos. Nas minhas conversas com Deus, eu pedia pra me enviar um(a) amigo(a) como são Erasmo e Roberto Carlos, um “amigo de fé, um irmão camarada”!
Percebam o que Erasmo disse ao amigo num show do Roberto, em 2009, no Maracanã: “Dizem que o homem é o que ele faz, mas, você, para mim, é o que é: o meu amigo, um guerreiro, iluminado, cheio de fé e esperança, que põe nos corações humanos a força do amor maior, por um mundo melhor. Você, outro dia disse, em uma canção, que queria ter um milhão de amigos, mas não imaginou que hoje, esses amigos são dezenas e dezenas de milhões espalhados por esse Brasil maravilhoso, muito bem representado por um Maracanã lotado de gente que te ama. É um privilégio ser merecedor da sua amizade e queria te dizer que, nas próximas encarnações, se você deixar, eu quero, de novo, ser seu compadre, seu parceiro e seu amigo. Valeu, bicho!”
Vi várias vezes esse vídeo que mostra a emoção de ambos com aquelas belas palavras e segui desejando ter um amigo(a) assim. Sou muito amiga dos amigos. É fato. Mas, enfim, a esperança é a última que morre. Um dia, terei, pensava.
Ano passado, na pandemia, quando me vi comemorando o aniversário “apenas” com os patudinhos, caiu a ficha! Desde o primeiro resgate a um cãozinho de rua, Deus estava me presenteando com “o” amigo de “tantos caminhos e tantas jornadas”. Ele estava me dando um presente de aniversário para a vida toda. Todos esses bichinhos me retribuem com muito afeto, carinho e amor. Eles me dão mais até do que mereço.
Assim, hoje, no Dia do Abraço, conclamo a todos os leitores para abraçarem uma causa. E que tal a causa animal? Vamos protegê-los, vamos defendê-los, vamos acolhê-los! Bora fazer a diferença!
Feliz Dia do Abraço a todos os Erasmos e Robertos, amigos de fé e irmãos camaradas! Feliz dia para todos os tutores e protetores de animais, que têm, a todo momento, “o sorriso e abraço festivo a cada chegada”.
Finalmente, feliz Dia do Abraço a todos os leitores, com os votos de uma consciente caminhada!
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br
Vídeo e Imagens: arquivo Google
MAZOLA
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