Redação

A participação de Jair Bolsonaro no programa “Alerta Nacional”, de Sikêra Jr. em Manaus, na semana passada, foi marcada não apenas pela foto do presidente segurando uma placa de “CPF Cancelado” nos bastidores, mas também por outras declarações inapropriadas, essas, ao vivo.

Avesso à imprensa, Bolsonaro conversou animadamente com o apresentador da TV A Crítica durante 40 minutos e interagiu com a equipe do programa fazendo piadas.

Durante o compromisso, que não constava em sua agenda oficial, mas que contou com uma comitiva de ministros e assessores, Bolsonaro falou sobre a sanção ao orçamento e como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) “dificultava” sua vida e que agora as reformas tendem a caminhar.

No final da tarde de sábado (24), Arthur Lira (PP-AL) disse que o texto inicial da reforma tributária será apresentado no dia 3 de maio. Pelas redes sociais, Maia parabenizou a iniciativa do atual presidente da Câmara e disse que “o país não pode ser prisioneiro da incompetência do Executivo.”

Ainda na entrevista, Bolsonaro comentou rapidamente sobre sua participação na Cúpula do Clima, sendo interrompido pelo apresentador para que respondesse sobre a retomada da economia no pós-pandemia.

O presidente voltou a dizer que para recuperar é preciso “parar de fechar tudo” e que a “máscara incomoda todo mundo”, contrariando medidas sanitárias recomendadas pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que acompanhava o presidente na visita a Manaus. Bolsonaro disse ainda que “rapidamente” o país vai atingir a imunidade de rebanho, mas que ainda assim, “não justifica o lockdown”.

O pesquisador José Luiz Proença Módena, um dos autores de um estudo sobre a variante de Manaus repercutido pelos principais veículos nacionais e internacionais, como New York Times, Financial Times e Le Monde, defende que medidas restritivas, como lockdown imediato em todo o país e vacinação em massa são a melhor saída para o combate ao vírus.

Em referência velada ao Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro foi questionado sobre “bater na mesa” e tomar providências porque “estão” indo longe demais.

“Existe o artigo 142 [da Constituição] ele é pela manutenção da Lei e da Ordem, não é para a gente intervir. O que eu me preparo? Não vou entrar em detalhes, mas para o caos no Brasil. Essa política de lockdown, quarentena, fica em casa, toque de recolher, isso é um absurdo. Se tivermos problemas, nós temos um plano de como entrar em campo. Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas, o nosso Exército, se precisar, iremos para as ruas, não para manter o povo dentro de casa, mas para restabelecer todo o artigo quinto da Constituição. E se eu decretar isso, vai ser cumprido”, ameaçou.

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já se posicionou em outras ocasiões contestando a interpretação de que o artigo 142 abre espaço para as Forças Armadas intervirem para restabelecer a ordem no Brasil. Segundo a OAB, não cabe a elas atuação como Poder Moderador.

Membros da cúpula militar ouvidos pela Folha de S. Paulo ontem, afirmaram que Bolsonaro confunde conceitos e usa sua posição de comandante-em-chefe da Forças Armadas de forma política, para pressionar adversários.

Piadas

Ainda durante sua participação no Alerta Especial, o Chefe de Estado tirou sarro do corte de cabelo do garçom do programa, questionando sua orientação sexual sob risos do apresentador e de seus colegas. “Queima ou não queima?”, perguntou o presidente. “Com aquele rabinho, olha o rabinho dele”, comentou. Na sequência, fez referência ao tamanho do órgão sexual de um cinegrafista por ter o apelido de Samurai: “E aí, tudo pequenininho aí?”, disse fazendo um gesto com a mão.

O presidente ainda interagiu com um homem fantasiado de jumento enquanto fazia alusão ao ex-presidente Lula. A cena foi narrada por Sikêra Jr., que disse ser essa a manchete do UOL e da Folha de S. Paulo no dia seguinte. “Companheiro, companheiro, 2022 ‘tamo junto’ ai”, disse o presidente.

Ao cinegrafista apelidado de Pablo Escobar, Bolsonaro disse que ele parecia um membro do partido “PLua”, fazendo referência ao Psol. “É por isso que sou contra a legalização das drogas”, divertiu-se Sikêra. “Isso aqui está parecendo uma arca de Noé, tem tudo quanto é tipo de bicho aí”, rebateu o presidente. “Estou dando uma descontraída aqui porque pelo amor de Deus, não queira a minha cadeira, é pelo seu bem”, disse o presidente ao apresentador.

Antes de encerrar a entrevista, Sikêra Jr. questionou Bolsonaro sobre para quem ele daria um cartão de CPF Cancelado. A gíria “CPF Cancelado” geralmente é usada em contexto de policiais e grupos de extermínio, quando alguém é assassinado por outro membro ou facção.

Bolsonaro respondeu: “O que eu falar aqui vai dar problema. Para o lockdown, tá ok?”, disse. Nos bastidores, o presidente tirou uma foto junto com ministros e o apresentador segurando a placa. Parlamentares de oposição criticaram a imagem por entenderem a atitude desrespeitosa por conta da pandemia.

Bolsonaro encerrou sua participação no programa elogiando seus ministros e dizendo que eles estão fazendo “de tudo para que o Brasil volte à normalidade”. “Logo vamos voltar a ser o que éramos no final de 2019”, finalizou.

O presidente foi a Manaus para uma reunião com líderes evangélicos e para participar da cerimônia de inauguração do Pavilhão de Feiras e Exposições do Centro de Convenções do Amazonas.


Fonte: Congresso em Foco