Redação

O ex-presidente Lula (PT) vai viajar o país para tentar se apresentar como uma alternativa a Jair Bolsonaro. A ideia, segundo a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, é que o partido espere o petista receber a vacina contra a covid-19 e depois disso percorra o Brasil. Gleisi e Fernando Haddad, candidato presidencial petista em 2018, também vão compor a comitiva.

A dirigente partidária afirmou que a programação de reuniões e visitas a estados ainda não está definida e vai começar a ser desenhada a partir da próxima segunda-feira (15). Gleisi declarou que a prioridade é conversar com os partidos de esquerda, mas disse que também estão no radar diálogos com partidos de centro e centro-direita, como MDB e PSD.

“Vamos primeiro fazer diálogo com os partidos do campo da esquerda, centro-esquerda, começar a marcar as agendas para fazer isso, já tenho feito, vamos fazer junto com o presidente. Depois a gente vai avaliar em relação às outras forças, observar o posicionamento político porque para fazer conversa tem que ser em cima de questões práticas, uma pauta mínima, não é conversar por conversar, a pauta que o presidente fez ontem, do SUS, da renda, geração de emprego, para salvar o povo da crise que está acontecendo, mas não marcamos nada ainda”, afirmou a presidente do PT ao Congresso em Foco.

Lula voltou ao cenário político nesta semana após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de anular as condenações dele na Lava Jato no Paraná. A anulação permitiu ao petista a possibilidade de ser candidato em 2022, algo que antes estava barrado por conta da Lei da Ficha Limpa.

“Queremos que Lula vá viajar também. Estamos só esperando ele tomar a vacina, ele vai tomar a primeira dose na semana que vem, acho que na segunda, depois tem os dias para a segunda dose e assim que tivermos a autorização do médico dele queremos fazer a viagem. Sem prejuízo das viagens com Haddad, que vamos continuar. Vamos fazer essas conversas para viajar o Brasil, conversar com lideranças, não só da política, sociais, artísticas, conversar com todos aqueles que estejam na posição de enfrentar a desconstrução do Estado brasileiro, enfrentar o Bolsonaro”, explicou a dirigente partidária.

A eleição para presidente da Câmara em fevereiro permitiu uma reaproximação do PT com partidos fora da esquerda. Os petistas resolveram apoiar Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da legenda, contra Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro que venceu e hoje coordena a Casa Legislativa. PT e MDB estavam totalmente rompidos desde 2016, quando Dilma Rousseff (PT) foi afastada da Presidência da República em um processo que teve como protagonistas o seu vice Michel Temer (MDB) e o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).

“Com o Baleia a gente tem falado sempre, até pela relação construída em razão da chapa, a gente tem conversado com ele, conversado sobre legislação eleitoral, projetos, mas nada sobre projeto maior, de eleição, isso aí, não temos conversado”, afirmou Gleisi.

A presidente do PT admite que Lula deve procurar integrantes do MDB que são próximos a ele como o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR). “De conversar com esses setores tem o Requião, o Renan, algumas personalidades do MDB que têm maior proximidade na relação política. Vamos procurar conversar também”.

Renan Calheiros elogiou o discurso que Lula fez nessa quarta-feira (10) em São Bernardo do Campo (SP) e relatou que conversou nesta quinta-feira (11) com o ex-presidente por telefone. “Ele hoje ligou para mim, nós combinamos uma conversa quando ele vacinar e eu vacinar também”.

“O Lula fez ontem um pronunciamento competente, contactou o centro, desfez as ameaças ao mercado e permitiu uma comparação impossível, que é com Bolsonaro. Acho que ele foi muito bem”, afirmou o ex-presidente do Senado ao Congresso em Foco.

No entanto, o alagoano prega cautela e afirma que é cedo para avaliar uma posição sobre 2022. “Eu acho que tem que aguardar um pouco, deixar essas coisas decantarem, o MDB é um partido grande, complexo, plural, é preciso ter muita calma.”

No final de fevereiro, a presidente da PT e Haddad foram a Minas Gerais. Uma das agendas foi uma reunião com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD.

“Não foi uma conversa sobre questão eleitoral, foi uma conversa sobre o momento político do Brasil, a gente entregou para ele nosso projeto de reconstrução e transformação do Brasil, falamos sobre esse momento crítico, a necessidade de todos aqueles que têm críticas com Bolsonaro estarem juntos para fazer um enfrentamento e garantir que a gente possa ter saídas para a crise, os prefeitos, governadores, foi nesse sentido”, declarou a paranaense.

Apesar da busca pela aliança com partidos distantes ideologicamente, a petista reconhece que uma aproximação com PSD é difícil e lembra que o partido apoia Jair Bolsonaro na Câmara. “O PSD hoje está na base de apoio de Bolsonaro. Não vamos nos recusar a conversar com ninguém, se o PSD quiser conversar com a gente, não tem problema, vamos conversar, sentar à mesa e ver o que estão pensando, mas nós não procuramos, não marcamos nada ainda.”

A presidente do PT já começou a procurar colegas presidentes de outros partidos de esquerda. Gleisi já conversou com Carlos Siqueira, que coordena nacionalmente o PSB, e deve se reunir nos próximos dias com o presidente do PDT, Carlos Lupi. O PDT é o partido de Ciro Gomes, que quer ser candidato em 2022 e tem feito fortes críticas ao Lula e ao PT. “Com o Lupi fiquei de conversar na semana que vem se ele vier a Brasília, ele não confirmou ainda”, disse Gleisi.

“Eu conversei com Siqueira na semana passada, foi uma boa conversa, mas também avaliamos que entrar agora nessa questão eleitoral, definição de nomes, é muito ruim. O que a gente tem que fazer com esses partidos é discutir um projeto que unifique para colocar como alternativa ao que está aí. Achamos que uma mesa tem que ser nesse sentido. Estamos construindo essa possibilidade”.


Fonte: Congresso em Foco