Por Paulo Metri –
Quem escolhe nossos heróis? Quais os critérios usados para julgar um candidato a herói? Por que o povo não pode participar da escolha de seus heróis? Para que serve a existência de heróis?
Os definidores dos heróis e das heroínas buscam dar à sociedade os exemplos de cidadãos e cidadãs que são valorizados e, portanto, devem ser seguidos. E quem são estes definidores? Certamente, são membros da elite política conservadora, da elite econômica e intelectuais de direita, enfim, grupos pouco identificados com o povo.
Os heróis e as heroínas assim escolhidos podem fazer parte de um processo de dominação do nosso povo. Mas, de qualquer forma, não estou pregando a eleição direta para eles, senão um jogador de futebol com grande habilidade para este esporte e pensamento político desastroso poderia ser o escolhido. Prego uma maior participação, nestas escolhas, de entidades e personalidades socialmente comprometidas.
Este aprisionamento do processo de escolha dos heróis nacionais pelo conservadorismo é idêntico ao da escolha dos vilões nacionais. Após estas escolhas serem feitas, elas são disseminadas e amplificadas pela mídia comercial, que pertence ao mesmo grupo de direita do país, servindo como fator de convencimento preponderante do pensamento nacional. Assim, tenho dúvida se heróis nacionais estão sendo injustiçados, em perseguições udenistas a supostas corrupções de adversários políticos, quando seus próprios corruptos são protegidos.
Getúlio Vargas foi a maior vitima da sanha udenista, que o levou ao suicídio.
A versão do desvio de recursos públicos pelo almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva lembra as acusações udenistas. Ele tinha sido o coordenador de um grupo de técnicos altamente capacitados que conseguiram sucesso no desenvolvimento de uma tecnologia de ponta, a ultracentrifugação de urânio, não disponível para compra no mercado internacional e imprescindível para o projeto do submarino de propulsão nuclear. E, sem este tipo de submarino, a defesa da nossa zona econômica exclusiva não seria eficiente.
Não li os autos do processo e não busquei entendê-lo. Só acompanhei pela imprensa com a desconfiança que este veículo sempre acarreta. Contudo, sentia-me insatisfeito apesar de toda explicação e depoimentos de felizes delatores. Não encontrava nexo na historia oficial. Senão, vejamos.
Um jovem militar é chamado por sua chefia hierárquica para ir a uma das melhores universidades dos Estados Unidos da área tecnológica, o MIT, para fazer o mestrado e o doutorado com o objetivo de, ao voltar, desenvolver no Brasil para a Marinha a tecnologia da ultracentrifugação, que só um número de países contados nos dedos das mãos possuía.
Retornando ao Brasil, com o auxilio da Marinha e da Universidade de São Paulo, enfrentando o boicote do fornecimento de suprimentos indispensáveis, atuando no mercado negro para o Brasil poder ter a tecnologia (não se presta conta formal ao se participar de mercado negro), vigiado pela CIA, segundo a Wikipédia, e sabem-se lá quantos outros órgãos de inteligência, o almirante Othon dedicou-se à sua missão, teve êxito e não ficou milionário.
O assessoramento a possíveis países que gostariam muito de ter esta tecnologia para produzir bombas atômicas, o que seria uma insanidade, apesar de muito lucrativo, ele não o fez. Mas, o assessoramento, à época, a empresas de produção de ultracentrífugas para consumo próprio seria muito atrativo. Ele continuou como funcionário do Estado brasileiro.
Desculpem, mas não faz nexo, ele está mais para herói do que para vilão. Ainda mais agora que foi inaugurada a temporada de juízes não justos.
PAULO METRI – Engenheiro, conselheiro do Clube de Engenharia, vice-presidente do CREA-RJ, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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