Por Miranda Sá –
“Os aduladores são a pior espécie de inimigos” (Tácito)
Encontramos nos dicionários de nordestinês do cearense Tomé Cabral e do paraibano Horácio de Almeida o termo “Adulão” designando o adulador. É usado como um desprezo ao agente da subserviência, que a altivez popular do Nordeste condena.
O verbete Adulador é dicionarizado como adjetivo, o que bajula, o lisonjeador; e também como substantivo masculino para o Indivíduo que adula; quem faz elogios em excesso. A etimologia é latina, “adulator,oris”, aquele que adula.
Esta fauna é encontrada em todos ramos da atividade humana e se multiplica com filhotes tal e qual ratazanas de esgoto, que pare doze ou mais cada vez…. Surgem na escola, no emprego, nas forças armadas e nas repartições dos governos; e até de onde não se espera, no exercício profissional…
Aprendi com a minha mãe que o bajulador é um ser desprezível e meu pai dizia que a gente fica mais confiante e mais forte com as críticas. Estas lições me fazem incomodar muita gente com a verdade, do que agradar com bajulações.
Por isso, recebo críticas sobre o que escrevo defendendo a vida contra o negacionismo obscurantista, filho da ignorância e da politicagem. Faço-o permanentemente comentando, denunciando e perfilando os cúmplices conscientes do vírus, ou omissos em contestá-lo.
Como uma realidade funesta, a pandemia do novo coronavírus construiu um sistema mental de revolta, que assumo, contra os que desdenham a ameaça da covid-19 e negam os avanços científicos na busca de combate-la.
Numa comédia de Shakespeare, “Noite de Reis”, um dos personagens rejeitado no seu meio, que comenta – “Os amigos me adulam e me fazem de asno, mas meus inimigos dizem abertamente que o sou; de forma que os amigos me prejudicam e com os inimigos aprendo a me conhecer”.
Como a cena política é um teatro, nós, do auditório, assistimos os personagens principais trocando falsas lisonjas influenciando os coadjuvantes a adulá-los para melhor aproveitar-se deles.
Nada melhor representa isto do que as figuras que cercam o presidente Jair Bolsonaro, a partir dos próprios filhos, que sempre viveram à sua sombra e às suas custas; e se estende aos ministros nomeados do círculo familiar ou figurantes reservistas para mostrar compromisso militar.
Lembram-me a “Verdade de um Revolucionário”, em que o verdadeiro líder de 1964, o general Olímpio Mourão Filho, vê pela lupa da verdade o mundo da bajulação, e observa: “Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta”.
Na crise inegável que atravessamos, os bajuladores não se limitam ao governo, são figurantes secundários que se abraçam ao tronco do poder como parasitas para sugar a sua seiva… Multiplica-se no varejo das redes sociais, legiões de fantoches (o povo os trata como mamulengos) manipulados desde os porões do Palácio do Planalto.
Essas marionetes não regatearam aplausos quando Bolsonaro declarou no ano passado que “a pandemia está no fim e pressa para vacina não se justifica”; e agora deram uma guinada de 180 graus, convertendo o líder negacionista em “Pai da Vacina”…. Quanta hipocrisia!
Por fanatismo ou vantagens pessoais, pouco importa aos aduladores que Chefe, mesmo com presumível formação militar, ignore o grande estrategista Carl von Clausewitz e seu livro “Da Guerra”, ensinando que “quem não colabora, prejudica”; e também desconhece a lição antológica de Napoleão Bonaparte: – “Quem sabe adular também é capaz de caluniar’.
No mundo civil, temos a antiquíssima filosofia hindu ensinando que “as línguas dos aduladores são mais macias do que seda na nossa presença, mas são como punhais na nossa ausência….
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
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Logo abaixo está o artigo de Gregorio Duvidier, que está presente neste site: ( https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2021/01/bolsonaro-era-tao-facil-sair-grande-dessa-pandemia-bastava-nao-ser-voce.shtml ):
“Bolsonaro, era tão fácil sair grande dessa pandemia —bastava não ser você
Tinha uma corrida de cavalos, e você apostou todas as nossas fichas no jumento
19.jan.2021 às 20h31
Bolsonaro, era tão fácil você sair grande dessa pandemia. Não precisava nem trabalhar. Era só confiar na ciência. Só. Era só escutar os cientistas —e não o Olavo de Carvalho.
Tinha uma corrida de cavalos, e você apostou todas as nossas fichas no jumento.
Era tão fácil não deixar morrer tanta gente. Era só seguir as recomendações da OMS. “Ah, mas seria impopular.” Olha pro Kalil em BH, pro Gean em Floripa. Eles são de direita, igual você. Mas fizeram o básico. Escutaram os médicos. E foram reeleitos no primeiro turno.
O eleitor gosta de ter a impressão de que tem alguém no comando. Bastava parecer que você faz alguma ideia do que está fazendo. Mesmo que você não faça a menor ideia. Era só fingir.
Era tão fácil não quebrar o país. O vírus chegou ao Brasil com dois meses de atraso. Você teve tempo de planejar. Era só ter imitado o que já estava dando certo lá fora. Era só copiar. Não estou falando de salvar vidas. Sei que você não se importa com vidas. Estou falando de salvar seu mandato. Jacinda Ardern, na Nova Zelândia, foi reeleita com folga. Era só imitar.
Você escolheu copiar o Trump, a pior gestão da pandemia —até você conseguir superá-lo. Você zoou a China, xingou a Venezuela, não reconheceu o presidente dos Estados Unidos: você conseguiu pôr toda a comunidade internacional contra o seu próprio país, quando a gente mais precisava dela.
Era tão fácil investir na vacina. Não precisava entender de imunologia. Bastava não atrapalhar os institutos de pesquisa, não apostar na hidroxicloroquina —contra todos os cientistas do mundo, menos um (que já se arrependeu). Era tão fácil usar máscara. Era tão fácil pedir que as pessoas usassem. Não precisava nem trabalhar.
Era tão fácil não ser responsável por um genocídio. Seu país tem o SUS —era só confiar nele. Investir nele. Ouvir o que os médicos pediam: pras pessoas ficarem em casa.
Bastava confiar naqueles mesmos médicos que salvaram a sua vida. Naqueles mesmos médicos em quem você confiou na hora em que sua vida corria risco. Eles só queriam salvar vidas, do mesmo jeito que salvaram a sua. Você podia ter salvado a vida deles. Você escolheu incentivar os seguidores a invadir hospital de campanha.
Era tão fácil evitar um genocídio. Bastava nascer de novo, com o coração no lugar.
Bastava escutar. Enxergar. Aprender. Era tão ridiculamente fácil. Bastava não ser você.
Gregorio Duvivier
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. “