Por Vivaldo Barbosa

Leonel Brizola foi um dos melhores homens públicos do país na segunda metade do Século XX e início deste Século. Não só pelos fatos marcantes que gerou ou em que se envolveu, mas, acima de tudo, pelo seu discernimento político, pela compreensão dos problemas do Brasil e sua posição no mundo e pela defesa dos mais humildes e mais sofridos. Até dos adversários recebia este reconhecimento. O General Figueiredo dele disse: “temos divergências, mas ele é um patriota”.

Quando Brizola desapropriou as companhias de energia elétrica, a americana-canadense Bond & Share, e a de telefonia, a poderosa ITT, mostrou ao mundo sua capacidade de colocar as empresas estrangeiras submetidas ao interesse nacional e sua coragem cívica de subjugá-las à nossa soberania. Construiu mais de 6.500 escolas no Rio Grande do Sul, pequenas, e fez reforma agrária, organizou os camponeses no MASTER, antecessor do MST. Tinha identidade, sentimento de pele para com os mais humildes e despossuídos. Isto se revelou patente quando, no Rio de Janeiro, construiu mis de 500 escolas integrais, em terrenos de 10.000m2, para que as crianças tivessem locais de estudos, lazer, esporte, médico, dentista. E comessem três refeições, café da manhã, almoço e jantar. E ali ficassem o dia todo.

Seu discernimento político era algo notável, às vezes não compreendido. Sua firmeza e resistência na defesa dos interesses do nosso povo levavam a campanhas brutais contra ele, na mídia e na intriga política.

Para Brizola, o fim da ditadura e a implantação da democracia só viriam com as eleições diretas. Outra solução seria continuar servindo aos grupos econômicos e aos interesses internacionais, como muitos queriam e conseguiram. Não queria ir ao Colégio Eleitoral. Chegou a propor mais dois anos de mandato para Figueiredo em troca da garantia das eleições diretas em 1986. Criticaram-no. As eleições só vieram em 1989. Tiveram tempo de se preparar para as eleições: fabricaram o Collor como caçador de Marajás.

Criticou o Plano Cruzado como simples arranjo eleitoral. Dizia: “Estão apertando uma mola contra a inflação. Quando tirarem a mão, ela volta”. Nas eleições fizeram ampla maioria para dominar a Constituinte. Mas com a participação popular e resistência de bravos constituintes fizemos uma Constituição mais nossa do que deles. Depois das eleições, acabou-se o plano.

Brizola ficou contra a derrubada do Collor. Para ele a investidura popular era coisa sagrada, que só podiam ser violadas em caso de extrema gravidade. Achava que Collor já estava contido, devíamos aguardar as eleições. Foi massacrado pela mídia e pela classe política. O conservadorismo teve tempo de preparar o Plano Real e de fabricar o Fernando Henrique. Assim, o neoliberalismo pôde ser implantado, tome privatizações, desmonte do Estado nacional, restrições de direitos, o que já não dava mais com o Collor.

Mais tarde, com a Dilma, a investidura popular estava abalada. Com imensa campanha de mídia e alguma gente na rua foi mais fácil dar o golpe. Sem outra solução, o conservadorismo agarrou-se ao Bolsonaro e retoma o neoliberalismo a todo vapor.

Agora, querem tirar o Bolsonaro para se lavarem, pois a incompetência e o primarismo revelados são estorvos, e encontrar solução eleitoral mais conveniente e recompor a unidade deles para as eleições.

Hoje, se estivesse aqui conosco celebrando seus 99 anos, Brizola nos diria: nossa única salvação é o povo nas eleições, pois só a Democracia e a República nos valem, o resto são arranjos. Vamos respeitar a investidura dada pelo povo para que façamos respeitar a investidura que o povo vai nos conferir. Vamos derrotar todos eles juntos nas eleições, dos herdeiros da ditadura aos executores do neoliberalismo, da TV Globo ao Bispo Macedo, da maioria desses políticos ao Bolsonaro. Só assim triunfará nossa soberania e os direitos do nosso povo serão respeitados.

Brizola nos vale muito hoje.


VIVALDO BARBOSA é advogado e professor, exerceu o mandato de deputado federal constituinte em 1988 pelo PDT-RJ.

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