Por Miranda Sá

“O tempo passa e descobrimos que grandes eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!” (Bob Marley)

Findo o segundo ano de governo, fora de realizações pontuais o presidente Jair Bolsonaro atende apenas a duas prioridades: defender os filhos, particularmente o 01, envolvido até o gogó no caso das “rachadinhas”; e a própria reeleição, esquecendo dos acenos eleitorais contrários da campanha eleitoral de 2018.

Este quadro inquieta as pessoas livres do fanatismo político. São muitas críticas dos que votaram nele pelo acolhimento farsante à delinquência filial, intervindo na Polícia Federal, usando a Abin e um grupo particular de arapongagem e, sub-repticiamente, aliando-se ao lulopetismo no combate à Lava Jato.

Também a campanha reeleitoral, a outra obsessão, é desaprovada pelo eleitor do modo populista como é feita, o festival de reinaugurações (até de relógio!), para alegria dos cabos eleitorais, dos jornalistas fuxiqueiros, dos institutos de pesquisa e, principalmente, dos mamadores nas tetas governamentais.

O cenário político expõe a fotografia em grande angular da “direita populista” que persegue o poder pelo poder praticando a pior espécie de eleitoralismo… Pelos conchavos, tenta-se até a volta do lulopetismo corrupto à cena política para ressuscitar o abominável pelego Lula da Silva; uma estratégia oportunista que visa polarizar eleitoralmente a “direita populista” com a “esquerda populista”, ambos combatendo Sérgio Moro, o caçador de corruptos.

Assim, surgiu o “bolsopetismo” uma investida caricatural copiada das jogadas do tucanato de polarização, que ludibriava os desavisados invertendo os princípios éticos da política e patinando na lama da corrupção deixada pelos pelegos lulopetistas.

Pouco importa se isto ameaça a Democracia escondendo que com Lula e o seu “Poste” alastrou-se virulentamente a corrupção na Petrobras, conquistou-se propina para os filhos, ganhando-se o Tríplex e o Sítio, e cometendo crime de lesa Pátria, ao receber dinheiro do ditador líbio Muamar Khadaffi, como foi denunciado por Antônio Palocci.

Diante desses desatinos que chegaram às raias da criminalidade, os brasileiros revoltados apoiaram Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Ledo engano! O “Salvador da Pátria”, não passava de um deputado do “baixo clero” com 28 anos de mandato na Câmara Federal e atravessando 11 partidos diferentes.

Apenas duas correntes o conheciam realmente: os beneficiados pelo “sindicalismo fardado” e os revanchistas militaristas revoltados com a Democracia. Os demais apoiadores que desconheciam o perfil do candidato e as performances dos seus filhos, acreditaram ingenuamente nas promessas eleitorais. E acabaram traumatizados pela decepção.

Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, vê e ouve o Presidente dizer que “o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada…”.  Comentário que está mais para Elba Ramalho falando no mais puro “dilmês”.

A decepção é dolorosa. Como verbete dicionarizado, “Decepção” é um substantivo feminino de origem latina, “Deceptio”, significando ’empulhação, dolo, engano’. Temos também disappoint, do inglês médio vindo do francês antigo desapointer; ambas, no sentido literal, significam “remover do cargo”.

Como já disse alguém (que se perdeu no meu esquecimento), “a decepção não mata, ensina a viver”; é vivendo-a que os brasileiros se revoltam com as bandalhas, as piadas infames e o negacionismo estúpido diante da pandemia.

O desdém pela pandemia que Bolsonaro demonstrou com a fina bossa da ignorância é decepcionante e imperdoável, porque é genocida. As lágrimas derramadas pelos familiares e amigos dos 200 mil mortos exigem a condenação do algoz…

Diógenes de Sinope, também conhecido como Diógenes – O Cínico –, ficou conhecido como o mais folclórico dos filósofos gregos da antiguidade clássica. Andava pelas ruas de Atenas durante o dia com uma lanterna acesa nas mãos procurando a verdade e a honestidade. É dele o excepcional pensamento: “A decepção é filha da expectativa”.

Isto valoriza Bob Marley, nosso epigrafado, pois passados dois anos de decepções, vê-se que os sonhos foram grandes demais e o Presidente é pequeno demais para torná-los reais!


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.