Redação –
Washington Post publicou reportagem.
O jornal New York Post publicou nessa 4ª feira (14.out.2020) uma reportagem em que sugere que o democrata Joe Biden, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e candidato à Presidência, teria influenciado nas relações comerciais de seu filho Hunter Biden com o grupo Burisma. A empresa é uma grande produtora de gás natural, sediada na Ucrânia.
A reportagem do New York Post foi baseada em e-mails supostamente obtidos de 1 laptop que Hunter Biden teria deixado para consertar em uma loja de Delaware, nos EUA, em abril de 2019. O aparelho não foi buscado pelo dono e o conserto nunca foi pago, segundo o jornal. Mais explicações sobre o episódio não foram detalhadas. Também não há informações sobre como o e-mail de Hunter foi acessado e se hackers ajudaram nisso.
Há anos os republicanos tentam associar Joe Biden aos interesses comerciais de seu filho, tendo aberto até uma investigação no Senado. O tema vem rondando a campanha presidencial norte-americana. O atual presidente dos EUA, Donald Trump, faz acusações relacionadas ao caso. O ex-vice-presidente, por sua vez, nega qualquer atuação que teria influenciado os negócios de seu filho.
Em 2019, a Procuradoria Geral da Ucrânia iniciou uma revisão das investigações por corrupção contra o Burisma. Por causa disso, democratas da Câmara dos Deputados dos EUA passaram a investigar se Trump pressionou, por telefone, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky por informações comprometedoras sobre Joe Biden. Para os congressistas, o objetivo do presidente norte-americano seria o de descobrir se o ex-vice-presidente teria pressionado, em 2014, o então presidente da Ucrânia Petro Porosheko a demitir Viktor Shokin, ex-procurador-geral do país.
Trump também foi acusado de ter pedido ao governo ucraniano para reabrir investigações de casos de corrupção da empresa e apurar possíveis ações ilegais de Biden e seu filho.
Mas, em outubro de 2019, o atual procurador-geral do país, Ruslan Riaboshapka, afirmou que os casos reabertos não envolvem o período em que Hunter Biden integrou o conselho de administração do Burisma, de 2014 a 2019. Também afirmou que a reabertura dos casos não foi motivada por pressão política. “Nenhum político estrangeiro ou ucraniano me ligou ou tentou influenciar minhas decisões”, disse.
Um processo de impeachment chegou a ser aberto contra Trump por abuso de poder. O republicano foi absolvido em fevereiro de 2020.
Agora, a reportagem do New York Post é publicada semanas antes da eleição presidencial dos EUA, que será em 3 de novembro. A publicação mostra e-mails que podem embasar ou não a ideia de Biden teria influenciado nos negócios de seu filho, o que o prejudicaria sua campanha à Presidência dos EUA.
O democrata, de acordo com pesquisa WSJ/NBC, divulgada nesta 5ª feira (15.out.2020), está 11 pontos percentuais à frente do republicano na disputa presidencial.
As mensagens, apresentadas sem indicação de que tenham tido sua veracidade comprovada, indicam nova reviravolta no caso. Como a reportagem do New York Post foi questionada, o Facebook e o Twitter decidiram reduzir a visibilidade do conteúdo (veja mais abaixo a justificativa das empresas).
Saiba quais são os aspectos controversos na publicação do jornal, agora detalhados numa reportagem recente do jornal The Washington Post (para assinantes), que pertence a Jeff Bezos, dono da Amazon e simpatizante do democrata:
- Hunter integra o grupo Burisma– em abril de 2014, o filho de Joe Biden tornou-se membro do conselho do Burisma Holdings, importante produtora ucraniana de gás natural. À época, após a mídia apontar conflito de interesse por causa da posição de seu pai, que era responsável pela política dos EUA em relação à Ucrânia, o vice-presidente disse que não havia discutido a questão com o filho antes de ele integrar o grupo ucraniano;
- imposto sobre produção do Burisma – o New York Post diz que em 24 de setembro de 2014, Devon Archer, sócio de Hunter e que também fazia parte do conselho, enviou 1 e-mail informando que o governo da Ucrânia havia apresentado uma proposta ao Parlamento ucraniano que poderia aumentar os impostos sobre a produção do Burisma. Segundo o jornal, o executivo Vadym Pozharskyi disse no e-mail que “iria compartilhar esta informação com a embaixada dos EUA” em Kiev, “bem como com o escritório do Sr. Amos Hochstein nos Estados Unidos”. Na época, Hochstein era o recém-nomeado enviado especial do Departamento de Estado e coordenador para assuntos internacionais de energia;
- escritório nega atuação para barrar legislação – “Sei que ele nunca entrou em contato comigo ou com meu escritório”, disse Hochstein ao The Washington Post. “Forneci todos os registros para a investigação do Senado, e nenhuma menção a esse cara foi feita, nenhum e-mail, nenhuma correspondência. Conheço quase todos os participantes do setor de energia na Ucrânia. Eu nunca conheci esse cara”, disse sobre Vadym Pozharskyi;
- e-mail sugere ligação de Joe Biden – e-mail supostamente de 17 de abril de 2015 sugere que Hunter Biden providenciou para que Vadym Pozharskyi se reunisse com Joe Biden. A mensagem, no entanto, indica o objetivo da reunião e que o encontro ainda seria realizado.
“Caro Hunter, obrigado por me convidar para DC e dar a oportunidade de conhecer seu pai e passar [sic] algum tempo juntos. É uma honra e 1 prazer”, diz Vadym Pozharskyi no e-mail atribuído a ele.
- FBI apreende laptop – o jornal publicou uma foto de uma intimação federal de Delaware que mostra que o computador e o disco rígido foram apreendidos pela agência federal de investigação norte-americana em dezembro de 2019, depois que o dono da loja disse ter alertado os federais sobre sua existência;
- autenticidade do e-mail – o New York Post disse que obteve o material do ex-prefeito de Nova York Rudolph W. Giuliani, advogado pessoal do presidente Trump. Na reportagem, publicou apenas imagens das mensagens em PDF. O The Washington Post pediu acesso aos dados do laptop, mas teve o pedido negado. Na reportagem, para embasar a veracidade, o jornal publicou fotos pessoais de Hunter Biden que supostamente estavam no disco rígido (popularmente chamado de HD) do computador;
- retorno de Hunter Biden – nem a reportagem nem as imagens publicadas dos e-mails indicam que o filho do ex-vice-presidente norte-americano tenha respondido o e-mail do executivo do Burisma;
- e-mail controverso – segundo The Washington Post, outro e-mail, supostamente de 13 de abril de 2014, contradiz a ideia de que Hunter Biden poderia ter usado a influência de seu pai para ajudar seus negócios. Segundo o jornal, a mensagem indica que Hunter Biden discutiu como alavancar sua conexão com seu pai em uma tentativa de aumentar seu salário como integrante do grupo Burisma. Mas na mensagem, o filho do democrata diz: “O que ele [Joe Biden] vai fazer e dizer está fora de nossas mãos”.
- conselheiro de política externa de Biden nega reunião – Andrew Bates, porta-voz da campanha de Joe Biden, disse ao The Washington Post que revisou a agenda de Biden de 2015 e não encontrou nenhum registro de tal reunião. Funcionários que trabalhavam para Biden na época disseram ao The Fact Checker que tal reunião não ocorreu. “Estive com o vice-presidente em todas as suas reuniões na Ucrânia”, disse Michael Carpenter, conselheiro de política externa de Biden em 2015. “Ele nunca se encontrou com esse cara. Na verdade, eu nunca tinha ouvido falar desse cara até que a história do New York Post estourou”, disse sobre Vadym Pozharskyi. “Ele era o vice-presidente dos Estados Unidos. Ele se encontrou com primeiros-ministros”;
- agenda de Biden refuta realização de reunião – a pedido do The Washington Post, 1 assessor de Biden verificou como foi a agenda de Biden no dia 16 de abril de 2015, dia anterior ao suposto encontro que teria ocorrido, segundo o New York Post. O vice-presidente fez comentários na Recepção do Dia da Independência da Grécia na Casa Branca, às 17h, e depois falou com o Congressional Fire Services Institute Gala, às 18h30;
- aperto de mão de Biden e Pozharskyi? – apesar de Michael Carpenter, conselheiro de política externa de Biden, ter negado qualquer encontro do vice-presidente com o executivo, isso não exclui a possibilidade de que Biden tenha apertado a mão e conversado brevemente com Pozharskyi durante 1 evento público. Hunter Biden, por exemplo, ajudou a conseguir que 1 parceiro de negócios em potencial, Jonathan Li, apertasse a mão de seu pai no saguão de 1 hotel em Pequim, quando o vice-presidente fez uma viagem oficial à China;
- compartilhamento de dados com a embaixada dos EUA – o New York Post mostra 1 e-mail em que o executivo do Burisma Vadym Pozharskyi diz que Archer encaminhou a Hunter Biden e-mails com o assunto “aumento de impostos sobre a produção de burisma”, que incluía Pozharskyi dizendo que o gabinete ucraniano havia apresentado nova legislação tributária ao parlamento do país;
- O que diz Hunter Biden – Questionado sobre a veracidade do e-mail, o advogado de Hunter Biden, George Mesires, disse: “Não temos ideia de onde veio isso e certamente não podemos acreditar em nada que Rudy Giuliani forneceu ao NY Post, mas o que eu sei com certeza é que esse suposto encontro nunca aconteceu.”
LIGAÇÃO DE BIDEN COM A UCRÂNIA
Na reportagem, o New York Post repete a informação amplamente usada por Trump na campanha presidencial de que “o velho Biden pressionou funcionários do governo na Ucrânia a despedir 1 promotor que estava investigando a empresa”.
O The Washington Post informa que verificou a informação diversas vezes. Durante o 2º mandato do presidente Barack Obama (2013- 2017), Biden foi responsável pela relação do país norte-americano com a Ucrânia, mantendo contato próximo com o presidente do país, Petro Poroshenko.
Segundo o jornal, a missão de Biden era falar de forma diplomática com Poroshenko para buscar uma solução para a crise na Ucrânia com base em reformas constitucionais. Mas, segundo o The Washington Post, os norte-americanos viram 1 obstáculo para a reforma: Viktor Shokin, o principal promotor ucraniano, que os Estados Unidos consideraram ineficaz na atuação contra os oligarcas corruptos da Ucrânia. Em particular, Shokin havia falhado em investigar o fundador do Burisma, Mykola Zlochevsky.
A embaixada dos EUA em Kiev propôs que Biden, durante sua visita de 2015, usasse uma entrega pendente de US $ 1 bilhão em garantias de empréstimos como alavanca para forçar a reforma. Biden dirigiu-se ao parlamento ucraniano, denunciando o “câncer da corrupção” no país e criticando a promotoria.
Durante essa visita, Biden disse, em particular a Poroshenko, que as garantias de empréstimo seriam retidas, a menos que Shokin fosse substituído. Após repetidas ligações e reuniões entre os 2 ao longo de vários meses, Shokin foi tirado do cargo e as garantias do empréstimo foram fornecidas.
Pavlo Klimkin, ministro das Relações Exteriores ucraniano de 2014 a 29 de agosto de 2019, disse que a demissão de Shokin foi incentivada pelos benfeitores da Ucrânia. “A demanda não veio apenas dos EUA e não apenas de Biden”, disse ele. “Ouvi isso em todas as reuniões com as instituições financeiras internacionais, especialmente o FMI e o Banco Mundial. Não foi apenas Biden. Claramente.”
Colin H. Kahl, o conselheiro de segurança nacional de Biden na época, disse ao The Washington Post que a política dos EUA “sobre corrupção e Shokin na Ucrânia continuou a ficar mais dura em 2015”. “Então toda a teoria do caso [no New York Post] não faz sentido”, disse.
HISTÓRIA EM TORNO DE LAPTOP
De acordo com o New York Post, o FBI supostamente conseguiu obter o disco rígido (HD) do computador no início deste ano. Teria sido entregue por John MacIsaac, que disse ser dono da Wilmington Mac Shop, onde o computador teria sido deixado para conserto.
MacIsaac confirmou a repórteres nessa 4ª feira (14.out.2020) que 1 MacBook foi deixado em sua loja em Wilmington, Delaware (EUA).
Em abril de 2019, MacIsaac afirmou que é legalmente cego, mas que estava quase certo de que Hunter Biden deixou o computador em sua loja. Ele disse que tentou várias vezes entrar em contato com o filho de Biden, sem sucesso. Segundo ele, depois de 90 dias com o equipamento, ficou curioso sobre o conteúdo.
Depois, teria feito uma cópia do disco rígido (HD) e dado ao ex-prefeito de New York Rudy Giuliani, que hoje é o intermediário entre Trump e o grupo ucraniano que lhe forneceu informações contra Biden, e que sustenta uma teoria conspiratória.
No último fim de semana, Giuliani teria dado uma cópia ao New York Post.
Os dados encontrados teriam sido úteis para a investigação do Senado sobre a influência de Biden nos negócios de seu filho –que durou 1 ano– mas não vieram à tona. Por fim, não foram encontradas irregularidades por parte de Biden.
Como Giuliani também procurou localizar informações sobre Hunter Biden e a Ucrânia. Ele teria interagido regularmente com 1 legislador ucraniano. Esse político não identificado foi recentemente apontado pelo Departamento do Tesouro dos EUA como sendo 1 “agente russo ativo por mais de uma década” e que estava envolvido em uma operação de influência para afetar a eleição de 2020.
Essas interações geraram rumores de que os e-mails possam fazer parte de uma campanha de desinformação de Trump.
TWITTER E FACEBOOK BARRAM COMPARTILHAMENTO
Após a veracidade dos e-mails e a reportagem do New York Post ser questionada, o Facebook e o Twitter decidiram reduzir a visibilidade da notícia em suas plataformas.
O Facebook informou na 4ª feira (14.out) que reduziria a visibilidade da matéria em seu algoritmo até que as informações fossem checadas pelas agências parcerias da empresa. Por meio do Twitter, o chefe de comunicação da empresa, Andy Stone, disse que o procedimento é habitual e que a plataforma reduz a visibilidade de informações que carecem de confirmação.
“Embora eu intencionalmente não crie 1 link para o New York Post, quero deixar claro que esta história pode ser verificada pelos parceiros de checagem de fatos terceirizados do Facebook. Enquanto isso, estamos reduzindo sua distribuição em nossa plataforma”, afirmou.
“Isso faz parte do nosso processo padrão para reduzir a disseminação de informações incorretas. Reduzimos temporariamente a distribuição pendente de revisão do verificador de fatos”, disse.
Já o Twitter, horas depois, anunciou que iria bloquear completamente os posts com link para a reportagem até que as informações fossem esclarecidas.
Agora, quando algum usuário tenta publicar a matéria na mídia social, recebe uma mensagem afirmando que o conteúdo é “potencialmente danoso”. Ao clicar nos links já postados, outra advertência também aparece.
Apresentou os seguintes motivos:
- “As imagens contidas nos artigos incluem informações pessoais e privadas – como endereços de e-mail e números de telefone – que violam nossas regras”;
- “Conforme observado esta manhã, atualmente também vemos os materiais incluídos nos artigos como violações de nossa Política de Materiais Hackeados”;
- “Comentários ou discussões sobre materiais hackeados, como artigos que os cobrem, mas não incluem ou incluem links para os próprios materiais, não são uma violação desta política. Nossa política cobre apenas links ou imagens de material hackeado”;
- “A política, estabelecida em 2018, proíbe o uso de nosso serviço para distribuição de conteúdo obtido sem autorização. Não queremos incentivar o hacking, permitindo que o Twitter seja usado como distribuição de materiais possivelmente obtidos ilegalmente”.
“Sabemos que temos mais trabalho a fazer para fornecer clareza em nosso produto quando aplicamos nossas regras dessa maneira. Devemos fornecer clareza e contexto adicionais ao impedir tweeting ou DMing de URLs que violam nossas políticas”, informou.
O Poder360 fez 1 teste de compartilhamento do post, o que não foi possível, e apareceu a mensagem:
Fonte: Poder360
MAZOLA
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