Por Miranda Sá

“A moda sai de moda, o estilo jamais…” (Coco Chanel)

Para varrer para debaixo do tapete o abandono do meio ambiente pelo Governo Bolsonaro e sua carreta carregada de mentiras, assistimos na semana passada a criação de uma nova moda: atacar a Argentina pela volta do kitchernismo, –  a ressurreição do narcopopulismo corrupto naquele país.

Os maestros que dirigem os percussionistas da orquestra bolsopetista se aproveitam da realidade portenha, porque os hermanos, veem continuadamente repetindo os mesmos erros “descamisados”, elegendo os herdeiros bastardos do peronismo.

Mas o refrão orquestrado nas redes sociais não está na partitura do tango argentino; tem apenas o objetivo diversionista, com a maioria dos batedores de tambor tocando “de ouvido”, sem saber o que realmente se passa…

A massa de manobra apenas papagaia o discurso do “novo Itamarati” por puro modismo, ignorando a contradição de bater numa tecla só, fora da agenda traçada dos Estados Unidos dos ataques copiados contra Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, a estratégia eleitoral de Trump, uma manta virtual para a frígida direita populista nos States.

Faz-se dessa maneira a ação de iludir os outros (iludindo-se, também), debitando na conta corrente do jogo de facção, a eliminação do princípio democrático de um governo para todos e não aquele do “nós e eles” transposta dos governos lulopetistas derrotados nas últimas eleições.

Afinal, derrotamos nas urnas a corrupção lulopetista, mas caímos no blefe da convergência dos extremos… Tudo que era feito anteriormente retorna descaradamente; a aliança com os picaretas do Congresso em nome da “governabilidade”, a distribuição de cargos para pessoas suspeitas e a poderosa intervenção jurídico-policial em defesa de “bandidos de estimação”.

Tudo na medida “fashion” dos que acompanham a moda, na presunção do vanguardismo, sem ter aprendido que nada há de novo sob o sol, como reza o ditado popular, nascido das lições do Eclesiastes.

Dicionarizado, o verbete “Moda” é um substantivo feminino, herdado do Latim “modus,i”, que designava para os romanos “jeito, maneira e medida”. No português, é o jeito de se vestir em determinada época, indicando, também, indústria do vestuário sazonal.

O Marquês de Maricá criticava os jovens da sua época por serem “solícitos” na maneira de trajar-se, mas negligenciando no respeito aos idosos… E é dos antigos que aprendemos que a moda nada tem de original. Recordo uma anedota contada por um dos “setentões” do Twitter que exemplifica isto.

Vou omitir o nome do autor; ele disse que conversando com um sobrinho, educado nos padrões da alta classe média, o rapaz perguntou-lhe porquê, sendo um homem bem relacionado socialmente, teimava em usar sempre os mesmos ternos, camisas, gravatas e sapatos antiquados, sem acompanhar a moda.

O nosso amigo, homem de impecável formação intelectual, filosofou inteligentemente: – “Na sociedade, tudo volta sempre de 20 em 20 anos… Neste caso, usando sempre o mesmo modo de vestir, já estive três vezes no rigor da moda…”.

A piada vale para refletirmos sobre o assunto. Remoendo a teoria do retorno da moda, vejo que ela vale para uma pá de coisas, mas na política brasileira, não; a demagogia, o mandonismo e o nepotismo que vigoraram nas capitanias hereditárias seguem na moda a cada eleição e a cada governo…

Assim, a politicagem atravessou do Império para a República, alterando apenas o título de barão para o de “coronel”, e as mesmas oligarquias se mantiveram. Continuam em voga a enganação, a compra de votos, e a traição às promessas eleitorais, e o estilo se mantém como refletiu a estilista francesa Coco Chanel, nossa epigrafada.

O estilo da politicagem nos leva ao poeta Jean Cocteau que observando a leviandade dos ocupantes do poder, disse: – “É isso que torna grave a sua insânia”. Isto reforça a necessidade de enfrentar as tolices de um Presidente e da familiocracia comprometida com intimidades espúrias, alianças suspeitas, e apoiada na moda de grupos de pressão informatizados….

… E o que nos alivia diante disto é a sabedoria de Bernard Shaw: “A moda, afinal, não passa de uma epidemia induzida”.


MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.