Por Miranda Sá

 “Todas as artes só produziram maravilhas: a arte de governar só produziu monstros”  (Louis Saint-Just)

Como um crítico falou, “Alice no País das Maravilhas” é uma “história infantil com fantasias sem nexo ou conexão temporal”; mas na minha opinião, que reli várias vezes o livro  para os meus filhos, e já recentemente para o meu neto Heitor, incluo nesta observação o recado especial para os adultos em cada diálogo dos personagens antropomórficos.

O livro do matemático britânico, Charles Lutwidge Dodgson, que adotou o pseudônimo de Lewis Carroll, nos leva além da singeleza, a situações fantasiosas com fatos significativos para especulação.

Alice, é uma menina curiosa e crédula, que se vê num lugar exótico, povoado de criaturas peculiares e animais humanizados que a tratam como um deles. Segue um Coelho Branco janota, de colete e relógio cebolão, e entra na toca dele.

Daí em diante a história se desenrola num mundo estranho onde existe um país governado por uma carta de baralho, a Rainha de Copas, uma tirana que mantém o poder pela repressão de uma guarda pretoriana com todos os naipes do baralho.

Passeando alheia à política local, a garota tomou chá com o Chapeleiro Louco, que nunca se levanta da mesa, e se encontra com uma Lagarta que lhe aconselha a tomar chá de cogumelo, que a faria aumentar ou diminuir de tamanho; com os experimentos, conhece o sorridente Gato de Cheshire, uma figura misteriosa que está sempre de bom humor.

Termina por penetrar nos jardins do palácio real onde assiste os guardas discutirem sobre rosas, descobrindo que a governante odeia as rosas brancas. É um dia de festa na corte; e, convidada a participar, Alice é apresentada ao casal monárquico, o Rei e a Rainha.

A Rainha está sempre ordenando à decapitação das pessoas com quem não simpatiza; e um dos condenados foi o Gato de Cheshire, o que entristeceu menina, mas alegrou-se depois ao ver o capataz se recusar a cumprir a ordem, porque o gato aparece sem corpo, só com a cabeça cheia de sorrisos…

A aventura desenrolou-se cheia de surpresas, com a Rainha ordenando que Alice fosse levada ao tribunal para ser julgada, e chegou ao fim com a menina condenada e os guardas levando-a ao cadafalso; diante da guilhotina ela acorda, e vê que as peripécias não passaram de um sonho…

Ao acordar, lembrou-se que ouvira falar de uma CIDADE MARAVILHOSA, do outro lado do Atlântico, no Brasil… Na sua pureza, foi incapaz de imaginar que a beleza deslumbrante da paisagem, estava além, muito além das fantasias oníricas. Viu, entretanto, que a cidade presidida pela imagem do Cristo Redentor do alto do Corcovado, tinha virado de cabeça para baixo.

A causa foi um furacão provocado por uma quadrilha comandada pela Jararaca do ABC paulista e o Rato da Abolição. O vendaval da roubalheira de Lula e Cabral, arrasou a administração pública e a cidade caiu sob o domínio de pedras de dominó.

A Jararaca, em vez de mandar cortar cabeças como a Rainha de Copas, mandava seus partidários roubarem, ordem de que o Rato se aproveitou embolsando tudo que via pela frente; e meteu a mão nas verbas da Educação, do Esporte, Saúde, da Segurança e até na merenda das crianças das creches…

Assim, a Cidade Maravilhosa terminou dividida entre dois partidos, ambos com a mesma intenção de avançar no dinheiro público: o Partido das Pedras de Dominó e o Partido das Peças do Xadrez…

Dessa maneira, Alice, decepcionada com o que viu, voltou para Londres lamentando a desgraça que se abateu no Rio de Janeiro e partiu para outras aventuras, contadas nos livros “O Que Alice Encontrou Por Lá” e “Alice Através do Espelho”…


MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.