Redação –
Rubro-negro histórico, seu Tobias sabia tudo sobre o Flamengo. Podia, por exemplo, descrever com detalhes o gol de Agustin Valido sobre o Vasco, no primeiro tricampeonato carioca do Flamengo, em 1944. Nas resenhas com seus contemporâneos, o sorriso meio sacana admitia que o avante argentino tinha mesmo se apoiado nas costas do defensor vascaíno Argemiro para fazer o gol do título.
Recordava, saudoso, do ataque de meninos formado por Joel, Duca, Evaristo Dida e Zagalo, pela segunda vez tricampeões, em 1955.
Gostava de contar da ousadia do técnico “Feiticeiro” Fleitas Solich ao apostar todas as suas fichas no garoto alagoano Dida, autor dos quatro gols naquela decisão contra o América, vencida por 4 x 1. Até porque o Flamengo, que havia vencido a primeira partida da melhor de três por 1 x 0, com gol de Evaristo, tinha levado uma sonora surra de 5 x 1, na segunda partida da final.
Sua memória era uma autêntica enciclopédia rubro-negra. Era capaz de se lembrar de cada título, das campanhas e até do apelido de cada jogador.
Sabia tudo da carreira do “Diamante Negro”, Leônidas, do “Doutor” Rubens, e de “Mestre Ziza”, o grande Zizinho, com quem, dizia, Pelé aprendeu muitas coisas.
Lembrava das matadas no peito de Silva, “o Batuta” , do gol com a cara na lama de Almir, “o Pernambuquinho” contra o Bangu, em 1966, e do gol de cabeça de Rondineli, “O Deus da Raça”, naquela decisão contra o Vasco, em 1978.
Até dos jogadores menos conhecidos que passaram pelo clube ele sabia o apelido, como o de Dionisio, “Bode Atômico”, Rodrigues Neto, o “Turíbio” e de Merica, o “Cabra de Lampião”, volante que que não perdia uma dividida. Dividiu era do Meriquinha! – Ele sempre dizia.
Apenas de um jogador ele não gostava muito do apelido. Achava que “Galinho” era pouco para Zico, o maior de todos.
Hoje, sentindo o peso da idade quase centenária, a memória já não é a mesma, e seu Tobias, às vezes, mistura a realidade com a fantasia, quando fala do seu time de coração.
Outro dia, sentado na sua inseparável cadeira de balanço, com cachecol preto e vermelho no pescoço para se abrigar do frio, parecia cochilar. Enquanto isso, seus netos, economistas, discutiam sobre o custo benefício do alto valor pago por Gérson, a nova contratação do Flamengo. De repente ele entra na conversa:
– Verdade o que vocês estão falando? O Flamengo contratou de novo o Canhotinha de Ouro? Quer dizer que o Violino vai ter novamente seu companheiro de meio campo? Henrique e Dida vão se cansar de fazer gols novamente com os lançamentos do Canhota!
– Não, vovô! Responde os netos, entre risos. Esse é outro Gérson, aquele meia que jogou no Fluminense e estava na Itália.
Ai o velho rubro-negro, recuperando totalmente a lucidez:
– Que ótima notícia, meus netos! Não sei se esse menino é mesmo bom de bola’ e quanto pagaram por ele, mas foi barato!
E com os olhos marejados de saudade, seu Tobias, que sabe tudo de bola, conclui:
– Ter um Gérson no meio de campo de qualquer time do mundo soa muito bem aos ouvidos! Enriquece qualquer escalação!
Com certeza, vai dar certo!
(Fonte: Museu da Pelada, por Victor Kingma)
MAZOLA
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