Redação

Eleito com o voto decisivo dos evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro deve contar novamente com o apoio do segmento na campanha para reeleição, em 2022. É o que afirma, em entrevista ao Estadão/Broadcast, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente de honra da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB). A entidade reúne 32 milhões de fiéis e 104 mil pastores. Não há denominação maior no País.

Cearense de São Luís do Curu, o pastor José Wellington, como é conhecido, tem 85 anos e, a cada quatro, é procurado pelos candidatos presidenciais, que buscam a influência dele sobre os eleitores evangélicos. Em 2018, votou em Bolsonaro e diz que não se sente enganado, pois já sabia que o presidente era “meio avançado nas palavras”.

O que o senhor tem achado do governo Bolsonaro?
A primeira aproximação que tive com ele foi quando ele era deputado federal, por meio do meu filho Paulo (Roberto Freire da Costa, também deputado federal, pelo PL de São Paulo). Ele é meio avançado nas palavras, mas é o jeito dele. Lula não é muito diferente, também tem a boca suja. Eu votei no Bolsonaro sabendo que ele era assim. Toda essa doidice, para mim, não é novidade. Mas é um cara bem intencionado. Não tem aquela cabeça administrativa, mas até aqui está se valendo das Forças Armadas. Vamos ver em que bicho que vai dar. Uma coisa me contenta: general pode não entender de determinar linha administrativa, mas não vai roubar, vai arranjar pessoas que entendem, vai colocar assessores. Eu vejo como muito promissor.

A aprovação de Bolsonaro tem caído na população geral, mas, entre os evangélicos, resiste mais. A que o senhor atribui isso?
O presidente tem tomado medidas que são amargas para o grupo do lado de lá (petistas). O corte de verba em determinados ministérios não é tanto para economizar, mas para tirar o dinheiro da mão daquela turma. O PT ainda tem muito dinheiro. O corte e a substituição dessa gente causa reação desfavorável ao nome do Bolsonaro, pois o PT estava enraizado no Brasil. Além disso, ele não é muito simpático à imprensa, e a imprensa também não é simpática a ele. Ele não se elegeu com essa imprensa, não deve nada a essa gente. Ele usou outro meio para se eleger, as redes sociais, esse troço que faz um fuxico do cão.

Mas e os evangélicos?
Entre nós, evangélicos… Eu não estou enganado com ele. Quando votei nele sabia em quem estava votando. A boca doida dele, eu sabia que era assim. Mas é homem honesto, tem boa vontade. Agora, a formação dele foi caserna, então tudo dele passa por ali, é o que ele conhece.

Mas está falando pelo senhor. E o que o senhor sente dos evangélicos em geral?
Evangélico é povo também e o povo estava machucado com o desgoverno passado. Então esta reação é natural, queríamos que mudasse. Dos candidatos apresentados, Bolsonaro foi o que mais impressionou com o comportamento dele. E aquela facada ajudou muito. Quase mata, mas para ele teve um resultado muito bom. De qualquer maneira, eu não me decepciono.

Bolsonaro é o presidente que mais conseguiu ter uma relação próxima com os evangélicos?
O Michel Temer não foi muito distante. Um presidente que falhou com a gente foi o Fernando Collor. Quando assumiu, consegui com nossa igreja nos Estados Unidos 46 milhões de novos testamentos, escritos de forma didática para crianças. Pedi a Collor que autorizasse a entrada dos novos testamentos no Porto de Santos. Ele anotou meu pedido, mas deve ter sido com aquela caneta que apaga depois (risos). José Sarney também foi bom, amigo. Fernando Henrique Cardoso também, bom. Mas procuro não ocupá-los.

E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Eu nunca tive muita aproximação com ele. Tive uma vez um encontro com Lula de 20 minutos e vou confessar: depois daquele momento, se você me perguntasse em quem eu iria votar, eu responderia Lula. Ele é um carismático tremendo. É de uma simplicidade a toda prova, nordestino. Nós sentamos e nos identificamos com poucas palavras. Mas, infelizmente, a carruagem foi o que matou o homem. Ele está pagando porque era o presidente. Ele tinha por dever acompanhar a administração toda do País.

O senhor acredita que Bolsonaro será reeleito?
Não é difícil. Se depender dos evangélicos, sim, com certeza. Mas política é fogo, precisa ter cuidado com o que fala. Na campanha ele falou que não queria ser reeleito. Assim como Paulo Maluf fez em São Paulo. Como se diz no Ceará, ele (Maluf) se lascou. Falou daquele prefeito (Celso Pitta) que ele elegeu, e disse que ele (Pitta) fosse mal ninguém votasse mais nele (Maluf). E o prefeito foi mal pra chuchu.

E o que acha de outros candidatos que surgem para 2022, como Luciano Huck?
A Presidência não é lugar para artista, nem para animador de programa. A administração de uma nação é um negócio muito sério. Povo é povo, não é brincadeira. Precisa ter muito bom senso. Eu acho que, para a Presidência da República, tem de ser alguém com certo conhecimento administrativo, político e social, além de ter um bom jogo de cintura.

Mas o senhor disse que o Bolsonaro não tem uma cabeça administrativa…
Não, ele não tem. Mas o acerto dele é reconhecer que não sabe e procurar pessoas que sabem, para ajudá-lo. E você pode ver que, da posse dele para cá, já mudou um tanto. Em várias áreas já mudou. Começou a conhecer de perto a coisa, a realidade do País. Eu não sei se há outros capazes por aí, mas a política é muito dinâmica.

Então o senhor vai votar em Bolsonaro em 2022?
Eu já votei nele uma vez e votaria uma segunda, se ele continuar da maneira como vai. Mas ainda tem muita água para passar debaixo da ponte.

A política econômica do governo Bolsonaro é liberal e busca um ajuste fiscal. Isso não pode decepcionar eleitores evangélicos?
Nos governos passados houve prejuízo econômico muito grande e coisas absurdas na parte administrativa. A eleição de Bolsonaro foi uma resposta a isso. O que me satisfaz é que estou vendo resultado. Conseguiu-se a duras penas a aprovação da lei da Previdência. Na parte econômica, a única coisa que não estou gostando é que o dólar está muito alto. Temos igrejas fora do País e, para a gente, é fogo, pesa para chuchu. O dólar sobe e nosso caixa aqui geme.

E as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, não incomodam, como a do dólar e as empregadas domésticas?
O Guedes é homem, né? Ele tem o estopim muito curto. Você vê, pelas exposições na Câmara dos Deputados, que o pessoal aperta e ele abre. Então, é uma reação natural. Nós precisamos dele.

E como o senhor avalia a questão do subsídio para as contas de luz nos grandes templos, um pedido da bancada evangélica?
O presidente cogitou, mas a equipe econômica foi contra. Eu achei o pedido uma coisa absurda. Nós somos povo, temos de entender o sentido global. Não se pode privilegiar uma casta. Ou se faz para todos ou não se faz para ninguém. Por que dispensar energia elétrica para templos religiosos? De impostos, nós já somos isentos. Se está gastando muito com energia, se organize e procure administrar. São pedidos meio esdrúxulos. Foi correto o presidente não atender.

Tem algo no governo Bolsonaro que o senhor não aprova?
Bolsonaro tem de dar os passos do tamanho da perna, não pode dar passo maior sem condição necessária de sustentação. Por isso, eu gosto da administração do Guedes. Ele demonstra confiança e resultado naquilo que está fazendo. Agora, as nossas necessidades são muitas em todas as áreas, especialmente na parte médica. A parte hospitalar precisa. Mas não dá para fazer tudo de uma vez, essa é a verdade.


Fonte: Estadão, por André Ítalo Rocha