Por José Carlos de Assis

A expressão coletiva que corresponde ao sentimento geral do empresariado brasileiro é a suprema imbecilidade. Vi o que foi a reunião oferecida pelo empresariado paulista a Paulo Gudes: 200, 300 idiotas de uma corte falida oferecendo aplausos ao ministro que os está guilhotinando pela política econômica mais estúpida que o país já viu em sua história. O que se festejou? Festejaram-se três anos de queda da indústria, 4% no último ano, sem a mais remota perspectiva de recuperação porque Guedes não tem um plano para isso.

Empresários brasileiros e Guedes se equivalem. O paulista é ainda mais repelente, pois faz questão de agradar mais ao governo do dia. Articulado com banqueiros, com sua política infame de juros de aplicação estratosféricos, sobrevive bem na pessoa física à custa de dilapidar os trabalhadores e o Estado. Por isso foi feita a reforma trabalhista, com amplo apoio deles e de sua assessoria criminosa, que fala hipocritamente em nome da nação, a fim de tirar dinheiro, sangue e suor do trabalhador em benefício dos novos senhores de escravos.

Das consequências da política previdenciária, igualmente infame, já está dando conta o desarranjo total do INSS, sem falar dos conteúdos da nova lei de ataque direto aos pobres. Mas querem mais. O apetite da Fiesp e de seu presidente fanfarrão é insaciável. A propósito, assim como o presidente da Firjan, no Rio, nenhum dos dois são industriais ou mesmo empresários. São típicos pelegos do lado do capital. E a rigor nem se pode dizer que é capital porque capital produtivo não é isso que estamos vendo no Brasil, a não ser entre pequenos.

O país reclama uma política de desenvolvimento que atenda a interesses dos capitalistas e dos trabalhadores. É o mínimo que se pode esperar de um país que se diz capitalista. Contudo, estamos sendo governados por um tecnocrata falastrão que nada sabe de economia a não ser os clichês comuns dos neoliberalismo. Diante disso, levados como ovelhas ao matadouro por uma assessoria econômica interna mais preparada para aplaudir do que para orientar, estamos rolando ladeira abaixo com a cumplicidade dos industriais paulistas.

Seriam todos eles? Sim, até onde eu saiba, são todos. Acabou o tempo dos Roberto Simonsen e Ermírio de Moraes. Procurei ontem um empresário de empresa construída dinheiro do povo (Fundo 157), para consultá-lo sobre a possibilidade de apoiar um movimento social pela retomada da economia. Recusou-se liminarmente. O que entendi é que está muito confortável na posição de uma empresa protegida contra a extorsão dos juros e da queda da demanda, nesse caso devido a exportações, sem necessidade de crescimento interno.

Assim como outros empresários, este também tem pretensões políticas. Mas já é hora, no Brasil, de repelir da política empresários que fazem de seus negócios um instrumento exclusivo de ganhos próprios, sem o sentido genuíno do capitalista voltado para o crescimento da empresa, e não de sua riqueza pessoal. É disso que vem o atraso relativo do país em relação aos Estados Unidos e outros países europeus. O que se chama aqui de empresário é um propagador da falácia de composição: mata-se o salário, e mata-se junto o consumo.

No plano macroeconômico a situação ainda é pior. Abraçando a agenda estúpida de Guedes, o empresariado quer reduzir a carga tributária de 34% do PIB para 28%. A pergunta é: quem vai pagar as escolas públicas , as universidades e os hospitais? Será que não percebem que a agenda minimalista dos Estados Unidos, com toda a sua riqueza, está criando sérios embaraços para o combate ao corona vírus? E lá ainda existe um grande sistema de saúde (NHS) que resistiu a estupidez da privatização, sendo que aqui é atacado por privatistas.

Quanto à privatização, tornou-se um plano ridículo, só subsistente na cabeça ideológica de Guedes. O setor privado está devolvendo várias rodovias privatizadas e agora um aeroporto (Natal), abrindo uma vereda para outros. Claro, a economia afundou e continua afundada. Qual empresário privado vai sustentar um negócio sem demanda? Se alguém tem dúvida, pergunte à Fiesp, à Firjan e à CNI. É possível que tenham uma resposta. Mas não venham dizer que a saída é pela reforma tributária e a reforma administrativa. Isso é idiotice.

Entretanto, as pessoas que não querem entregar o Brasil, definitivamente, a essa corja devem começar a pensar em alternativa. Se o capitalismo selvagem que está aí não nos serve, cabe pensar numa solução democrática: comprar o controle das empresas de empresários parasitas e entregá-lo a um corpo profissional nomeado por acionistas com ações pulverizadas no mercado, um corpo técnico permanente e representação de trabalhadores. Há estudos nesse sentido nos Estados Unidos. Aqui, isso poderia ser iniciado com a conversão em ações de empréstimos de bancos públicos como BNDES, BB, CEF e Banco do Nordeste.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.