José Macedo –
Com entrada do ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa e possibilidade de retorno ao Palácio do Planalto, viu-se claro desequilíbrio nessa corrida, em função da força eleitoral do ex-presidente.
O presidente Bolsonaro estava, segundo pesquisas de opinião em acelerada queda, mas dispondo de fracos competidores, havia possibilidades de reeleger-se. Embora, o presidente demonstre seu despreparo para administrar o país, dispõe de razoável índice de seguidores, que o autoriza seguir na disputa.
Os arroubos autoritários do presidente, seu fracasso na condução da crise sanitária (pandemia), o alto desemprego, sinais concretos de corrupção em seu governo, a crise institucional e a ruptura da harmonia com os demais poderes, entre tantos outros erros, são indicadores de que o presidente desagrada a nação.
Nesses dias, os trabalhadores foram surpreendidos por uma Minirreforma trabalhista através da MP – Medida Provisória,1045, que tem como objeto eliminar direitos, cancelar contratos, reduzir salários, FGTs, o que é mais uma afronta aos trabalhadores. Para não me alongar, deixarei, nestas breves considerações, de analisar sua desastrosa política externa, incompatível com as demandas atuais e a tradição da diplomacia brasileira, tornando o país odiado pelo resto do mundo e presença “non grata” nas reuniões de Órgãos Internacionais.
Neste ano, o Agronegócio será responsável pelo índice ainda positivo da economia, mas, no próximo ano, a perspectiva é negativa, segundo analistas. Apesar do crescimento econômico, apontado por economistas, inexiste benefícios direcionados ao bem-estar do trabalhador. Nesse clima de incerteza e de confusão, qual é a opinião de cientistas políticos e dos observadores diários dos fatos?
O presidente Bolsonaro sabe que perderá as eleições. Por isso, já elabora e inicia a execução de seu plano “B”, começando por desmoralizar e de pôr em dúvida o voto eletrônico, a Justiça Eleitoral e sua imparcialidade.
O ministro Alexandre de Moraes será o próximo presidente do TSE. O Bolsonaro antecipa-se e planta a crise, propõe o impeachment do ministro, não importando a ausência dos requisitos constitucionais. Assim mostra suas garras, o que é de seu estilo, o de criar confusões. Quando era tenente no exército, foi obrigado a ir para a reserva, em virtude de práticas ilícitas, ameaças e ações de moldes terroristas. O interesse do texto é o de analisar fatos conhecidos, com isenção e assim o faço. O mandatário brasileiro é grosseiro e inconsequente, descumpridor de normas e indisciplinado, dele será impossível prever ou esperar algo construtivo.
Assim, a consequência é o agravamento da crise político institucional, já existente e sem precedentes. Enfim, seu plano “B” é a “confusão”. Não sei o quê virá desse imbróglio. Com certeza, dias mais difíceis virão.
Conhecendo a formação histórica, politica e cultural do País, de mais de 500 anos, constatamos devaneios e crendices, difíceis de serem desfeitos, repetindo-se, ao longo do tempo. Uma crença: “Somos um povo pacífico, ordeiro e solidário”. Os fatos negam, bastando uma rápida incursão em nossa história e é o que faço. Comecemos lembrando de que, somos um povo marcado por abissal índice de desigualdade social e econômica, um dos países mais injustos do mundo e, figurando entre as 74 nações mais violentas e injustas do mundo, como diz o ultimo Relatório da ONU. As explicações estão em nossa origem. Saímos do Mapa da Fome com a implantação de políticas públicas e sociais, a partir de 2003; desgraçadamente, em 2019, retornamos, segundo Relatório da ONU.
Alguns fatos negam a crença de que somos um povo pacífico, ordeiro e solidário. O inicio é o Período Colonial e, nesse tempo, já havia sinais de uma elite atrasada, egoísta e violenta, uma herança, que perdura, até hoje, é visível sim, é a antítese do que seja solidariedade e cristianismo. A matança de nossos índios, a tentativa de escravizá-los, o genocídio caracterizado e praticado contra esse nação, era a ausência de empatia ou de sentimento humano.
Praticamos a escravidão por 350 anos, “importávamos” negros africanos e, aqui, eram negociados, submetidos à tortura, ao trabalho forçado e à violência, força de trabalho para sustentar os colonizadores, seus lucros, riqueza e luxo dessa minoria. A Inconfidência Mineira, a Independência da Bahia, esta, datada de 2 de Julho de 1823, entre outras refregas, ocorreram com mortes e violência. A guerra do Paraguai, no meu sentir injusta e desnecessária. A Guerra de Canudos, no final do século XIX, outro genocídio, quando o exército assassinou mais de 5.000 sertanejos inocentes e pacíficos, que buscavam um pedaço de terra para trabalhar.
Nas décadas de 20 e de 30, revoltas e insurreições, em várias Regiões, aconteceram as lutas pela terra e contra injustiças.
Nesse contexto histórico, lembro do Cangaço, tendo como motivação e causa a injustiça dos poderosos contra esses infelizes desamparados no Brasil profundo da época, lançados à própria sorte, sendo o exercício arbitrário das próprias razões (a justiça com as próprias mãos) a alternativa possível. Os fatos que circundam a morte de Getúlio Vargas; a ditadura de “64”, a tortura, o sumiço de pessoas, até hoje, muitas famílias não puderam enterrar seus familiares, além do banimento de brasileiros, fatos incontestes, ainda negado por mentes perversas e mórbidas, fatos que desfazem o engodo de um povo bonzinho e pacífico.
Hoje, as mortes repetidas contra agricultores por reivindicarem um taco de terra; o elevado índice de assassinatos de pobres, sobretudo da população favelada, negra e parda; a violência contra a mulher, a misoginia e de gênero, a homofobia; as vítimas da comunidade homossexual, LGBT são exemplos. Esses crimes têm de ser denunciados e é o que faço, quando surge oportunidade. A mera intenção punitiva, leis penais duras têm sido ineficazes. A falta de proteção e assassinatos de moradores de rua; as mortes de centenas de pessoas nos corredores de hospitais, causadas pelo abandono e omissão do poder público; a matança de policiais, no Rio e no resto do Brasil alimentam as estatísticas e nada é, efetivamente, feito, senão a adoção de paliativos. Assim centenas de policiais são baleados e mortos e também matam. A criminalidade não será resolvida por medidas policiais, repressão ou por sanção e aplicação de leis penais duras. Nossa população carcerária é uma das mais altas do mundo, 688.000 estão presos, para 440.000 vagas. Esses humanos são mortos vivos, vivendo em situação desumana, empenhados uns sobre os outros, é um depósito de seres humanos em decomposição física e mental, é o inferno. Em um pouco mais de um ano de pandemia, morreram 578.000 brasileiros, um número alto, em função da omissão e do negacionionismo à ciência, das discussões inócuas sobre cuidados médicos, do charlatanismo e da escassez de vacinas.
Em repetidas vezes, a ciência médica foi questionada, o curandeirismo passando a ser protagonista na terrível crise humanitária. O presidente deste País ainda trata do assunto com desdém, desprezo aos mortos, como fosse algo banal. Que fazer? Não temos resposta, resta-nos chorar nossos mortos e indignarmo-nos. Lamentavelmente, o tratamento dado à pandemia é a prova de que, somos um povo violento, sem empatia e respeito à vida, ao outro e a sua dignidade. Certamente, somos hipócritas, gregários e dissimulados, cínicos e egoístas. Assim a vida perde sua dimensão humana e sentido. Com isso, a barbárie é iminente. Permanecer na crença de que somos um povo bom e pacífico significa desconhecer nossa história. Enquanto crescem as injustiças, os políticos enriquecem-se, enriquecem seus filhos, parentes e até, as ex-mulheres, os dias tornam-se mais difíceis para a superação dessa herança, inicialmente, descrita. Somos um povo violento, mentiroso e corrupto, que não superou sua origem genocida, repito. O pior dessa nódoa é que não nos envergonhamos, repetimos o nome de Deus, como fosse uma confissão ou sentimento de culpa ou salvo conduto.
Enfim, resta-nos a indignação e que tenhamos a coragem de sair da inércia e do comodismo.
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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