Por Pedro do Coutto –

Foi brilhante o artigo de Míriam Leitão no O Globo deste domingo sobre as articulações por aproximação que o presidente Jair Bolsonaro vem tentando colocar como base de um golpe que pode julgar definitivo depois das apurações das urnas eletrônicas que ele e o general Paulo Sérgio Nogueira tentam contestar na medida em que coloca obstáculos sucessivos sobre a segurança do sistema eletrônico de votação e computação.

O artigo ilumina firmemente uma realidade, deixando-a mais clara, aliás claríssima, aos olhos dos eleitores e eleitoras. Entretanto, na minha opinião, se a vitória de Lula da Silva nas urnas de outubro se concretizar no primeiro turno, cai por terra qualquer tentativa de contestação da vontade popular registrada pelo sistema do Tribunal Superior Eleitoral, então presidido pelo ministro Alexandre de Moraes. Em setembro, Edson Fachin transmite a Presidência do TSE ao seu sucessor legal. Mas essa é uma outra questão.

VITÓRIA NO PRIMEIRO TURNO – As pesquisas do Datafolha publicadas pela Folha de S. Paulo e pelo O Globo, deixaram claro que está se consolidando a perspectiva de o ex-presidente derrotar o atual no primeiro turno, alcançando a maioria absoluta dos votos. Essa impressão se solidificou na edição de sábado da Folha de S. Paulo, a qual, conforme comentei, apontou uma liderança de Lula em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Miriam Leitão cita como lances golpistas por aproximação contra o resultado das urnas as dúvidas infundadas sobre as mesmas e, agora também, a emenda constitucional que subverte qualquer princípio jurídico e o  bom senso coletivo. Afinal, uma emenda à Constituição que só vale até 31 de dezembro deste ano.

Mas a oposição, cujo comportamento recebeu críticas procedentes em sua forma, agiu no sentido de não fornecer qualquer pretexto a uma investida antecipada contra o regime democrático. Não deu a Bolsonaro e ao ministro Paulo Guedes qualquer motivo que pudesse fortalecer um ataque do Planalto contra as instituições democráticas na Planície. O embate, portanto, continua sendo através das urnas e da liberdade de escolha que elas representam para o regime democrático em nosso país.

SEM ALTERAÇÕES –  Os votos em Lula e Bolsonaro, como o Datafolha também revelou, estão consolidados. Poderão ocorrer mudanças pontuais, mas isso não significa alteração de posições. A cristalização dos votos, a meu ver, é algo imutável até outubro deste ano. Para mim, é impossível uma mudança no quadro. Ciro Gomes mantém o percentual de oito pontos, Simone Tebet oscila entre um e dois pontos. As tendências dos principais colégios eleitorais parecem ser definitivas.

O tema é abordado por uma reportagem muito boa de Joelmir Tavares na Folha de S. Paulo, apoiado também em dados do Datafolha. A terceira via não surgiu.

Lula acompanhado por Nelson Jobim e os comandantes militares – 20/12/2010. (Reprodução/Folhapress)

LULA E AS FORÇAS ARMADAS –  Em Salvador, reportagem de Marianna Holanda, Franco Adailton e João Pedro Pitombo, Folha de S. Paulo deste domingo sobre as caminhadas dos candidatos nas comemorações de 2 de julho inclui declarações de Lula da Silva a respeito da posição dos militares com a democracia e com a liberdade.

Disse Lula: “É preciso superar o autoritarismo e as ameaças antidemocráticas. Não toleraremos qualquer espécie de ameaça ou tutela sobre as instituições representativas do voto popular. As Forças Armadas devem estar comprometidas com a democracia e devem cumprir estritamente o que está definido na Constituição. O Brasil, independente e soberano que queremos, não pode abrir mão de suas Forças Armadas. Não apenas bem equipadas e bem treinadas, mas sobretudo as Forças Armadas comprometidas com a democracia”.

O pronunciamento foi uma mensagem dirigida aos militares e certamente as articulações entre a oposição e as Forças Armadas se desenrolam como uma consequência da perspectiva da passagem do poder.

ALMOÇO CANCELADO –  Em sua coluna que ocupa no O Globo, Bernardo Mello Franco, ontem, comentou a atitude de Bolsonaro de cancelar o almoço marcado para hoje, segunda-feira, com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. O motivo é que todos sabem; Marcelo Rebelo de Sousa vai se encontrar também com Lula da Silva, aliás como é praxe nas visitas oficiais na proximidade de eleições polarizadas entre o presidente e o candidato de oposição.

Em outra oportunidade, durante a crise da pandemia o presidente de Portugal foi recebido por Bolsonaro sem máscara. (Marcos Corrêa/PR)

Mas, o episódio caracterizando uma indelicadeza está refletido no próprio cancelamento do encontro. Repercutiu muito mal no meio diplomático e também junto aos portugueses que residem no Brasil e suas famílias. Foi um erro.

Outro erro terrível foi o da Biblioteca Nacional ao conceder a Ordem do Mérito do Livro ao deputado Daniel Silveira. Não faz o menor sentido. Qual a obra de Daniel Silveira capaz de levá-lo a receber o destaque forjado pela Biblioteca Nacional?

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)

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