Por José Carlos de Assis

Um vídeo assinado por Guilherme Fiúza complementou de forma definitiva as suspeitas que tinha sobre a dimensão política absolutamente irresponsável que cerca o que chamam de “pandemia” do corona vírus. Estamos diante de um formidável elenco de irresponsabilidades, cujas consequências espúrias recaem sobretudo sobre os pobres e, de alguma forma, também sobre os idosos portadores de alguma doença prévia. Jamais se viu algo parecido na história mundial. E é patético que venha assinado pela OMS.

Os questionamentos feitos através do vídeo são irrespondíveis. De uma forma suscita, não há explicação científica para quarentenas e isolamento domiciliar. O que se justifica é um cuidado redobrado com os idosos, não propriamente por causa do vírus, mas principalmente por casa da debilidade inerente à idade. Crianças, adolescentes e gente de meia idade, com bom histórico de saúde, não precisam de se preocupar. Se pegarem o vírus, o vírus é frágil; morre sem prejudicar o organismo.

O problema fundamental é com o estado do sistema de saúde. Na medida em que uma concepção enviesada das necessidades de tratamento joga nos hospitais milhares de pessoas que são portadoras do vírus, sem risco de letalidade, a tendência é lotar os leitos e os hospitais até o ponto em que os idosos acabam sendo prejudicados por falta de equipamentos básicos para eles. Então faltam leitos, pela concorrência com os infectados pelo corona vírus. Se isso aumentar, o sistema de saúde público acaba entrando em colapso.

Fiúza não faz uma pergunta importante, relativa às razões pelas quais um problema simples na periferia do sistema sanitário mundial acabou se tornando um problema central planetário. Vou arriscar uma resposta. O diretor-geral da OMS é um etíope, e ao mesmo tempo uma autoridade mundial. Na condição de autoridade, influiu decisivamente na avaliação do problema do vírus. E não é certo que tenha tido o conhecimento e a experiência necessária para conduzir uma situação de tal envergadura perante a imprensa mundial.

O fato é que a própria imprensa mundial parece não ter muita competência para tratar de temas dessa complexidade. Funciona na base do argumento de autoridade. Não há fiscalização, investigação e questionamento verdadeiro. Há o que meu antigo chefe, José Silveira, chamava de jornalismo do “acho que”. Eu passei a chamar de jornalismo declaratório depois da Lava Jato. Também nesse caso não havia investigação, exceto por alguns jornalistas independentes. O jornal se satisfazia com a declaração do juiz, do promotor e do policial.

O alto número de mortes em alguns países atribuídas ao vírus continua sendo o aspecto mais difícil de explicar pela imprensa mundial. No Brasil é quase insignificante. Lá fora, pode ser devido ao elevado nível de letalidade entre idosos. Sabe-se que, no início da propagação da doença, os recursos de diagnóstico naqueles países foram precários. Há também a hipótese de concentração dos idosos em ambientes infectados, tendo em vista a limitação de recursos hospitalares por causa do excesso de pacientes.

A reação das autoridades mundiais de saúde ao surgimento desse vírus que alguns cientistas consideram inócuo, mas que a despeito disso abre espaço para verdadeiras histerias em níveis nacionais, trouxe desconforto e problemas econômicos terríveis para milhões de pessoas no mundo. No Brasil, em grande medida a expansão do vírus foi acompanhada de uma escalada desmesurada de demagogia, como a declaração de estado de calamidade. O que Paulo Guedes quer é nada mais nada menos que licença para gastar sem controle público.

O lado sombrio dessas medidas governamentais é seu efeito sobre os pobres. Temos algo como 80 milhões de trabalhadores informais, que ficarão à míngua se não puderem tirar seu sustento de alguma atividade autônoma, em mercados marginais. São os camelôs, os motoristas autônomos, os que exercem atividades no turismo, e todos os que fazem algum trabalho mas não tem carteira assinada. Com o virtual confinamento das outras pessoas em casa, eles não terão como subsistir, pois não encontrarão ninguém na rua. Nem mendigos.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.