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Simbolismos
Imagem divulgada pela mídia estatal da Coreia Socialista
Internacional

Simbolismos

Por Lucas Rubio

Aconteceu algo muito interessante na Coreia do Norte que você precisa parar por cinco minutinhos para analisar… A mídia estatal da Coreia divulgou nesta quinta (16) imagens do líder da República Popular Democrática da Coreia, o Marechal KIM JONG UN, andando à cavalo numa importante montanha do país – o Monte Paektu.

Pode parecer uma simples atividade de lazer do líder coreano, mas os simbolismos envolvidos são grandes demais para passarem desapercebidos. Vejamos:

A Montanha Sagrada

O Monte Paektu é um vulcão inativo há milhares de anos que tem um belo lago no seu topo, o Lago Chon. Sua altura é de 3.000 metros aproximadamente e esse monte é o mais alto de toda a Península da Coreia, ficando no extremo norte do país, na divisa com a China. Geograficamente, o Monte Paektu não é um lugar nada fácil, é extremamente alto, com um terreno muito irregular, numa zona remota do país e faz frio a maior parte do ano. Todos os coreanos acreditam que a nação Coreia nasceu nesse lugar porque teria sido lá que Dangun, o primeiro rei coreano, teria nascido e fundado o país.

A montanha revolucionária

No século XX, quando a Coreia foi ocupada pelo Japão, que colonizou brutalmente o país por mais de 30 anos, um jovem guerrilheiro chamado KIM IL SUNG fundou aos pés do Monte Paektu um movimento revolucionário de guerrilha que lutou contra as forças japonesas e alcançou a libertação do país em 1945. Justamente pelas características inóspitas do Monte Paektu, os japoneses tiveram grande dificuldade de localizar precisamente e eliminar os focos de guerrilha alocados ao longo dos acampamentos secretos no monte.

Durante esse processo de guerrilhas, foi também no Monte Paektu que nasceu KIM JONG IL, que viria a ser líder da Coreia do Norte após o falecimento do comandante guerrilheiro KIM IL SUNG em 1994. KIM JONG IL é visto como uma das figuras chefes da política e vida nacional da Coreia, então o Monte Paektu tem grande importância por não só ser o lugar de nascimento da Revolução Coreana como também o lugar de nascimento de um de seus mais proeminentes dirigentes.

Simbolismo

Por conta de todos esses fatos históricos envolvendo o Monte Paektu, como local de nascimento da nação coreana há mais de 5.000 anos, de instalação e operação da Revolução Socialista e também lugar de nascimento de um de seus líderes, o Paektu é frequente em toda a simbologia da Coreia do Norte. Músicas, quadros, monumentos, selos, bandeiras, quase tudo que você puder imaginar tem uma figura do Monte Paektu lá. Ele é o objeto físico que representa a Revolução: é gigantesco, monumental, invencível, inóspito e só acessível pelos donos daquela terra, o que dialoga imensamente com a Ideia Juche, a ideologia oficial da Coreia do Norte que coloca a independência e soberania dos coreanos como elementos centrais.

O que significa ir ao Monte Paektu?

“Nós iremos ao Monte Paektu” é uma canção interpretada por gerações e gerações na Coreia e permanece há anos como uma das músicas mais conhecidas dentro e fora da Coreia do Norte. É o tipo de hino não oficial que todos sabem cantar ou pelo menos sabem a letra. A canção evoca todos os coreanos a visitarem o Monte Paektu, o monte sagrado da Revolução.

É muito comum que estudantes, soldados e trabalhadores coreanos pelo menos uma vez em suas vidas viajem até o Monte Paektu e o escalem. Isso faz parte de uma educação patriótica e ideológica conduzida na Coreia: escalando o monte, as pessoas têm noção do quão difícil e árduo foi o processo revolucionário de seu país nascido ali e como os revolucionários daquela época foram verdadeiros heróis ao conseguirem guerrear em condições quase apocalípticas. É normal ver caravanas e caravanas de coreanos visitando o lugar e conhecendo as instalações preservadas, como barracões da época da guerrilha e museus.

O que significa KIM JONG UN ter ido lá?

Essa não é a primeira vez que o Máximo Dirigente da República Popular Democrática da Coreia visita o lugar. Ele já esteve em outras ocasiões visitando o Monte Paektu e inclusive já esteve lá acompanhado pelo presidente sul-coreano Moon Jae In durante sua visita ao Norte – embora hoje o Monte tenha caído mais na representação oficial do socialismo, todos os coreanos, tanto do Norte quanto do Sul, consideram aquele lugar sagrado e histórico por conta de identidade nacional. Tanto é que Moon Jae In levou garrafinhas e pegou a água do lago no topo do Paektu para levar para o Sul.

Porém essas visitas de KIM JONG UN individualmente geralmente representam muitas coisas. Uma das primeiras, é a continuidade da linha coerente do caminho revolucionário. Ele demonstra isso ao visitar e prestar tributo aos heróis antepassados que fundaram o socialismo.

Por ser um lugar extremamente simbólico e querido, a subida do Líder Máximo, ainda mais montado em um cavalo branco e durante a primeira queda de neve antes do inverno, gera fotografias de tirar o fôlego. As fotos contrastam o branco da neve com o branco do cavalo e o azul puro do céu, acrescentando-se aí a extrema beleza do lugar e no centro a imagem do dirigente revolucionário.

Interessante notar que KIM JONG UN não foi só: ele levou consigo sua irmã Kim Yo Jong, filha também daquela linhagem de família nascida no Paektu do qual ele faz parte. Ela esteve ao lado dele o tempo todo e pode ser vista em algumas fotos junto com outros altos funcionários do Partido do Trabalho da Coreia e do governo. Aliás, todos eles haviam acabado de realizar uma visita de inspeção às obras de uma cidade ao sopé da montanha que foi renovada e está quase pronta para ser inaugurada.

O cavalo

O cavalo que KIM JONG UN usa é um belo animal totalmente branco. Alvo como a neve. No peito do cavalo, o brasão de armas da República Popular Democrática da Coreia e em sua testa a estrela do Exército Popular da Coreia, os símbolos de governança de KIM JONG UN.

Além disso, vale citar que o cavalo também é uma das grandes simbologias do socialismo coreano. Uma antiga lenda fala sobre o cavalo Chollima, um cavalo de asas que voava imensas distâncias com apenas uma batida de asas. Indomável no mito original, na simbologia socialista passou a ser domado apenas por trabalhadores e camponeses e foi usado como analogia à crescimento rápido e para frente.

Comentário surpreendente

Agora, o que deixa uma gigantesca dúvida e provoca até certo entusiasmo é o último parágrafo da nota oficial da Agência Central de Notícias da Coreia que noticiou a ida de KIM JONG UN à montanha. Os norte-coreanos, para quem acompanha sua imprensa escrita, possuem um jeito muito único de escrever, e isso fica nítido no surpreendente trecho publicado ontem que diz:

«Sendo testemunhas de cada momento de reflexões do Máximo Dirigente no topo do sagrado monte Paektu, os acompanhantes tiveram a convicção de que será traçada uma grandiosa operação que voltará a surpreender todo o mundo e que a revolução coreana dará outro grande passo adiante.»¹

Alguns meios de comunicação têm divulgado que sempre que KIM JONG UN escala o Paektu uma grande decisão é divulgada em seguida, o que realmente se confirma das outras vezes em que ele esteve lá.

Aparentemente, KIM JONG UN se inspirou muito ao subir à cavalo o lugar de onde seus antepassados iniciaram a história de seu país e irá surpreender o mundo nas próximas semanas.

Resta aguardar!

¹ Tradução da nota para o português realizado pelo blog A Voz do Povo de 1945

*Lucas Rubio – Graduando em Letras com habilitação em Língua Russa pela UFRJ, Presidente do Centro de Estudos da Política Songun-Brasil, Coordenador do Núcleo de Política Internacional da Tribuna da Imprensa Livre.

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