Redação

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido de liminar do mandado de segurança em que a Rede Sustentabilidade pede o afastamento de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Palmares. A decisão foi assinada pela ministra Regina Helena Costa, relatora do processo.

O partido solicitava a suspensão de Camargo do cargo após este se referir ao movimento negro como “escória maldita” e “vagabundos” em uma reunião privada no fim de abril. Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo em novembro de 2019, Camargo teve a nomeação suspensa por liminar no dia 4 de dezembro. Mas em fevereiro deste ano, ele foi reconduzido pelo STJ, atendendo a pedido da Advocacia-Geral da União.

CONTRAMÃO – Além de negar reiteradamente a ocorrência de racismo estrutural no país, Camargo já defendeu o fim do feriado da Consciência Negra, a extinção do movimento negro e chegou a afirmar que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” de escravizados no país.

Além de ter hostilizado o movimento negro durante a reunião gravada sem que ele tivesse conhecimento, Camargo também disse que Zumbi era “filho da puta que escravizava pretos”, falou em demitir “esquerdista” e usou o termo “macumbeira” para se referir a uma mãe de santo. Os trechos foram divulgados pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. De acordo com a publicação, o encontro, ocorrido em 30 de abril, teve participação de outros dois servidores da fundação e serviu para tratar do desaparecimento de um celular corporativo de Camargo.

OS VAGABUNDOS – Questionado na reunião a respeito de quem poderia ter pego o aparelho, respondeu: “Qualquer um. Eu exonerei três diretores nossos assim que voltei. Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadindo com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”.

Sobre Zumbi dos Palmares – que dá nome ao órgão de promoção da cultura afro-brasileira –, Camargo comentou: “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da Consciência Negra. Aqui não vai ter, zero – aqui vai ser zero pra [Dia da] Consciência Negra. Quando eu cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode com dinheiro da Consciência Negra. Aí, tem que mandar um cara lá, pra viajar, se hospedar, pra fiscalizar… Que palhaçada é essa?”.

GRAVAÇÃO ILEGAL – Na ocasião, a assessoria de imprensa da Fundação Palmares informou por nota que Camargo “lamentava a gravação ilegal de uma reunião interna e privada”. “Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente, transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público”, continua a comunicado.

Nos áudios da reunião divulgados, Camargo lembrou o período em que ficou afastado. “Não recebi [salário], janeiro nem fevereiro. Agora vou ter que devolver celular. Por uma liminar que me censurou, por causa das minhas opiniões em redes sociais. Porque a esquerda acha que é propriedade, negro é uma propriedade dela. Não tem direito a livre opinião, só pode expressar a opinião da cartilha. Vocês vão se foder… Se tiver um esquerdista aqui, vocês me digam, onde está esse filho da puta, que eu quero exonerar. Ou demitir. Ou mandar pra outro órgão, se for efetivo”, afirmou.

MACUMBEIRA – Em outro trecho, usou o termo “macumbeira” para se referir a uma mãe de santo que, segundo ele, repassava informações à imprensa. “Tem gente vazando informação aqui pra mídia. Vazando pra uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira. Uma tal de Mãe Baiana, aquela que infernizava a vida de todo mundo. É. Além de fazer macumba pra mim, essa miserável tá querendo agitar invasão aqui de novo. Eu sei, tem gente no grupo dela de WhatsApp. Tinha esquema. Não vai ter nada, nada pra terreiro, da Palmares, enquanto eu estiver aqui dentro. Nada, sério. Macumbeiro não vai ter nenhum centavo.”


Fonte: Folha de SP