Por Ricardo Cravo Albin

A homenagem que prestamos ao aniversário de Zezé, nesta data, representa pequeno fragmento do texto que escrevi para a orelha de sua biografia, feita por Cacau Hygino.

“O livro perfila a vida de uma feiticeira. Como não considerar os dengos da biografada do Cacau um pote até aqui de feitiços?

Uma simples orelha (como este pequeno texto em louvação) não representa muito bem Zezé Motta. Simplesmente porque ela é tudo: orelha, cara, corpo.

Quero dizer, já se vê, Zezé Motta é uma síntese arrebatadora.

Desde que a conheci, e isso há décadas, fiz-me seu devoto. Esta unção ficou, desde sempre, aclarada e inamovível. Creio que o primeiro oh! para a consolidação do meu “zezeismo” ocorreu ao vê-la no palco em Hair.

Embora ainda ao começo, ela já ostentava opulentemente, cabeça, tronco e membros. Além de voz, de beleza, de maneios, de carisma. Lembro-me de que sai do teatro, seria o extinto República? e fui tomar umas e outras no Bar Luiz com amigos. Aliás não falei de outra coisa, senão na estrela que ela já antecipava ser. Com a experiência de ouvir centenas de vidas nos depoimentos para a prosperidade no Museu da Imagem e do Som, bateu-me a certeza do sucesso de Zezé, antecipando-lhe, inclusive, uma carreira internacional. O que de fato logo aconteceria, pelo profético Cacá Diegues ter feito dela a Chica da Silva, a meu ver, o mais radioso e estonteante personagem da história do cinema no Brasil. A tal ponto, aliás, que passei a incluir Zezé nos cursos sobre MPB que ministrei centenas de vezes em todo o país (quase sempre solicitado por Manuel Diegues – vejam a coincidência – o pai do mesmo Cacá). Meu fervor pela cantora-atriz ia a ponto de compará-la, sem papas na língua, a uma Carmen Miranda dos anos 70-80. Só que com vantagens: a cor, a voz, a audácia, o corpo. De igual para igual só mesmo os olhos, ambos fulminantes na luz de vida e de raio que emitiam.

Entre a branca e a preta, faltou à Zezé (muitíssimo mais apetecível que Carmen) apenas Hollywood e uns showzinhos na Broadway. Mas, com ou sem carreira internacional permanente, com o tempo passando ou não, Zezé Motta terá sido sempre uma estrela.

Que cintila a cada vez que canta, que projeta sempre a luz incandescente dos olhos, a resistência ao preconceito, que convencem a cada aparição. Que embriagam pelo charme, solidariedade e vivacidade.


RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.