Por Luiz Carlos Prestes Filho –
A contabilista, Rosangela Rosa, formada em gestão de eventos e pós-graduada em
gestão empresarial pela Universidade Estácio de Sá (UESA), afirma que a Lei de
Emergência Cultural Aldir Blanc é: “Importante instrumento que veio para colaborar
com o desenvolvimento da cultura brasileira. Estamos parados desde março deste ano.
Para quem vive de cultura já era difícil, agora está impossível”. Através de sua empesa
‘RROSA – Agência de Projetos e Eventos’ a empresária há dezenas de anos incentiva
grupos culturais da cidade de Duque de Caxias, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Luiz Carlos Prestes Filho: O “Cineteatro Oscarito” fez e faz História?
Rosangela Rosa: Sim, o “Cineteatro Oscarito” é um espaço cultural muito bem
estruturado, foi criado para levar as diversas linguagens artísticas para a população do
segundo distrito de Duque de Caxias e do seu entorno.
Prestes Filho: Você é uma produtora cultural ou uma incentivadora de projetos sociais?
Rosangela Rosa: Me considero uma apoiadora, incentivadora cultural, mais do que
produtora. Minha primeira profissão foi a contabilidade. Em 2001 a Universidade
Estácio de Sá abriu o curso Tecnológico de Gestão de Eventos e, como trabalhava na
Sociedade de Dermatologia como Gestora Geral, inclusive, na organização dos eventos
científicos, ingressei no curso para me aperfeiçoar. Foi quando comecei a ter um olhar
para as questões culturais de forma mais técnica. Neste curso passamos a ter contatos
com eventos de diversos segmentos. Realizamos visitas e participamos da organização
de eventos de grande porte na cidade do Rio de Janeiro. Como sou nascida e criada
em Duque de Caxias, comecei a olhar para a cultura da minha cidade, a conversar com
amigos de grupos culturais apoiados pela Secretaria Municipal de Cultura e, com isso
foi surgindo a vontade de colaborar. Fiz o curso de contabilidade para organizações
não governamentais no Conselho Regional de Contabilidade (CRC/RJ) e venho desde
então procurando dar assessoria técnica para os segmentos culturais que me procuram.
Prestes Filho: Como a arte entrou na sua vida?
Rosangela Rosa: Eu nasci no samba. Meu pai era da bateria do bloco Capricho do
Centenário desde antes de eu nascer. Então, nasci Acadêmicos do Grande Rio muito
antes da mesma existir. Em 2006 fui convidada pela presidente do GRESM Pimpolhos
da Grande Rio a desenvolver um trabalho de gestão de carnaval e dos PROJETOS
daquela agremiação mirim. Foi uma experiência maravilhosa! Os projetos que criamos
levaram a Arte do Carnaval para dentro das escolas públicas do município, trouxemos
os jovens da comunidade para a quadra com atividades de música, dança, teatro,
leitura, criação do enredo de fantasias e carros alegóricos, sempre com material
reciclado. Estabelecemos parcerias com cursos de inglês e academias de dança. Hoje
temos diversos jovens e adultos formados em vários segmentos, com expertises em
diversas artes. Esses projetos da Pimpolhos foram e são totalmente voltados para a
educação de preservação do meio ambiente, pois faz parte da metodologia da
formação cidadã, o não jogar o lixo na rua, a economia doméstica, até o
reaproveitamento de material.
Prestes Filho: Quais são as suas principais referências no desenvolvimento de projetos?
Rosangela Rosa: Eu sempre busco “entender” as políticas culturais de forma
estrutural. Acredito que muitas formulações não surgem de quem está ou já esteve
com o pé e mão na arte (ou na massa – ditado popular). Cultura é prática! Eu prefiro
tentar ver a melhor forma de se organizar, de repensar o que se faz; de participar do
desenvolvimento do mundo sem, lógico, perder a essência. Fui do Conselho de Cultura
de Duque de Caxias, ocupei a cadeira de “Cultura Popular”. Vivi a necessidade e a
dificuldade de formalização dos produtores culturais. O processo é burocrático.
Entretanto, o resultado sempre é produtivo quando o poder público entende as
dificuldades da base.
Prestes Filho: Como você insere o seu trabalho junto às políticas públicas para a cultura?
Rosangela Rosa: Para os pequenos produtores tudo é muito difícil. A maioria das
empresas culturais não entendem os processos. Com isso têm medo de apostar. Não
querem perder tempo com algo que não oferece retorno, “algo não lucrativo”. As
grandes empresas, que se dispõem, preferem ter grandes visibilidades. Até o carnaval
tem dificuldades. Os editais são mais seguros e atraem os produtores culturais
preparados, organizados e estabelecidos.
Prestes Filho: Editais ou patrocínios? Quais são as principais frentes de trabalho?
Rosangela Rosa: Em 2012 criei a RROSA AGÊNCIA DE PROJETOS E EVENTOS, com o
objetivo de dar assessoria contábil, escrever projetos e formatá-los nos editais e leis de
incentivo para os pequenos produtores culturais. Em 2018, minha filha Cíntia, que viu
o espaço do “Cineteatro Oscarito” fechado, trouxe a proposta de ativá-lo. Então, como
me apaixonei à primeira vista pela ideia, entrei com a alma e o coração. Em 2019
locamos o espaço e começamos a pensar nas atividades que poderíamos realizar.
Criamos o projeto “Escola no Cinema” que recebeu mais de 10.000 crianças de escolas
públicas e particulares de Duque de Caxias. Somente no segundo semestre foram
centenas de crianças que nunca tinham ido ao cinema. Temos o projeto “Leiturinha G”
que conta história com cenografia; e interpretação de textos e interação. Temos aula
de instrumentos musicais e teatro. Já estabelecemos uma parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro para receber livros. O que possibilitou criar o
“Espaço de Leitura”. Este ano tivemos que fechar por causa do Covid 19, mas estamos
veiculando lives e inscrevendo os projetos mencionados em editais. Já estamos
aprovados na Lei Rouanet e na Lei de ICMS do Estado do Rio de Janeiro.
Prestes Filho: A Lei de Emergência Cultural é algo que veio para colaborar?
Rosangela Rosa: Estamos dialogando com a Secretaria Municipal de Cultura de Duque
de Caxias. Interagindo com os produtores. Criamos uma equipe para ajudar nos
cadastros e estamos tendo muita procura. Infelizmente temos que limitar o número de
atendimento, mas nunca deixo de pelo menos orientar quem precisa. A Lei de
Emergência Cultural é importante sim, veio para colaborar, porque estamos (e incluo o
Cineteatro Oscarito) parados desde março. Está desesperador para quem vive de
cultura. O que era difícil agora está impossível. Quanto a burocracia, não vejo muita
burocracia na Lei. Acompanho as dificuldades dos estados e municípios em criar os
editais para liberação dos recursos, isso me preocupa muito.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
MAZOLA
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