Por Plinio Teodoro

Contratação pela consultoria do EUA está ligada à chamada indústria anticorrupção, uma versão sapatênis da Operação Condor. Pela participação no processo, Moro deveria responder por crimes contra o Brasil.

Empacado na casa dos 9% nas pesquisas e alvo de acusações de corrupção como as que fabricou no comando da Lava Jato, Sergio Moro (Podemos) correu para as redes na tarde desta quarta-feira (26) para dizer que pretende revelar os ganhos durante sua breve e improdutiva passagem pela consultoria estadunidense Alvarez & Marsal.

Milionário ou não, os salários e as benesses recebidas por Moro na “iniciativa privada” são apenas a ponta do iceberg das relação espúria do ex-juiz que se tornou ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e tenta, à toda sorte, sobreviver ao naufrágio moral da Lava Jato.

Em entrevista ao Fórum Onze e MeiaLuis Nassif relatou sobre a ponta solta no novelo lavajatista, que justifica inclusive candidatura de Moro à Presidência.

O contrato com a consultoria – e até mesmo a candidatura à presidência – seria um pretexto para apresentar Moro como “garantidor” da chamada indústria anticorrupção criada pelo Departamento de Justiça dos EUA, que espalha seus tentáculos pelo mundo por meio de escritórios de advocacia que prestam serviços de “compliance”.

A indústria anticorrupção seria uma versão sapatênis da Operação Condor, promovendo repressão política e terror de Estado àqueles considerados inimigos pelos EUA.

Na prática, essa indústria promove investigações aos moldes da Lava Jato para desencadear processos de lawfare contra aqueles que o sistema considera inimigos.

Ao tomar o poder com a destruição de reputações, golpes, perseguições e prisões ilegais – contando com a colaboração da mídia alinhada ao projeto neoliberal -, a indústria premia os agentes públicos cooptados para fazer o serviço sujo.

Isso ocorreu no Brasil, com a campanha da Globo e de jornalões contra o PT, o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, a perseguição e prisão de Lula e a consequente eleição de um governo protofascista. E pode ser vista ainda na Argentina, Bolívia, Equador – só para ficar no “quintal” da América do Sul.

Não são apenas os ganhos de Moro com a Alvarez & Marsal que são no mínimo imorais e devem ser investigados. Toda a carreira do juiz foi traçada – planejada? – em torno de um projeto de lesa-pátria e deveria responder pelos crimes que cometeu sendo pago durante grande parte da sua vida, como juiz e depois como ministro, para entregar o país aos interesses do sistema financeiro.

Moro deve responder pela quebradeira das grandes empreiteiras brasileiras – que cederam lugar em parte à Halliburton, parte do aparato de guerra dos EUA -, pelo desmonte da Petrobras e de todo parque industrial naval brasileiro e, principalmente, como cúmplice de Jair Bolsonaro quando o atual presidente responder à Justiça pelos crimes de seu governo protofascista.

Assim como a chamada indústria anticorrupção está para a operação Condor, o ex-juiz está para o atual presidente. Moro é um Bolsonaro de sapatênis.

Fonte: Revista Fórum


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