Redação –
A política de cotas implementada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) completa, este ano, 15 anos. A instituição, que pertence ao Governo do Estado e é vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi a primeira do Brasil a adotar o sistema para os processos seletivos de ingresso de estudantes nos cursos de graduação. Desde o vestibular de 2003, parte das vagas é destinada a grupos socialmente marginalizados, com base na carência socioeconômica – entre eles, autodeclarados negros e pardos e estudantes da rede pública de ensino – como forma de reparação a exclusão histórica sofrida ao longo dos séculos.
Do total de 25.885 de alunos cotistas que ingressaram na UERJ, 11.369 foram beneficiados pela reserva de vagas raciais até o vestibular 2019. No ano passado, uma nova lei estadual confirmou a importância da política afirmativa do Estado e, assim, prorrogou a validade da legislação por mais dez anos nas universidades estaduais. Professora da UERJ e especialista em ações afirmativas na Educação, Elielma Ayres, destacou a mudança do perfil da instituição ao longo do período.
– A partir do sistema de reserva de vagas, vejo que a UERJ ganhou mais diversidade. Ao longo dos últimos 15 anos, o perfil da universidade se ampliou, com um público com caráter mais trabalhador, pois as cotas são válidas para todos os cursos e turnos. Outro detalhe importante é o recorte de renda, o que possibilita o acesso ao ensino superior de pessoas com baixo poder aquisitivo. No entanto, o vestibular, método tradicional utilizado para a triagem dos alunos, foi mantido – afirmou Elielma.
A especialista ainda pontuou que, com o aumento do número de negros e descendentes na universidade, tem se observado a criação de coletivos entre os cursos de graduação.
– Temos uma geração formada a partir desta ação afirmativa que permitiu a democratização da educação no Rio de Janeiro. O que temos visto nos últimos anos é a formação dos coletivos – negros e mulheres, que ajudam a debater e trazer para a sociedade a discussão de, entre outros temas, o racismo e a misoginia – completou a professora.
Protagonistas do pioneirismo fluminense
Com 19 anos, Juliana Hellen cursa Artes Visuais na UERJ. Ingressou na universidade por meio do sistema de cotas e, atualmente, está terminando o segundo período do curso. A jovem, que é de Duque de Caxias, crê que o acesso dela ao ensino superior só foi possível graças à ação afirmativa do Estado.
– Não estudei em colégios particulares e, por isso, não teria condições de disputar o vestibular da mesma maneira com os demais candidatos. Por isso, o sistema de reserva de vagas é mais do que importante: é uma ação justa que faz todo o sentido para nós, negros, por toda a nossa história no passado – afirmou Juliana.
A estudante conta que, ainda na escola, ouvia piadas sobre seu cabelo:
– Hoje, quando deixei de alisá-lo, ainda percebo alguns olhares de preconceito. Por isso, ter um dia da Consciência Negra busca uma reflexão para que pensemos no passado e de que forma ele impacta ainda no presente – falou Juliana.
Estudante do sexto período de Direito, Maurício da Silva Dias também faz parte do grupo de alunos que utilizou o sistema de reserva de vagas na UERJ. Aos 23 anos, o jovem concorda que a política afirmativa é fundamental para o acesso à universidade.
– Esta é uma ação essencial para uma população historicamente segregada. Só assim é possível termos algum impacto social. Um dos grandes desafios de nós, cotistas, é a permanência na instituição ao longo do curso porque muitos precisam trabalhar para ter uma renda. Eu mesmo, ao ingressar, era jovem aprendiz e me dividia entre a faculdade e o emprego. Hoje, já estou atuando na área jurídica em um estágio no escritório de advocacia. Vejo que houve um avanço e mais negros estão nos bancos das universidades, mas é preciso seguir ainda mais – falou Maurício, que é morador de São João de Meriti, também na Baixada Fluminense.
Iniciação Acadêmica
A UERJ mantém o Programa de Iniciação Acadêmica – o Proiniciar, que tem o objetivo de oferecer o estudante que ingressou na universidade através das cotas um suporte ao longo do curso, visando à permanência do estudante na instituição. Dividida em três pilares – pedagógico, socioeducacional e administrativo, a iniciativa tem a responsabilidade de, entre outros assuntos, gerenciar as bolsas acadêmicas que cada cotista tem direito de solicitar à universidade, além ofertar oficinas em todas as áreas do conhecimento.
– Este ano, estamos com 19 oficinas em andamento, entre elas cálculo e inglês, que auxiliam os estudantes que estão no ensino superior. Também encaminhamos os alunos para os projetos de extensão e pesquisa da universidade, de modo que possam se desenvolver de maneira ampla durante a vida acadêmica. E, ainda há a plataforma virtual, que ajuda no aperfeiçoamento do estudante. Ou seja, o Proiniciar busca oferecer todo o apoio para que o aluno cotista possa ter novas experiências e mais acesso ao conhecimento – explicou a Coordenadora de Articulação e Iniciação Acadêmicas (CAIAC), Ana Lucia Bielinski.
Negros e pardo: maioria nas universidades públicas do Brasil
Recente pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que os negros e pardos já são a maioria nas universidades públicas brasileiras, o que corresponde a 50,3% de estudantes universitários. Pela primeira vez na história, em 2018, o número de matrículas de negros e pardos nas instituições de ensino superior da rede pública foi maior do que de brancas. Elielma Ayres credita que este número inédito seja um reflexo do sistema de cotas que foi ampliado para todo o Brasil a partir de 2012. A professora lembra ainda que o Rio de Janeiro se mostrou pioneiro ao iniciar uma ação afirmativa que procura reduzir a desigualdade social.
– Além disso, tivemos a ampliação de cursos e vagas e a instalação de campi em locais onde não havia ensino superior. A oferta à distância também foi algo que contribuiu bastante para que mais negros tivessem acesso à universidade. Pensar a consciência negra é simbólico para marcar uma reflexão sobre o assunto – finalizou a especialista.
A UERJ
Em 2020, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) completa 70 anos. No Center for World University Rankings 2018/2019, a UERJ segue, desde 2014, como a oitava melhor do Brasil. Nesse mesmo ranking, a instituição continuamente tem melhorado sua classificação global: 742ª em 2016, 709ª em 2017 e 659ª em 2018/2019.
Já no Ranking Web of Universities – 2019, a UERJ ocupa a 23ª posição entre as melhores universidades da América Latina (AL) e a 15ª posição no País.
Ao todo, são quase 45 mil alunos, cerca de três mil professores e seis mil funcionários distribuídos em 16 campi e unidades externas em todo o estado.
Fonte: Secom – Governo do Estado do RJ, por Carolina Perez
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