Por Miranda Sá

“Um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder jamais deve iniciar uma guerra motivado pela ira” (Sun Tzu)

Na década de 1964 fui preso e processado por ter chamado certo militar de “coronel de pijama”. Na época, estudante jovem e abusado, usei a palavra “Pijama” como sinônimo de aposentadoria.

Eu tinha naquele tempo uma profunda admiração por dois políticos nordestinos, o pernambucano Cid Sampaio (que foi governador de Pernambuco) e deputado federal José Joffily, paraibano, líder da Frente Parlamentar Nacionalista. E numa palestra em que compareci ouvi a intervenção de uma pessoa, que se identificou como coronel do Exército, metendo o pau nos nacionalistas, entre eles Cid e Joffily.

Sabendo que o aparteante era da reserva, contraparteei citando-o, por ironia, como “militar de pijama”…. Não deu outra; pelo autoritarismo reinante na época, no dia seguinte fui detido e interrogado sobre o caso, sendo processado depois…. Para quem ficou curioso, fui absolvido no Supremo Tribunal Militar.

O verbete Pijama, dicionarizado, é um substantivo masculino e feminino, referindo-se ao vestuário caseiro, leve e folgado, próprio para dormir e usado por ambos os sexos. Sua origem é indiana, do hindi “pāe-jāmah” e foi adotado pelo dominador inglês da Índia, rebatizando-o como “pyjamas”.

Posteriormente soube que é doloroso para quem cumpriu o oficialato por trinta e tantos anos, cair na inatividade. Saudade dos colegas, saudade do quartel, saudade até dos toques de corneta nos movimentos de ordem unida….

Isto não ocorre com a maioria dos civis ao se aposentar. No meu caso, o pijama só me lembrou do tempo em que eu ia ao baile de carnaval “Um Pijama para Dois” no Hotel Colonial, lá na Avenida Niemeyer….  Só entrava casal: o homem com as calças do pijama e a mulher com paletó do mesmo…

Pijama para muitos é roupa de dormir. No meu tempo de mocidade as mulheres usavam camisola; depois apareceu o “baby doll”, advindo do livro “Lolita” de Vladimir Nabokov em 1955, que que mais tarde, em 1962, fez sucesso com o filme homônimo levado às telas sob a direção de Stanley Kubrick.

A belíssima atriz Marilyn Monroe perguntada por um entrevistador o que usava para dormir, respondeu: – Duas gotas de Ma Griffe… E, numa viagem à Itália para o Festival de Veneza, a atriz brasileira Bruna Marquezine publicou diversas fotos saindo às ruas trajando um pijama.

A importância do vestuário, que prestigia seus criadores, costureiras e costureiros, desde a antiga Suméria, aproxima a moda da etiqueta. A moda, como sabemos, surge espontaneamente e depois vira fonte de altos lucros no Comércio e na Indústria; e a etiqueta é uma formalidade que cria regras a serem seguidas.

Ao longo dos tempos, a moda elegeu as antigas “combinações” como roupa de saída e, embora escondidas, as calcinhas e as cuecas, são propagandeadas pela tevê e nas páginas de revistas. Agora, as cuecas servem também de cofre para os políticos corruptos.

A toga romana, por exemplo, foi a vestimenta básica para todas as classes sociais, mas os senadores obrigavam-se a usá-las impecavelmente brancas e os imperadores com uma sobrecapa púrpura, mantida pelos cardeais da Igreja Católica….

A etiqueta vigente na Roma Antiga chegava aos militares, entre os quais se distinguiam os oficiais e soldados de elite que formavam a Guarda Pretoriana que protegia os imperadores.

Com seus belos uniformes, os pretorianos adquiriam privilégios e troca de favores que garantiam a sua fidelidade, embora isto não os impedisse de urdir conspirações visando conquistar prestígio e comandos legionários.

No Brasil de hoje, as togas são de uso nos tribunais, e são pretas; e temos também nos corredores do Planalto e no Ministério da Saúde uma Guarda Pretoriana formada de oficiais superiores da reserva para criar ilusão de que o Presidente conta com o apoio das Forças Armadas….

Agora velho e ainda abusado, arrisco-me a considerar esta Guarda Pretoriana “de Pijama”; e que ela não reflete os quarteis nem faz jus à antiga intelectualidade militar da ESG, da Bibliex, da Revista do Exército, dos generais Aurélio Lira Tavares, Castelo Branco, Celso José Pires, Ferdinando de Carvalho, Golbery do Couto e Silva, Meira Matos e Lavenére-Wanderley….

Entristece-me a subalternidade envelhecida desses pretorianos, colaborando para a prioridade máxima do Presidente, defender o filho até usando a Abin incorreta e inconstitucionalmente, segundo a Revista Época.


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.