Redação

Em reação a denúncias do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro, de que o filho do presidente teria recebido informações privilegiadas da Polícia Federal sobre o caso Queiroz, deputados da oposição articulam uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para apurar o caso. Em outra frente, parlamentares defendem a cassação do mandato do senador.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o empresário, que trabalhou na campanha da família em 2018, afirmou que a PF avisou Flávio da investigação contra Fabrício Queiroz, então assessor do deputado estadual. O aviso permitiu que Flávio se antecipasse às investigações da Operação Furna da Onça, deflagrada em novembro de 2018 para investigar esquemas de corrupção envolvendo políticos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Partidos da oposição, entre eles PSB, PT e Psol, irão começar a colher assinaturas para protocolar nesta semana um pedido de instalação da CPI. Para o líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), houve uma rede de ilegalidades que comprometeu o processo eleitoral.

“Ganharam uma eleição fraudando-a, estabelecendo métodos e práticas que precisam ser investigadas para anular essa eleição. Ao lado disso, os fatos que dão conta de que o governo Bolsonaro desejava interferir na Polícia Federal atestam que o Brasil não pode continuar com esse governo. Temos que instalar, imediatamente, a CPI das eleições para investigar a interferência e a constituição dessa rede de ilegalidades que comprometeu o processo eleitoral e que agride a consciência democrática dos eleitores brasileiros. CPI já!”, afirmou Guimarães.

O adversário de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, Fernando Haddad (PT-SP), reforçou a tese de fraude. “Conforme suspeita, suplente de Flavio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° é o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama FRAUDE!”, escreveu no Twitter.

Para a líder do Psol, Fernanda Melchionna (RS), o repasse de informação privilegiada da PF a Flávio Bolsonaro sobre o caso Queiroz é mais um elemento motra a motivação de Bolsonaro em querer indicar pessoas próximas para o comando da Polícia Federal e para a Superintendência do Rio.

“Isso é extremamente grave, ainda mais por ter ocorrido em meio o segundo turno das eleições – e, se tivesse vindo à tona, certamente teria interferido no resultado eleitoral. Essa declaração expõe ainda mais a face corrupta de toda a família Bolsonaro”, disse Melchionna.

“As denúncias feitas por Paulo Marinho são gravíssimas. Mostram que membros da Polícia Federal contribuíram para obstruir a justiça de forma a influenciar no resultado das eleições de 2018, beneficiando Bolsonaro. Não por acaso o Presidente da República insiste tanto em escolher o chefe da Polícia Federal diretamente: quer continuar garantindo a impunidade para sua família e para si mesmo. Tudo isso precisa ser investigado para que Bolsonaro responda por seus crimes”, disse o líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ), em nota.

Cassação do mandato

Essas novas informações serão incluídas no pedido cassação do mandato de Flávio Bolsonaro apresentado por três partidos ao Conselho de Ética do Senado em fevereiro. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que não assinou o primeiro pedido, caso comprovados os fatos, a Rede vai entrar com outro pedido de cassação de Flávio.

O Psol também enviou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello uma petição (veja a íntegra) para que o empresário Paulo Marinho seja ouvido na condição de testemunha no inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Celso de Mello é o responsável pela apuração das denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro de tentativa de interferência na Polícia Federal por parte do presidente Jair Bolsonaro

A petição pede ainda busca e apreensão de todas as provas e indícios nas investigações em curso, incluindo o mencionado telefone celular do ex-secretário geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, falecido no ano passado.

Entenda o caso

Marinho, que é presidente do PSDB no Rio e pré-candidato a prefeito, afirmou à colunista Mônica Bergamo que Flávio foi avisado, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, de que a Operação Furna da Onça seria deflagrada. Um delegado da Polícia Federal, simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro foi o responsável pelo aviso.

Em plenas eleições gerais, os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, prejudicando assim a candidatura de Bolsonaro. Flávio também teria sido aconselhado pelo delegado em questão a afastar Queiroz preventivamente de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Queiroz e a filha, que também era funcionária do gabinete, foram exonerados em 15 de outubro de 2018.

Em resposta às acusações, a assessoria do senador Flávio Bolsonaro disse haver interesse político por trás das falas de Paulo Marinho. Segundo ele, o empresário estaria tentando usurpar seu cargo no Senado. “Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão”, diz a nota enviada pelo gabinete do senador.


Fonte: Congresso em Foco