Por Fabio Chazyn

A gaúcha Maria Adelaide, a baronesa de Triunfo, deve ter sido uma dondoca e tanto! Assim como a paranaense Aimée de Sá Sottomaior… A primeira conseguiu terminar com a monarquia brasileira; a segunda, fazer o Brasil um dos vitoriosos na 2ª Grande Guerra…. Alguma duvida de que a alcova sempre foi e vai continuar presente nas grandes encruzilhadas da História?

A baronesa foi a protagonista preferida das fofocas do milico Floriano Peixoto, chefe da segurança de D. Pedro II. Sagaz, Floriano a usou p’ra conseguir o seu intento. Fez chegar aos ouvidos de Deodoro da Fonseca que o seu arquirrival na disputa do coração da amada baronesa seria guindado pelo Imperador para o segundo cargo mais importante do Império. A dor-de-cotovelo foi insuportável. Às favas os ideais monarquistas do marechal. Ele simplesmente não podia permitir que seu desafeto Silveira Martins fosse feito primeiro-ministro por D. Pedro II. Nem que tivesse que proclamar a república!

Bem, não se pode desprezar que a Guerra do Paraguai tenha sido muito custosa, machucando as contas do Império, nem que a abolição da escravatura tenha feito um estrago nas dos latifundiários, criando  as pré-condições para a mudança de regime. Além disso, as idéias positivistas e republicanas corriam soltas entre os militares que afagavam o sonho de comandar a Nação.

Para levar a cabo a audácia, optaram pelo que acharam que era o mal-menor: a aliança com os latifundiários. Deram com os burros-n’água. O marechal Deodoro da Fonseca, que não morria de amores pela república, nem o seu manipulador, conseguiram demonstrar a liderança que precisavam para segurar o rojão. Para Floriano Peixoto, descartar o seu ponta-de-lança foi mais fácil do que amargar embates persistentes contra os monarquistas saudosistas e contra os latifundiários ávidos por ascender diretamente ao Poder.

A “República da Espada” empunhada pelos milicos-da-hora durou pouco. Bem intencionados, apoiaram a política da liberação de créditos para massagear a economia. Mas, foram tomados de assalto pelo crime organizado pelos agentes impatrióticos. As fraudes se generalizaram e o dinheiro não chegou onde tinha que chegar. A política do “encilhamento” abraçada por Rui Barbosa deu errado.

Mal a república completava 5 aninhos, os barões do café que já dominavam o governo de São Paulo inauguravam a “República das Oligarquias”, mais conhecida como a “República Velha”. A oligarquia do café-com-leite representada pelos governadores paulistas e mineiros tomou conta do Estado sob o nome de “Política dos Governadores” e fez a festa por bons 35 anos.

Em 1930, os militares tentaram nova investida. Apoiaram um Getúlio Vargas simpatizante das idéias em voga nos países do Eixo. Logo perceberam que Getúlio não deixaria o movimento “Tenentista” dominar o seu governo. Nascido do anseio pela moralização do País e o fim do deita-e-rola dos todo-poderosos das oligarquias agrárias, o Movimento dos Tenentistas, alijados do poder de Vargas, acabaram caindo do outro lado do muro no colo do Partido Comunista Brasileiro de Luis Carlos Prestes. Não deu certo. O PCB parecia mais uma tartaruga marinha: na maior parte do tempo ficava clandestina, submersa, e vinha à tona, oficializada por pouco tempo, só para uma respiradinha… A vida dos militares associados aos comunistas não era fácil na época do Getúlio populista…

Ainda bem que a paranaense Aimée apareceu na vida do caudilho. Quero dizer, ainda bem para o Brasil porque, por causa dela, ele acabou se afastando do Eixo. Aimée, “a musa amada” de Getúlio Vargas, acabou convencendo-o de que alinhando-se com Roosevelt ele teria mais a ganhar. De fato, Aimée tinha virado “amiguinha” do primogênito do chefe do clã dos Kennedy. Joe Junior, um piloto de caça dos Estados Unidos nasceu para ser o primeiro presidente católico do país. Façanha que teve que ser cumprida por seu irmão John após a sua morte em combate em 1944. A despeito do destino de Joe Jr., Aimée conseguiu completar a sua missão de desviar seu amante Getúlio do Eixo e acabou ajudando a engatar nossos padrões culturais neste lado do Atlântico. De fato, não é só o dinheiro que move o mundo… Dondocas talentosas também!…

Com essa decisão, os militares brasileiros se aproximaram da cultura americana durante os seus treinamentos nos Estados Unidos e se deslumbraram com a pujança do país e, progressivamente, foram adotando novas referências. Com a renúncia de Jânio Quadros, pré-condições emergiram para os nossos militares tomarem o Poder e testar as suas novas teorias de desenvolvimento. A nova “República da Espada” durou 21 anos. Foi bom enquanto durou. O País cresceu e diversificou a sua economia. O milagre-econômico aconteceu no Brasil.

Alguns reclamam das limitações políticas, enquanto outros acusam os militares de não terem permitido emancipar o cidadão e prepará-lo para assumir as suas obrigações quando eles não conseguissem mais resistir à crescente oposição que reclamava a hora da Democracia. O movimento das “Diretas Já!” foi tomado de assalto por oportunistas-ladrões. Eloquentes na arte da demagogia, os “donos” da “Nova República” logo trocaram suas juras feitas para o povo pelos mimos à burocracia-estatal, que é o meio estratégico para transformar o País na cleptocracia dos sonhos dos ladrões de colarinho-branco.

Entrincheirados numa Constituição na condição de tecnocratas-paternalistas-interpretadores-de-leis foram mantendo a sociedade infantilizada e sua refém. De tempos-em-tempos foram dando alguns peixes, mas nunca a vara-de-pescar!…

Mais 35 anos se passaram até que os militares voltassem ao poder. Desta vez naturalmente e na esteira da decrépita prática da demagogia-cleptocrata. Ganharam a primeira batalha da Guerra de 5ª Geração das armas das redes-sociais. Bem intencionados, como de costume, os militares voltaram pelos braços do povo esperançoso em que eles não se associem àquela burocracia fisiológica; que não ouçam o canto-da-sereia no desafio que têm que enfrentar para implantar a nova edição do “encilhamento”. Que dessa vez não se iludam e optem pela parceria com as forças patrióticas…

Será um esforço predestinado ao fracasso se tentarem avançar sem o apoio do cidadão lá onde ele vive, no seu bairro, no seu distrito. Sem o povo, o governo Bolsonaro vai virar comidinha de governadores-piratas especialistas em emboscadas. Aliás, eles nem esquentaram as cadeiras dos seus mandatos e já estão atacando com uma virulência de enrubescer até o mais malvado dos corona-vírus.

É verdade: “Em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão!”. Mas falta dizer também que “não se apaga fogo com gasolina”. É verdade que numa democracia não se pode calar os oportunistas marqueteiros de carreira, que não titubeiam em falar meias-verdades quando se trata do que a sociedade quer ouvir. Mas, isso não quer dizer que seja obrigatório deixá-los chegar à “alegria de ver o circo pegar fogo”…

É preciso parar o ataque dos irresponsáveis que querem ajudar a tempestade a afundar o navio. Na esteira da terra-arrasada deixada pela atual epidemia, vão achar que ela foi providencial para eles poderem seguir com a sua demagogia. Não vão esmorecer. Pelo contrário, em conluio com a mídia mercenária, vão recrudescer porque, como os abutres, não estão preocupados com a vida, mas só com o que sobra dela depois que ela se vai. Para um, como para o outro, o caminho para sua promoção é o sensacionalismo. Quanto pior para os outros, melhor para eles…

Entretanto, uma oportunidade está se abrindo com a incontornável prorrogação das eleições deste ano. A epidemia do corona-vírus é o limão que precisávamos para fazer a limonada. Se o governo Bolsonaro quiser, terá tempo e motivo evidente para promover a reforma eleitoral para o País doravante adotar o Voto Distrital Puro. É o gancho que faltava para ensejar a discussão sobre a reforma da estrutura de poder, isto é, a Reforma Política para re-harmonizar as relações dos membros da Federação com a União, atribuindo mais poder para os Municípios e menos poder centralizado em Brasília; “Menos Brasília e Mais Brasil”.

Se Brasília não tomar as medidas necessárias para consolidar o caminho da cidadania, os governadores tomarão as medidas que lhes arranjam e vamos ter que engolir a nova edição da Política dos Governadores, com as consequências “déjà-vu”…

Será que o governo Bolsonaro vai continuar esperando uma dondoca-da-vez para fazer a ficha cair?


FABIO CHAZYN é autor do livro “O Brasil Tem Futuro?” recém-lançado. Aproveite a oferta com desconto e reserve o seu exemplar pelo site https://clubedeautores.com.br/livro/o-brasil-tem-futuro