Por Lincoln Penna

“Aproveitando a situação criada após a Segunda Guerra Mundial e substituindo os fascistas alemães, italianos e japoneses, os imperialistas americanos procuram fundar um imenso império mundial sem precedentes. O seu objetivo estratégico sempre foi invadir e dominar a zona intermediária entre os Estados Unidos e o campo socialista, sufocar a revolução dos povos e das nações oprimidas, passar a destruição dos países socialistas e, assim, colocar todos os povos e países do mundo, incluindo os aliados dos Estados Unidos, sob o domínio e a escravidão do capital monopolista americano.”

Os dizeres acima fazem parte do documento do Partido Comunista Chinês datado de junho de 1963, portanto há 60 anos, mas que guarda uma atualidade no que diz respeito à estratégia política dos Estados Unidos desde o pós-guerra e no instante em que se acirrara a Guerra Fria. E, particularmente quando se intensificavam e ampliavam as lutas de libertação nacional, com o advento de governos anti-imperialistas com inclinações socialistas, que em alguns desses movimentos resultaram na constituição de estados socialistas, haja vista Cuba.

Os líderes Deng Xiaoping e Mao Tsé-Tung. (Getty Images)

Presentemente assiste-se ao despertar desse sentimento anticapitalista que tem se difundido e se manifestado em formas de luta as mais diversificadas, e dentre elas se situam certas áreas no mundo onde o forte contencioso não resolvido até agora e, em alguns casos, mantido à ferro e fogo com a adoção de métodos típicos de países que se julgam senhores da guerra e da paz. Trata-se, por conseguinte, de tornar ativa e efetiva a estratégia mencionada no documento do PCCH de imposição aos ditames de um país que passou a deter o controle do espólio da guerra.

O que é novo, mas nem tanto, é o uso e o estímulo aos atos terroristas por parte dos estrategistas norte-americanos. Rejeitam o debate acerca de argumentos críticos dos que condenam o sistema capitalista preferindo criar um poderoso, temível e falso inimigo da humanidade, como se esta fosse representada pelo modo de vida do qual tiram vantagens através do domínio político, militar e ideológico.

É conhecida a figura de Osama bin Laden, líder da organização islâmica Al- Qaeda. Teria sido treinado por agentes dos Estados Unido para ser possível quadro infiltrado a serviço dos interesses americanos. Poucos anos após esse treinamento o mundo foi impactado pela derrubada das Torres Gêmeas, ocorrida em 11 de setembro de 2001. Foi um ato terrorista, quanto a isso ninguém tem dúvida. Todavia o que causou certa suspeição foi o fato da responsabilidade de Osama pelo ato terrorista tendo ele esse histórico vínculo com o país alvo dessa operação terrorista.

O próprio episódio da invasão, ocupação e destruição do Iraque, tendo o seu governante sido considerado falsamente de estar produzindo artefatos nucleares, como bomba atômica, razão pela qual teria sido mesmo sem o aval de organizações internacionais e até de velhos aliados europeus agido de forma criminosa contra aquela nação, cuja recuperação até hoje deixou profundas marcas. Tragédia simbolizada pela execução do governante daquele país, Saddam Hussein, igualmente considerado terrorista por confrontar com a poderosa influência norte-americana na região.

Convêm considerar que a já surrada consigna do anticomunismo pareceu aos estrategistas norte-americanos de pouco impacto hoje em dia em face do desmonte da comunidade socialista mundial. Era preciso associar o perigo a alguma representação que pudesse suscitar o temor de uma mudança num mundo já sobejamente pleno de atitudes que têm incomodado os mais conservadores como o dos costumes, por exemplo. Daí, o apelo ao fantasma do terrorismo, que embora exista objetivamente e seja utilizado de forma a criar embaraços ao domínio do imperialismo de hoje, tem sido um expediente dos tais estrategistas.

A reunião de termos aparentemente complementares produzido por essa lógica na estratégia dominante do grande capital é traduzido pelos vocábulos da ditadura, comunismo e terrorismo usados para incriminar todos quanto confrontam o poder hegemônico.

Geralmente para esses ideólogos do capital, ditadura é aquele regime que denuncia às relações sociais desiguais características do modo de produção capitalista, bem como suas políticas geradoras da exclusão social. Assim, os ideólogos norte-americanos ao considerarem os Estados Unidos defensores de um suposto regime de liberdade, se julgam defensores dos valores democráticos através de poderosos meios de comunicação. Sobretudo as mídias eletrônicas, que difundem essa falsa definição que acaba por ser reproduzida por incautos geradores espontâneos dessa estratégia que visa neutralizar o desvelamento das realidades injustas tidas como naturais.

Quanto ao comunismo e ao terrorismo o objetivo é o de procurar uma ilusória associação entre ambos. Como males a causar perdas de bens e insegurança, dois valores materiais e existenciais que costumam ser justamente sustentados por todos os que com base no seu esforço e trabalho garantem de certa forma a aquisição tanto de um quanto de outro. O poder dessa dissimulação costuma ser eficaz.

No instante em que escrevo essas considerações evocando fatos relacionados com o nosso passado recente estamos conhecendo a mais terrível conjugação de situações jamais vista. E essa novidade está no ato terrorista mais autêntico, ato este derivado de uma organização, o Hamas, cuja origem e objetivos traduzem um teor fundamentalista, logo intolerante. Esta intolerância mesmo que tenha razões para que seja despertada diante do não reconhecimento do direito de um estado palestino na região não diferencia inimigos e vítimas. A isso se aplica corretamente o conceito de terrorismo.

Por outro lado, foi desencadeada a contraofensiva israelense, que age da mesma forma que os seus inimigos, ou seja, adota práticas de terrorismo, com a única diferença de ter sido desencadeada pelo estado. Logo, é um terrorismo de estado. É pena que uma sociedade nacional representante do povo judeu massacrado no holocausto venha a adotar o mesmo método criminoso daqueles que vitimaram inocentes cidadãos indefesos.

Acresce a isso a disponibilidade por parte dos Estados Unidos de fornecerem forças marítimas, aéreas e quiçá em breve também terrestres, se a essa altura já não estejam sendo empregadas, de modo a caracterizar um outro patamar de terrorismo, aquele que atende pelo nome de imperialismo de novo tipo sem perder os seus fundamentos originais.

LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON);  Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

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