Por Cacau de Brito –
As eleições municipais trouxeram à tona um cenário preocupante para aqueles que acreditam na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável.
O aumento da presença evangélica na política institucional, o fortalecimento do “Centrão”, formado por partidos de direita, e a ascensão de políticos da extrema direita em cidades-chave revelam um movimento que não pode ser ignorado. Esse resultado não apenas aponta para uma reconfiguração do cenário político, mas também sugere importantes lições que precisam ser debatidas e compreendidas por todos que desejam um futuro de prosperidade com justiça social.
Ascensão de políticos conservadores e o apoio de líderes evangélicos
Um dos fenômenos mais notáveis deste pleito foi a crescente presença de candidatos evangélicos ou apoiados por líderes evangélicos que, com uma base de fiéis cada vez mais engajada e organizada, conseguiram mobilizar suas comunidades em torno de pautas conservadoras. Essa ascendência não é acidental; reflete um trabalho estratégico e contínuo de articulação política que se intensificou nos últimos anos. A polarização social, exacerbada pela crise econômica e pela pandemia, criou um terreno fértil para a disseminação de discursos que prometem segurança e a volta dos “valores morais tradicionais”. A utilização de redes sociais e o fortalecimento de lideranças locais dentro das igrejas contribuíram para essa onda conservadora, muitas vezes em detrimento dos direitos de minorias e de pautas progressistas.
Fortalecimento do chamado “Centrão”
Os partidos de direita que formam o bloco apelidado erroneamente de “Centrão” (já que na prática são os maiores defensores do neoliberalismo e da manutenção dos privilégios dos ricos e super ricos) souberam se apropriar das insatisfações populares e oferecer respostas simplistas para problemas complexos, aproveitando-se da vulnerabilidade social e da falta de representatividade política de segmentos que tradicionalmente defendem a igualdade e a inclusão. Essa estratégia foi particularmente eficaz em cidades que enfrentam desafios econômicos e sociais profundos, onde a esperança de mudança rápida se tornou uma moeda valiosa. Os políticos do “Centrão” tiveram a habilidade de atrair eleitores desiludidos com a polarização política e com a falta de resultados concretos das administrações anteriores. Assim as urnas nos revelam que esses partidos seguem consolidando sua posição como uma força política dominante afinal, sempre souberam se adaptar ao poder para não perder seus privilégios.
A importância das redes sociais
Outro aspecto crucial dessas eleições foi o papel das redes sociais. Os candidatos que souberam utilizar essas ferramentas de forma eficaz conseguiram alcançar um público mais amplo e engajar eleitores de maneira mais direta e pessoal, afinal, a atenção de todos tem sido capturada com sucesso pelas redes sociais, independentemente da classe social ou do nível de escolaridade. As redes sociais, devido à falta de regulação e de fiscalização, também se tornaram o ambiente preferido dos marqueteiros mal intencionados para disseminar mentiras e assim manipular uma grande parcela de eleitores mais vulneráveis a informações falsas. O lado positivo dessas ferramentas é que por meio delas tem sido possível responder rapidamente às demandas e preocupações dos eleitores. Este foi um diferencial importante.
Desafios para a esquerda e a centro-esquerda
Para os partidos progressistas essas eleições servem como um alerta para a necessidade de se reconectar com a base eleitoral e de se apresentar propostas que realmente atendam às demandas da população. O futuro da democracia e da saúde das instituições dependerá da capacidade desses partidos entenderem e se adaptarem a essas novas realidades. A forças de esquerda precisam urgentemente fazer uma reflexão profunda sobre suas estratégias e prioridades. Uma das lições mais evidentes é a necessidade de uma reaproximação com a base popular. O distanciamento de questões cotidianas, como emprego, saúde e segurança, em favor de um discurso muitas vezes elitista e distante, pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a perda de espaço nas prefeituras e câmaras de vereadores. Para se reerguer, é essencial que a esquerda volte a dialogar com a população, compreendendo suas reais necessidades e propondo soluções concretas.
A impunidade de um ator influente
O resultado das urnas também revelaram o perigo de se manter impunes Bolsonaro e seus auxiliares mais próximos. Não sabemos ainda o tamanho da influência do ex capitão nessas eleições, mas enquanto continuar fora das grades seguirá interferindo nos rumos da política brasileira. A Justiça ainda não conseguiu responsabilizar de forma robusta nem o Bolsonaro nem os outros agentes públicos civis e militares responsáveis pelo período da mais grave delinquência governamental já vista no Brasil. Entre os que atentaram contra o regime democrático até agora somente os lambaris caíram nas redes do Poder Judiciário. Sempre foi assim! Os tubarões com poder político ou poder econômico nadam em mares profundos, longe dos olhares dos juízes. Lamentável!
Para se contrapor à essa onda de propostas excludentes e à ascensão de políticos conservadores o campo progressista deve resgatar a capacidade de sonhar enquanto promove políticas públicas que corrijam as desigualdades sociais, que defendam os direitos humanos, que respeitem à diversidade e que favoreçam a construção de uma sociedade inclusiva, justa e fraterna.
Que haja conscientização política e uma educação crítica voltada para as comunidades. Que se invista em mobilização e engajamento cívico essenciais para a saúde da nossa democracia que de novo será colocada à prova no horizonte de 2026 que se aproxima.
CACAU DE BRITO é advogado, escritor, membro da Igreja Batista do Recreio e do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.
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