Por José Macedo –
A incapacidade de pensar, de refletir e de colocar-se disponível para ouvir e ver o outro como semelhante é fenômeno da Era atual.
Nada aparece sólido, tudo é fluido e passageiro. A “modernidade é líquida, é fluída, desorganizadora do comportamento humano, da cultura, da política etc. Apoio-me nessa reflexão no pensamento do filósofo polonês, Zygmunt Bauman.
Ontem, após conversar com alguns amigos, imaginei: nossas referências, considerando escritores e filósofos, tendo como ponto inicial o iluminismo, passando pelos mentores da Revolução Francesa, século XVIII, indo aos inúmeros pensadores do século XIX, vejo que, o cultivo e construção do humanismo, a harmonia entre o homem e a natureza, desejados, fracassaram. Que pretendo com essa introdução? Quero dizer, sem medo de errar: hoje, ser intelectual, buscar a origem dos fenômenos, fatos sociais e políticos estão fora de moda. A educação para pensar, para refletir, enfim, a razão e intelectualismo são rejeitados, até vencidos pelo antiintelectualismo. A preguiça e o comodismo mental são marcos dessa Era de incerteza e obscuridade. As pessoas preferem o consumo pronto e acabado das explicações dos fatos, sejam eles culturais, políticos ou até, da prática jurídico processual.
É a Era das boiadas e das “marias vão com as outras”, passa um boi, passa a boiada.
Diariamente, vê-se com muita frequência essa constatação nas redes sociais, no relacionamento entre pessoas e, nos demais veículos do comunicação. Nas redes sociais observamos as preferências nos compartilhamentos, no ato de pensar e nas opiniões. Estamos na época do “fast food” da produção intelectual, se assim posso dizer. Ao que aparece nada é sólido, tudo é temporário e passageiro. Os manipuladores de idéias rezam pelas cartilhas da Grande Mídia, que manipula e é auxiliada por milhares de igrejas evangélicas e pentecostais, do “Bispo” Macedo, do Malafaia, ao Valdomiro, bem como por outros vendedores de idéias e do Paraíso, até dos chamados filósofos, ligados às Universidades, os intelectuais, Mário Portella, Leandro Karnal etc, além de livros de auto ajuda.
Como corolário, temos a relativização do conceito de democracia, de esquerda e de direita, a proliferação das notícias falsas, da pós-verdade, o primado da versão ou da convicção sobre os fatos e as provas etc. Há dias, ouvi de uma cliente: “Pra que estudar? Trata-se de um desnecessário esforço e perdas. Meu filho irá montar um negócio e vai ganhar dinheiro”. Então, perdemos, como consequência, a cultura da busca intelectual, do estudo e da pesquisa. A Universidade e a pesquisa perdem terreno para o charlatanismo e o improviso. Entramos no século das futilidades, do consumo fácil e já digerido, incluindo o da educação dos filhos, da alimentação, da reflexão e da produção de idéias. Observo esses fenômenos em todos os segmentos da vida, incluindo o direito, a politica e até na medicina. O Capitão presidente receita remédios para o vírus da Pandemia. As idiossincrasias estão disseminadas, como vimos o lawfare, do Power Point, do ex-juiz, Sérgio Moro e de seu comparsa, Deltan Dalagnol. Assim, ouvi: “não tenho provas, mas tenho convicção”, das prisões preventivas, provisórias indefinidas, e conduções coercitivas, enfim as condenações sem provas. Para que provas, se possuo minha versão e convicção? O descalabro de nossas vidas em sociedade é total. Então, se quero resultado rápido, tudo é válido, mesmo na dúvida.
Esse é o modismo e sua penetração do “fast food” em nossas vidas, ora indicadas. Essa é a fotografia de nosso mundo, de nossas vidas, ver quem quer e possua disponibilidade e esperteza mental. Não quero investigar! Ora, “se tem aparência de bandido, pode abatê-lo, tem cara de bandido”. Lembro, finalizando, da escola sem partido, cujos traços, ora apontados, estão presentes no texto, resultado de minha boa vontade para refletir.
Abraços a todos e Feliz ano Novo, 2022!
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
Tribuna recomenda!
NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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