Redação –
Alvo de buscas, lobista Andreson Gonçalves é apontado como personagem-chave em escândalo de comércio de decisões no STJ e em tribunais de justiça.
Empresário do ramo de transportes, o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves é um homem de muitos segredos. Sem formação jurídica, ele gaba-se de ter acesso privilegiado a desembargadores do Mato Grosso do Sul e Goiás e de ter “amigos” poderosos em gabinetes-chave de ministros que cuidam de processos de Direito Privado no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Sua rede de conhecidos o levou a ser convidado recentemente para a cerimônia de posse de três magistrados do STJ, a acompanhar do back stage uma apresentação do cantor sertanejo Zezé di Camargo e a repetir à exaustão um bordão sacado sempre que conseguia uma decisão favorável comprada na segunda corte mais importante do país: “aqui resolve, Zamp”.
Zamp é Roberto Zampieri, um advogado de Cuiabá assassinado à queima-roupa no final do ano passado e cujo telefone celular levou a Polícia Federal a se deparar com um lucrativo esquema de venda de sentenças no STJ.
Na quinta-feira, 24, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Andreson. Em Mato Grosso, policiais recolheram um computador usado pelo lobista.
Em Brasília, um dispositivo que é considerado uma mina de ouro pelos investigadores: o celular do empresário. O aparelho está oficialmente registrado em nome de sua esposa, a advogada Miriam Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves e travado com senha. Ele se recusou a fornecer o código que dá acesso ao acervo do aparelho.
Considerado o novo celular bomba no esquema de venda de sentenças judiciais, o telefone de Andreson pode listar, por exemplo, as amizades e altas autoridades com quem o lobista conversava sem maiores sem maiores mesuras e complementar conversas cujo contexto parcial só é sabido hoje pelo conteúdo do telefone de Zampieri. Em quatro anos de tratativas, Andreson encaminha ao comparsa, a quem considerava um amigo com quem dividia interesses em fazenda diferentes minutas de votos de ministros do STJ. Acessar o celular pode ajudar a identificar, por exemplo, o autor original do documento enviado e eventuais novos integrantes do esquema.
Nos diálogos com o defensor assassinado, o lobista também cita nominalmente dois chefes de gabinete de magistrados do STJ e dois servidores do tribunal. Juntos, os quatro, na versão de Andreson, eram fartamente remunerados para produzir votos nos gabinetes dos ministros Paulo Moura Ribeiro, Og Fernandes, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Há referências a supostos telefonemas de um deles cobrando valores em atraso e encontros ao vivo com uma assessora hoje investigada por comercializar decisões judiciais. A PF não colheu evidências de que os ministros soubessem ou endossassem a venda de sentenças, mas vasculhar o inventário de diálogos e identificar a geolocalização do portador do telefone nos dias em que as decisões foram mercantilizadas são considerados um senhor ganho à investigação.
Assim que as primeiras descobertas foram tabuladas pela Polícia Federal a partir do celular de Roberto Zampieri, os quatro ministros do STJ foram chamados para uma reunião de emergência na Presidência do tribunal. A então presidente Maria Thereza de Assis Moura revelou a suspeita de envolvimento dos assessores, anunciou a abertura de uma investigação interna e relatou o uso das minutas como matéria-prima da trama criminosa. Isabel Gallotti e Og Fernandes saíram em defesa dos funcionários na berlinda e disseram colocar a mão no fogo pela equipe. O clima de caça às bruxas instalado desde que VEJA revelou as investigações sobre o comércio de votos de ministros pode agora atingir um novo patamar – catapultado pelo celular explosivo de Andreson Gonçalves.
Fonte: Veja / Foto: lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, suspeito de integrar esquema de venda de sentenças, foi alvo de operação da PF (Reprodução/Arquivo pessoal)
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