Por Miranda Sá

“O Diabo se empenha em nos dominar nas pequenas coisas para nos enfraquecer” (São Vitor)

O nosso epigrafado, Vitor, santo católico nascido na Sicília viveu à época dos imperadores romanos Diocleciano e Maximiano e das perseguições aos   cristãos. Morreu como mártir da Igreja, e, se não me engano, é padroeiro da cidade de Praga.

Em vida, São Vitor pregava a palavra e os milagres de Jesus Cristo, e principalmente o enfrentamento d’Ele com o Diabo, expulsando a Legião de demônios que dominavam um pobre homem.

Foi talvez o primeiro pregador evangélico a ilustrar o episódio do Cristo de não se deixar seduzir pelo Diabo, conforme Lucas expôs: – “… E o Diabo mostrou-Lhe num instante do tempo todos os reinos do mundo e disse-Lhe:  ‘Tudo será teu se me adorares’; e Jesus respondeu irado: – ‘Vai-te, Satanás; porque está escrito: – ‘Adorarás o Senhor Deus e só a ele seguirás’.

Reconhecendo a existência do Diabo, a Bíblia diz: – “… E isso não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz. Portanto, não é nada demais que os servidores dele se disfarcem, apresentando-se como pessoas que fazem o bem. (2 Coríntios 11:14-15).

Isto suscita uma pergunta importante:  Por que Deus criaria Satanás, um diabo ‘ruim’ (o nome significa ‘sedutor’) para corromper a humanidade? Deus prometeu a redenção no início dos tempos segundo Abraão e através de Moisés; e realizou com a ressurreição de Jesus.

E o que encontramos nos textos bíblicos é que o Diabo, ao contrário, faz tudo para enganar as pessoas negando as promessas divinas e as impedir de entrar no reino dos céus para se apossar das suas almas.

Pouco informado, não sei como os atuais teólogos católicos, cismáticos e evangélicos têm abordado a existência do Diabo, embora constate que esta figura sinistra se faz presente no imaginário dos sectários cristãos de todas igrejas.

O povo em geral vê o Diabo como um ente do mal.

Sua referência aparece em não-sei-quantos sinônimos; dicionários de gíria e termos populares registram anjo mau, ardiloso, belzebu, canhoto, capiroto, cão, chifrudo, cornudo, demônio, lúcifer, maldito, maligno, malvado, satanás, tinhoso…

É corrente também o crédito nas possessões. De vez em quando aparece alguém com o diabo no corpo, situação reconhecida por todas as denominações cristãs ao manter padres e pastores exorcistas e que é explorada cinematograficamente…

Conforme é fácil ver-se, há muitos endemoniados entre os políticos brasileiros, que reconhecemos pela atuação eleitoralista junto às igrejas e na proliferação de sacerdotes políticos atuantes nos poderes republicanos.

Numa viagem do ministro-pastor Milton Ribeiro revelou-se um diabólico esquema de corrupção através do também pastor Gilmar dos Santos, que assegurou ao Prefeito do Município ser o responsável por garantir verbas para prefeituras. Também não se sabe se é Deus ou o Diabo em nome do qual foi criado um “gabinete paralelo” no Ministério da Educação.

Sabíamos e acompanhamos os desmandos ideológicos da ala direitista mais radical no Ministério do Governo Bolsonaro, mas ignorávamos que esta Pasta sofrera a ocupação de um grupo capitaneado pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura. E que com isto se explica que a agenda do Ministro-Pastor seja feita pelos colegas sem vínculo formal com o órgão.

Como sou cismado, me pergunto se esta situação acolhe “mercadores” como aqueles que Jesus expulsou do Templo chicoteando-os. Sei que muitos sacerdotes das mais diversas religiões e seitas “cobram” uma falsa intermediação com Deus; mas é a primeira vez que vejo atuarem com lobistas repassando verbas públicas. Esta revelação que vem de uma reportagem do Estadão, é revoltante.

Veio, porém, em boa hora. Mostra que as transações feitas pelos lulopetistas nos governos de Lula e Dilma sobrevivem no Governo Bolsonaro comprovando a existência do “bolsopetismo”, que iguala os populistas de esquerda e de direita nas trilhas obscuras da corrupção.

Tenho certeza que esta gente sabe de cor passagens dos livros do Pentateuco, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, mas não conhecem Shakespeare: – “O diabo pode até citar as Escrituras quando isso lhe convém…”.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br


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