Por Ricardo Cravo Albin –
O ano que está agora a se encerrar envolve a edição de dois livros sob a minha supervisão direta.
O primeiro deles – “Carioquice: as históricas entrevistas de capa da Revista” – foi lançado há dias na Livraria da Travessa, com atenta supervisão dos editores João Pedro e Luiz Cesar Faro, ambos da Insight, coadjuvados por Carlos Barbosa, da Editora Batel. O livro, patrocinado pela Faperj, é uma produção do Luiz Cesar Faro com a Insight ao lado do Instituto Cravo Albin, e abriga um tesouro jornalístico: 50 longas matérias de capa da Revista Carioquice.
O segundo livro a que me refiro acima é um volume memorial que imaginei para homenagear Nélida Piñon no Pen Clube do Brasil. Ela que nos deixou inesperadamente na Europa ainda em 2022.
Este “Nélida para sempre” está quase finalizado e será lançado para abrir o ano literário que se inicia daqui a pouco, 2025.
Esta edição representa uma sequência de originalidades. A começar por ser o primeiro livro memorial do Pen Clube do Brasil dedicado por nossa Associação Internacional dos Escritores a um integrante recém-falecido.
Louvar-se personagem icônico da dimensão de Nélida não é, reconheço, tarefa tão fácil assim. Afinal, ela ecoa e se cristaliza na literatura mundial e entre os melhores artífices da arte do escrever. Talvez seja a mais reconhecida voz do Brasil no restrito núcleo dos artistas latino-americanos – amigos seus como Fuentes, Octávio Paz, Isabel Allende, além de Vargas LIosa (Prêmio Nobel e ex-presidente do Pen Internacional).
Esta publicação começou a ser tramada na tarde do velório de Nélida na Academia Brasileira de Letras. Os convites para se perfilar um réquiem literário conveniente só poderiam mesmo ficar à escolha exclusiva de Dalma Nascimento, considerada por todos, e também por Nélida, a mais atenta investigadora da obra da grande escritora.
Todos os textos produzidos especialmente para esta publicação “Nélida para sempre” são inéditos e exclusivos.
Testemunho aqui como Presidente do Pen Clube e amigo por mais de sessenta anos da homenageada, que a morte da Dama de Pétalas (como o cineasta-escritor Wander Lourenço intitulou sua sensível cinebiografia feita pouco antes de sua partida) repercutiu amargamente em minha alma.
Morrer em longínquo hospital de Lisboa? Logo ela, tão envolvida com estimas e bem-querenças, e tão próxima aos afagos e mesuras dos muitos devotos que, ardentes, sempre a acumulavam de sutis cuidados e toda sorte de delicadezas? Tudo isso, quando eu refletia sobre o inesperado desterro na hora de morrer longe do Brasil, prostrou-me ainda mais abatido.
Sequer pretendo aqui enumerar as qualidades altíssimas que sempre povoaram o intelecto de Nélida, sua cultura tão afiada em apontar as origens da Galícia dos seus pais, e do Brasil, seu berço. Bem como o dever de realçar necessariamente suas qualificações como ser humano fraterno e sempre solidário às causas mais nobres do país e dos desprotegidos. Além do trato pessoal encantador pela doçura (e firmeza) de sua voz e de seus gestos elegantes. Tudo isso está minuciosa e emocionadamente condensado nos muitos artigos apontados por Dalma.
Compraz-me evocar alguma memória que preservo comigo da amizade que nutrimos por quase sessenta anos. Lembro-me dos encontros em que reuni Nélida e Fernanda Montenegro ao presidir por tantos anos a Academia Carioca de Letras. Numa, em homenagem a Paschoal Carlos Magno (que integrou a ACL), Fernanda verteu algumas lágrimas ao reclamar do esquecimento de certos vultos notáveis em seu tempo, mas hoje desterrados ao “mais torpe esquecimento”.
Quando Nélida recebeu o Grande Prêmio Pen Clube 2021, talvez a última homenagem pública a ela atribuída, transmiti a cerimônia para todo o mundo pelas redes sociais da Casa Claudio de Sousa, nossa sede no Flamengo. Em especial para os mais de 200 afiliados ao Pen Clube Internacional.
Os elogios em celebração à escritora e intelectual Nélida Piñon chegaram de vários institutos culturais europeus, espalhados pelos cinco continentes. Quase sempre a louvando como uma das bandeiras internacionais da Nova Literatura Latino-Americana, ao lado de Paz, Fuentes, Isabel Allende e Llosa, entre outros.
De Nélida, ainda evoco com emoção um jantarzinho cá em minha casa, embaixo das mangueiras da Urca, para celebrarmos a nomeação dela para cátedra de duas importantes universidades norte-americanas. Estava presente Bibi Ferreira, que, logo depois de eu erguer um brinde a homenageada, fez-lhe um pedido inusitado: “Nélida, dê-me sua mão direita”. Todos nos entreolhamos com o gesto surpreendente. E Bibi, de mãos entrelaçadas com a de Nélida, recitou-lhe o belo poema “Monólogo das mãos”, de autoria de Giuseppe Ghiaroni. Nélida, desta vez, não agradeceu, engasgada pela emoção.
Registro aqui, neste final de texto, um agradecimento emocionado à Karla Vasconcelos, amiga dedicadíssima de Nélida que não poupou gentilezas e solidariedade ao saber da confecção deste livro memorial.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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