Redação

Os acertos sobre cargos entre líderes de partidos do Centrão e o Planalto têm passado, desta vez, longe de congressistas relevantes, incluindo presidentes de comissões.

Poder360 conversou com 6 dos 11 presidentes de comissão da Câmara (há 25 colegiados) filiados a partidos próximos do governo e que tentam ampliar sua participação no Executivo. Eles dizem não ter sido procurados por líderes para falar sobre as negociações de cargos com o Planalto. Acham que mesmo nomeações não farão a relação do Executivo com o Congresso melhorar.

Os deputados ouvidos pela reportagem são PP, PL, PSC, SD, PSD, MDB e Republicanos. Republicanos e PSC não integram formalmente o bloco do Centrão, mas se aproximam do governo.

As comissões não estão em funcionamento atualmente devido ao isolamento imposto pela pandemia da covid-19. Mas seus presidentes foram ouvidos porque integram parte da elite da Câmara.

O presidente da Comissão de Segurança, Capitão Augusto (PL-SP), disse que não será a 1ª vez que  líderes fazem indicações e, só depois, apresentam o nome à bancada.

“Eles dizem: ‘Fulano lá no ministério tal é nosso. Se tiver alguma demanda, fala com ele’”, afirmou Augusto. O deputado nega que tenha indicações de cargos para fazer ao governo.

Para Gilberto Nascimento (PSC-SP), presidente da Comissão de Pessoas com Deficiência, os cargos não são o único modo de se aproximar do Executivo. “É preciso atender alguns programas”, disse. Ele não especificou quais.

Fabio Mitidieri (PSD-SE), presidente da Comissão de Esporte, disse que seguirá independente, portanto não fará indicação a cargos caso seja consultado. Mas aceita que outros façam. “O partido é plural”, afirmou.

Bosco Saraiva (SD-AM), que preside a Comissão de Desenvolvimento Econômico, é peremptório: “Não há aproximação. Isso não foi discutido”, afirmou.

Neta 4ª feira (6.abr.2020) foi nomeada a 1ª indicação do Centrão pactuada nas últimas semanas. Indicado pelo PP, Fernando Marcondes de Araújo Leão é o novo diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). Há, no bloco, a expectativa que mais nomeações sejam destravadas nos próximos dias.

Um contraste do governo Bolsonaro em relação aos anteriores é a resistência à distribuição de cargos entre políticos.

Isso tem 2 motivos. O 1º é simbólico: tentar mostrar que não cederá a barganhas que levaram à corrupção. O outro é negocial: melhorar as condições de barganha. Se há menos vagas a oferecer, elas valem mais.

A oferta de cargos não começou agora. Apenas tornou-se 1 pouco menos restrita. Mas como a promessa é maior do que a realidade, os líderes estão limitando o acesso às negociações.

O governo arrisca-se a ter o pior de 2 mundos. Perderá a imagem de resistir à barganha. E não terá a base sólida que espera. Os efeitos disso por ora são difíceis de prever. Não há mesmo chances de as reformas avançarem em 2020.

O Planalto tem se mostrado disposto a ampliar a oferta. Busca sucesso em duas frentes. Quer ter influência na escolha dos sucessores de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre em 2021. E esvaziar a ideia de impeachment. Raros são os congressistas que veem chances reais de 1 processo com as informações disponíveis. É importante para o governo que continuem a ser poucos. Quanto menos melhor.


Fonte: Poder360