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Negacionismo eleitoral – por Jeferson Miola
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Negacionismo eleitoral – por Jeferson Miola

Por Jeferson Miola

O negacionismo eleitoral é um mal que parece afligir variados segmentos ideológicos. Não faltam aqueles de esquerda que resistem a encarar a dura realidade mostrada pelas urnas na eleição municipal deste ano.

Atacam e questionam a priori todas análises que não sejam pelo menos otimistas sobre os resultados eleitorais para as esquerdas.

Pode ser uma escolha cômoda –e ilusória– para apaziguar a alma, mas é uma postura que não resolve o problema essencial, que é o revés estrondoso das esquerdas na eleição e o avanço das direitas e do extremismo no país.

Os negacionistas contestam especialmente três realidades.

A primeira delas, de que o campo da direita e extrema-direita não foi o vitorioso na eleição. Para isso, sustentam que a direita não é direita, porque, na visão deles, é centro –ou centrão–, e, além disso, que tais forças “centristas” integram o governo Lula. Logo, entendem que a base do governo teria sido a grande vitoriosa.

É fato que nos partidos de direita que integram o governo, como PSD, MDB e Republicanos, para citar alguns, existem políticos que apoiam Lula hoje e tendem a apoiá-lo na reeleição em 2026. Não se pode desprezar, contudo, a heterogeneidade de tais agremiações, que congregam nas suas fileiras tanto políticos democratas como extremistas, quando não fascistas e, sobretudo, ultraliberais antipetistas.

Não seria ilusório, neste sentido, contabilizar Ricardo Nunes e Sebastião Melo, do MDB; Topázio Neto em Florianópolis e Eduardo Pimentel em Curitiba, todos com vices do PL e atávicos antipetistas, como integrantes do campo de sustentação do governo Lula e apoiadores da sua reeleição?

Mesmo Gilberto Kassab assumindo que vai estar “alinhado com o projeto que seja compatível com o projeto do Tarcísio, seja ele governador ou presidente” [8/10], há quem acredite que esta direita seja confiável e esteja, de fato, com Lula.

Tarcísio, como se sabe, é o bolsonarista e extremista com tintas artificiais de moderado que no dia da votação criminosamente ligou o modo Pablo Marçal para atacar Boulos.

Os negacionistas alegam que a extrema-direita foi grandemente derrotada, mesmo depois das vitórias do Tarcísio no estado de São Paulo e de outras vitórias de extremistas país afora. Justificam esta visão porque entendem que a extrema-direita se restringe ao PL, partido de Bolsonaro, quando se sabe que outras siglas, como União Brasil, Novo, Podemos, Republicanos, PP e até MDB e PSD, também albergam extremistas e são movidas pelo ódio antipetista.

O negacionismo contesta, também, que o PT tenha sido derrotado. Afinal, cresceu o número de prefeituras que o Partido administrará a partir de 1º de janeiro de 2025, o que de fato aconteceu.

Ocorre, no entanto, que enquanto as direitas e os extremismos abocanharam os grandes centros urbanos do país e governarão mais de 160 milhões de pessoas, a quase totalidade das prefeituras conquistadas pelo PT [92%] são de municípios com até 20 mil habitantes [75%] e entre 20 mil e 50 mil habitantes [17%].

Ou seja, enquanto o PT e as esquerdas se localizam preponderantemente nas menores cidades, as direitas e as extremas-direitas controlarão os centros urbanos mais densos e com maior poder de propagação da disputa pela hegemonia política, cultural e ideológica.

O negacionismo eleitoral sustenta, ainda, que as emendas do orçamento secreto, mais que outros determinantes, foram o fator central para o crescimento do campo conservador e reacionário. Por este raciocínio, as emendas parlamentares teriam vencido a eleição, mas não foi o PT e as esquerdas que perderam.

É consenso o peso das emendas parlamentares no clientelismo paroquial, mas este aspecto não é suficiente para sustentar esta terceira realidade questionada pelo negacionismo.

Considerando o valor total das emendas individuais que irrigaram as paróquias eleitorais de 2021 a outubro deste ano, os parlamentares do PT ficaram com o terceiro maior quinhão de emendas, R$ 6,2 bilhões de reais, logo abaixo apenas do União Brasil, com R$ 7 bilhões, e do PL, com R$ 6,5 bi, e acima das demais siglas, inclusive o PSD, MDB e PP, que conquistaram muito mais prefeituras e elegeram muito mais vereadores [quadro abaixo, com dados do Senado sistematizados pelo Estadão].

O reconhecimento da derrota eleitoral não é nenhum demérito para as esquerdas e, menos ainda, expressão de derrotismo ou catastrofismo, mas um ponto de partida essencial para que o governo, os partidos de esquerda e progressistas possam encontrar respostas adequadas à realidade complexa que se apresenta e que alerta para o risco da reeleição do Lula em 2026.

Rechaçar a realidade tal como se apresenta porque não se gosta dela ou simplesmente porque ela é desfavorável não resolve os problemas, e só nos encaminha para novos reveses.

Há muito a ser feito para se reverter este cenário adverso. E há tempo suficiente para isso, desde, no entanto, que se tenha como ponto de partida a realidade concreta, nua e crua, não nossos desejos ou nossas vontades idealizadas.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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