Por Ruth de Aquino

O que parece covardia pode ser sabedoria. Vamos deixar para sair no domingo 12. Tudo o que deseja o profeta da morte Jair Bolsonaro é um confronto direto, é a desordem, um pretexto para intervir e colocar os militares nas ruas. Esse golpista no Planalto insufla uma guerra civil – de preferência com vítimas. Não está satisfeito com os quase 600 mil mortos da pandemia. Quer mais. Quer o pandemônio.

“Uma guerra civil seria ideal para Bolsonaro agora, para tentar decretar o estado de sítio”, me disse o escritor e sociólogo Sérgio Abranches. “Vai ter agente provocador dele buscando pancadaria. Para Bolsonaro dizer, depois, que precisa restaurar a ordem. Por isso, governadores e prefeitos estão cautelosos. Tentam evitar o confronto. A ideia de protestar contra Bolsonaro em outra data, no domingo, tira dele seu maior trunfo”.

A obsessão de Bolsonaro é a morte. Não a independência. Vemos tudo isso há tanto tempo. Sempre adulou torturadores. Bolsonaro é o coveiro do Brasil e imita, com riso e galhofa, a falta de ar de pacientes de Covid. Explora suas cirurgias com imagens escatológicas. Ninguém merece ser exposto à barriga do presidente. Nem ao resto dele.

A morte é sua principal conselheira, não o tchutchuca do Paulo Guedes. E é por isso que afirma que só sai morto da política. A derrota ele rejeita. A prisão ele abomina. Convoca a população a uma batalha campal, enquanto se protege com sua guarda. É uma cilada.
Bolsonaro não é fascista, o fascismo era mais sofisticado, menos bronco. Eu temo concordar com Abranches. Geneticamente, Bolsonaro se identifica mais com o nazismo. Seu apoio se concentra em grupos armados da PM, das Forças Armadas e de civis que ele está conseguindo armar. “Hitler fez isso com as SA (Sturmabteilung ou Tropas de Assalto), as milícias paramilitares. Em outra medida, Chávez fez isso na Venezuela, com as milícias bolivarianas”.

O povo não está com Bolsonaro nem poderia, sem feijão, sem luz e sem emprego. Deus não está com ele. O Supremo Tribunal Federal tampouco. Os generais? Divididos. Em off não o apoiam. Em on, só criticam Bolsonaro os que já deixaram o governo. O Centrão está com Bolsonaro? Sim, até o barco naufragar. A Câmara está com Bolsonaro e por isso não analisa pedidos de impeachment? Mais ou menos. A Câmara tem medo. Da radicalização. Existe sim risco de golpe. Não há “ambiente”? Pois Bolsonaro está criando.

“Bolsonaro já percebeu que pode falar o que bem entende, ameaçar as instituições, ferir o decoro, cometer crimes de responsabilidade, tudo na mais absoluta impunidade. E com isso alforriou o lado podre da sociedade”, afirma Abranches. Seu nono livro, “O intérprete de borboletas”, é uma ficção inspirada em histórias reais de polarização em família, redes sociais, escolas e amizades desde a eleição de Bolsonaro.

Temos um presidente subversivo na pior concepção. O pandemônio é sua única saída. É o que pode livrá-lo da derrota fragorosa nas urnas e da prisão. A “fotografia” que Bolsonaro, o incendiário, quer transmitir para o mundo é o quebra-quebra. São seus apoiadores que sairão às ruas armados.

Aproveite o 7 de Setembro para celebrar a vida, entre os seus. Com máscara e vacina. Olhe pela TV a demonstração de ódio e intolerância, financiada por grupos poderosos. Esse é o conselho que dou a meus filhos. Proteste em outro dia, não bata boca com milícias bolsonaristas. A voz da Oposição será mais forte depois.

Paz, amor e saúde para você.

Fonte: Blogs/O Globo

RUTH DE AQUINO nasceu no Rio. Jornalista desde 1974. Mestrado em Londres sobre Ética na imprensa. Foi repórter, editora, diretora de redação, correspondente em Londres e Paris. Escreve sobre o ser humano e suas contradições.


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