Por Lincoln Penna

Mutirão é qualquer mobilização de indivíduos, coletiva e gratuita, para execução de serviço que beneficie uma comunidade ou sociedade. Assim é a definição. A pergunta é: estamos precisando acionar um mutirão nesse momento em que a pandemia se torna avassaladora? Parece que a resposta é óbvia. Então como organizar essa ação coletiva e voluntária, tendo em vista um governo avesso a qualquer medida dessa natureza? Esta é a questão, dado que a sociedade brasileira não pode permanecer imobilizada e se limitando apenas ao exercício, com razão, do seu direito à crítica. Mas é muito pouco diante da ameaça que paira sobre nós.

Hoje nos deparamos com uma polarização que consiste no confronto entre a racionalidade fundada na ciência e no conhecimento, contrária a boçalidade expressa na refutação de tudo que tenha alguma fundamentação científica, em nome de crenças miraculosas.

Essa atitude de negação das evidências é também uma maneira de acobertar o projeto de um governo que precisa apostar na confrontação, mesmo em face dessas evidências. É um governo tosco, mas é governo, mesmo que se afaste de tudo que possamos entender por governabilidade, e se cerca de gente da mesma espécie. Neste sentido, qualquer atitude de coalizão frente a ameaças à sociedade não lhes convém. Daí, a insistência em defender o indefensável, ou seja a descrença na vacina e nos procedimentos de defesa das pessoas.

Só assim podemos entender o negacionismo reinante na esfera federal, por alguém que mira exclusivamente a permanência à frente do governo. De preferência talvez pela via eleitoral, mas não se iludam que outras vias podem ser ensaiadas e tentadas, desde que a via institucional venha a ser duramente afetada pelos desdobramentos mais desastrosos da crise sanitária em ritmo tão veloz. Afinal, não esqueçam, Bolsonaro é um candidato à ditador. Veste a condição de Mito atribuída pelos seus fanáticos seguidores, está convencido que caberia bem, para ele, a vestimenta de todo poderoso. Ele não está sozinho. É sustentado por militares revanchistas, que expurgaram as poucas resistências na corporação e acabaram endossando a candidatura do capitão da reserva.

A negativa de uma autocrítica no seio das FFAA é vã. A exemplo do novo coronavirus, esse vírus que nos contaminou na arena política é hoje repudiado por todo o mundo civilizado, que preza o bem-estar dos povo. E neste embate é importante que todos se sintam pertencendo à Frente Ampla Anti-pandêmica. Porém, sua capacidade de mobilização requer inteligência, bom senso e capacidade de aceitação de todos eventuais adversários do passado, pois é um Mutirão pela Vida.

Da mesma forma, que é necessário contar com o recurso das demais instituições do Estado, bem como de entidades da sociedade civil num esforço hercúleo de reerguimento da vida plena dos brasileiros.

Que tal colocar essa questão à frente de qualquer outra iniciativa? No momento, é preciso que se tenha à frente desse Mutirão uma liderança confiável, em condições de capitanear a formatação dessa Frente Frente Ampla Pela Saúde do Povo Brasileiro; e, ao mesmo tempo superar a miséria da política hoje presente no cenário nacional representada por Bolsonaro e sua estupidez contumaz. É hora da ação. Cada um pode se incumbir de se unir a todos aqueles que estão empenhados em levar essa luta contra a peste pandêmica. O isolamento físico não deve nos privar da proximidade das ideias a nos conduzir para um Mutirão fraternal, cujas adesões podem nos fazer sentir pelo menos mais comprometidos na defesa do bem-estar de nosso povo diariamente submetido às ameaças da contaminação desse mal no dia a dia de seus deslocamentos entre casa e trabalho. Sejamos solidários àqueles que se expõem no vai e vem interminável de uma jornada pela sobrevivência.

Para essa gente precisamos nos mexer. Esta é a ideia do Mutirão.


LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.