Por José Carlos de Assis

O começo da derrubada do governo Bolsonaro tem data marcada: 8 de março, domingo, uma semana depois que os pobres, exauridos em seu dinheiro suado, tenham comemorado os dias inebriantes do carnaval dos ricos. Naturalmente, mesmo quem não tem dinheiro nenhum tem direito a folia. É sua compensação pela pobreza. Contudo, não pensem que o justo ressentimento por uma crise econômica e de desemprego cavalar ficará por isso mesmo. A verdadeira é revolucionária, dizia Lênin. A verdade agora está nos barracões vazios.

As mulheres convocaram uma manifestação que terá poucos paralelos na história dos movimentos populares do Brasil. Elas são a linha de frente da questão social. São elas que tomam conta das panelas, que alimentam os filhos e cuidam dos doentes na família. Representam um verdadeiro caldeirão social pronto a explodir. E não é preciso ser adivinho – basta falar com algumas mulheres – para entender o desgoverno Bolsonaro já não tem tempo e espaço para recorrer a artimanhas a fim de enganar o povo. Ele se tornou vítima de seu próprio veneno.

Tão importante quanto a presença de centenas de milhares de mulheres nas mobilizações do dia 8 é a adesão já anuncia de importantes categorias de trabalhadores. Devem participar petroleiros e petroleiras, caminhoneiros e caminhoneiras, eletricitários e eletricitárias, pessoal dos Correios e da Casa da Moeda, trabalhadores do Serpro e da Dataprev, além de outros que estão ameaçados pelo programa de privatização de Paulo Guedes, claramente voltado para a dilapidação do patrimônio do Estado.

Há um propósito deliberado na convocação da mobilização justamente para cerca de metade da data da mobilização convocada por Bolsonaro e seus asseclas para o dia 15. Será uma medida para se saber se cai antes ou depois do dia 8. O governo atual fará um esforço gigantesco para reunir gente, mas o encanto do “capitão” esgotou-se. Ele não pode oferecer nada ao povo que já não tenha oferecido, e claramente sem qualquer resultado. A única coisa que oferece de graça é o ódio. Contudo, também o caldeirão de ódio apagou-se. Bolsonaro já não fala em acabar com o socialismo no mundo.

Outra questão é a economia. O Brasil está suportando o quinto ano seguido de recessão. Isso é intolerável para o povo. Não vejo nas elites e nas classes dominantes, defensoras da democracia, ninguém preocupado com o desemprego e a prolongada recessão. Portanto, convém examinar com franqueza a hipótese de uma intervenção militar no jogo político na dimensão exata para que se recupere a economia e o emprego, e para a elaboração de uma nova Constituição – já que a de 88 está completamente desmoralizada devido à liquidação dos direitos sociais nela previstos pelos governos Temer e Bolsonaro.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.