Redação –
Há 40 anos, em 19 de julho de 1980, começavam os Jogos Olímpicos de Moscou. Seu mascote, um ursinho de pelúcia com cinturão olímpico, continua sendo uma imagem popular em muitos países mundo afora. Em 2016, o autor do símbolo, o artista russo Víktor Tchíjikov, falou à imprensa sobre sua criação mais famosa.
Como teve início da história do mascote dos Jogos Olímpicos?
Naquela época eu trabalhava em uma publicação infantil e não sabia nada do concurso para escolher o mascote olímpico. Tudo aconteceu por acaso. Um amigo se encontrou com um dos diretores da União de Artistas da Rússia e ele lhe contou sobre o concurso e disse que o Comitê Olímpico já havia recebido 40 mil versões de ursos, mas o júri não conseguia se decidir por ninguém.
Foi proposto então que os artistas participassem da competição. O prazo era de um mês. Em uma semana, fizemos vários esboços a lápis, mais de 100 ursos diferentes, e os enviamos ao Comitê Olímpico. Algum tempo depois, minha esposa encontrou meu amigo na rua e lhe perguntou: “Por você está tão triste?”, e ele respondeu: “Acabo de saber que escolheram o urso de Víktor, e não o meu”.
Então escolheram seu esboço. Houve alguma instrução especial do Partido Comunista para alterar a imagem?
Tive que desenhar um urso que não se parecesse com qualquer outro que milhares de artistas haviam concebido. Esta foi uma missão complicada. O nosso país não podia ser acusado de plágio. E Micha, graças a Deus, passou no teste.
Seu Micha é muito diferente do que a imprensa estrangeira apresentou ao mundo…
O urso russo era frequentemente usado em caricaturas políticas. Era um urso obsceno e descarado. Eu queria criar uma imagem otimista que evocasse os melhores sentimentos humanos. Demorou muito tempo para transmitir uma qualidade “olímpica” no Micha.
Inicialmente tinha pensado em colocar nele um gorro multicolorido em cada pedaço correspondesse com a bandeira dos países participantes nos Jogos Olímpicos. Mas o gorro não deixaria as orelhas à mostra. Coloco uma medalha em seu pescoço? Mas todos os mascotes já carregam. O castor do Canadá também usava medalhas.
Disseram que meu Micha era baseado em meu vizinho, o compositor Valéri Zubkov. Eu não neguei, era um bom homem. Na verdade, sonhei com Micha e seu cinturão olímpico. Vinha à mente diversas vezes quando trabalhava em um modelo. A coisa mais importante era acordar e desenhá-lo em seguida, senão, imediatamente esquecia.
Em agosto de 1977, em Moscou, foi celebrada uma exposição com 64 ursos. Nela estava o então presidente do COI, senhor Killanin Michael. De repente, ele parou na frente do meu trabalho e disse: “Aí está” – me contou um repórter.
Demorou um mês para ser chamado pelo Comitê Olímpico, provavelmente aguardando a aprovação do Partido [Comunista]. Esta é a história do urso. E a verdade é que me fez passar bastante nervoso.
Você se refere à questão dos registros autorais?
Não se registrou nada oficialmente. Eles me fizeram assinar uns documentos que certificavam que eu era autor de um projeto intitulado “Ursinho divertido”.
Então me deram 1.300 rublos do caixa do Comitê Olímpico e, em seguida, transferiram um pouco mais de dinheiro para a minha poupança. No total, recebi cerca de 2.000 rublos [o salário na URSS em 1980 era, em média, de 120 milhões de rublos]. Esse animalzinho ocupou 90% da propaganda olímpica.
Mas isso não é o pior. Após os Jogos Olímpicos de 1980, a opinião sobre a Rússia melhorou em todo o mundo, e o Micha desempenhou um papel importante nesse processo. Haviam imposto uma missão extraordinária e eu tinha cumprido bem o meu trabalho. Foi um verdadeiro golpe de sorte. Gosto desse urso como se fosse meu filho. E eu sou muito grato a Tumanov, o diretor dos Jogos Olímpicos de 1980, pela sua magnífica imagem do urso nas arquibancadas. Lembram quando ele deixa cair uma lágrima? A semelhança é impressionante. E o que dizer do urso inflável que sai voando para fora do estádio. Embora eu tivesse dado outras proporções.
A imagem de Micha foi depois manipulada no mundo inteiro. Não ficava surpreso quando ele o via com uma aparência distinta. Por exemplo, no formato de um frasco de perfume. Ou em caixas de fósforos. E, em Praga, meu Micha fazia parte da publicidade do Museu do Comunismo, embora aparecesse em um cartaz portando um rifle Kalashnikov. Para mim, Micha era o símbolo da paz.
Os marinheiros da frota comercial me contaram até que, em uma viagem à Polinésia, haviam dado um Micha ao líder dos papuas. Nos lugares que Miklukho-Maklai havia visitado. Achei muito divertido.
Publicado originalmente pelo jornal Rossiyskaya Gazeta.
Fonte: Gazeta Russa
MAZOLA
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