Por Daniel Mazola

Aos 100 anos de idade, o jornalista Helio Fernandes morreu na madrugada desta quarta-feira (10), no Rio de Janeiro. Segundo familiares, ele morreu de causas naturais na sua casa no bairro do Jardim Botânico, o velório será restrito por conta da pandemia de covid-19 e o corpo do jornalista será cremado, como era o seu desejo, nesta quinta-feira (11), no Rio de Janeiro.

Helio Fernandes comprou a “Tribuna da Imprensa” em 1962 e dirigiu até 2008, ano que o jornal deixou de circular. Também chegou a dirigir outros veículos de comunicação, como “O Cruzeiro” e “A Noite”. Ficou marcado por ter sido um dos comunicadores mais perseguidos da época da Ditadura Militar. Em comemoração ao centenário de Helio, foi lançado neste ano o documentário “Confinado”, onde ele conta sua história e lembra do período em que foi confinado pelo governo militar na Ilha de Fernando de Noronha e depois em um quartel em Pirassununga, em São Paulo.

Conforme O Globo, no livro “A Ditadura Escancarada” de Elio Gaspari, revela que o jornal “Tribuna da Imprensa”, foi o diário mais massacrado pelo IA-5. “Sofreu mais de vinte apreensões e teve censores dentro do seu prédio por dez anos e dois dias. Antes mesmo que Médici chegasse ao Planalto, o jornalista Helio Fernandes, seu proprietário e alma panfletária, passara por quatro cadeias e dois desterros“, descreve o autor.

Nos últimos anos e mesmo longe das redações, Helio não deixou o instinto jornalístico e continuou escrevendo e publicando aqui na Tribuna da Imprensa Livre, em seu blog e no perfil do Facebook, por onde também mantinha o contato com os leitores.

Helio Fernandes recebe vacina (Foto: Ana Carolina Fernandes)

Tive o prazer de conhecê-lo e a honra de editar seus artigos por quase 2 anos. Helio era pai dos também jornalistas, Rodolfo Fernandes, ex-diretor de Redação do “Globo”, e Hélio Fernandes Filho, ambos mortos em 2011. Aos 100 anos, ele deixa outros três filhos, Isabela, Carolina e Bruno, e dois netos, Felipe e Leticia.

Helio Fernandes Presente!

Os jornalistas Helio Fernandes e Daniel Mazola, durante a festa de 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 2008 (crédito: Carlos Di Paola)

>> Leia também: Helio Fernandes morre aos 100 anos, por Ana Helena Tavares (fonte: ABI) A seguir, depoimento do jornalista e ex-conselheiro da ABI, Daniel Mazola, muito amigo de Hélio: “Helio Fernandes é um monumento à liberdade de imprensa, fez do jornal Tribuna da Imprensa sua trincheira das lutas democráticas e de resistência ao regime totalitário. Foi preso e excluído da cidadania, mas ressurgiu ainda mais altivo, destemido e incansável, merecendo a definição de jornalista catedrático da democracia brasileira. Está ao lado de grandes nomes como Gonçalves Ledo, Líbero Badaró, Frei Caneca, Barbosa Lima Sobrinho, Ruy Barbosa e José do Patrocínio. Helio Fernandes sempre tratou a informação de forma crítica e independente, expondo e debatendo todas as mazelas do sistema. Assim como o mestre, entendo que só com direito a informação plural e diversa, poderemos propor e construir uma democracia real e um verdadeiro projeto de nação. Tive o prazer de conhecê-lo e a honra de editar seus artigos por quase 2 anos. Mestre Helio, você foi gigante! Meus sinceros sentimentos à família e um forte abraço nos três filhos, Isabela, Carolina e Bruno, e dois netos, Felipe e Leticia. Helio Fernandes Presente!”


DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTE 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013).