Por Amirah Sharif –
Na semana passada, um taxista falava que, no tempo dele de criança, adorava jogar futebol no campinho até altas horas com os vizinhos e que sua mãe ficava gritando pra ele ir pra casa e ele dizia para ela esperar só mais um pouquinho e ela começava a contar até três e ele saía correndo para não apanhar na frente dos amigos. Enfim, eram boas recordações dos tempos de infância. Na empolgação em reviver tais lembranças, me contou que também gostava de soltar “cafifa”.
Fiquei “encafifada” (pensativa) com a prosa dele em dizer que, quando soltava pipa, os morcegos ficavam enrolados na linha e isso atrapalhava a brincadeira. Seria isso verdade? Em tempos de “fake news”, desconfiei.
É um pássaro ? É um avião? É o super homem? É o Batman?
Não! Vamos falar sobre morcegos. O termo “morcego” significa rato cego, mas os morcegos não são totalmente cegos. A maioria deles enxerga em preto e branco e, como caçam à noite, desenvolveram uma espécie de sonar, que permite sua locomoção com facilidade no escuro, a chamada ecolocalização.
Os morcegos são mamíferos que ficaram conhecidos nas telas de cinema através de personagens de ficção como os vampiros, porém apenas uma pequena parcela deles se alimenta de sangue. A maioria se nutre através de frutas, insetos e seivas de plantas.
Pode “arminha” contra morcego?
A maioria dos pensamentos em relação aos morcegos não é muito positiva, isso é fato. Além da associação às cavernas, há a imagem dos vampiros. Todas essas representações fazem com que as pessoas acreditem que morcego é perigoso, de forma consciente ou inconsciente. Importante saber que é proibido matar morcego. Não dá pra apontar arminha contra ele, não! Aliás, não se deve apontar arma para nenhum ser vivo. O morcego é um animal silvestre protegido pela Lei de Crimes Ambientais ( Lei 9.605/1998) e quem infringir a legislação pode sofrer detenção de seis meses a um ano, além de multa.
Equilíbrio ambiental
Existem aproximadamente 1.100 espécies de morcegos no mundo. No Brasil, há cerca de 138 espécies espalhadas por todo o país. A maioria das espécies de morcegos atua no controle das populações de pragas e insetos, que causam danos para a agricultura e são perigosos para os humanos. Em alguns casos, morcegos conseguem comer quantidades de insetos equivalentes ao seu peso (ou até mais) em apenas uma noite, ou seja, uma verdadeira contribuição para o equilíbrio ambiental.
Morcegos que se alimentam de frutos espalham sementes entre as idas e as vindas de uma árvore para outra, colaborando com a renovação dos alimentos.
Voo verdadeiro
Os morcegos são os únicos mamíferos que possuem a capacidade de voo verdadeiro e o que lhes permite esse voo é a presença de uma asa membranosa, sustentada por longos membros anteriores, assim como o segundo e quinto dedos. Essa membrana se estende pelos membros posteriores e, em alguns casos, pela cauda. Eles apresentam, em seus pés, garras afiadas e curvas, as quais eles utilizam para pendurar-se de cabeça para baixo enquanto dormem durante o dia.
Os morcegos têm hábitos noturnos e muitos utilizam a ecolocalização para se orientarem e encontrarem seu alimento. Muitos deles utilizam o som para se comunicarem ou como sinal de alerta, sendo que alguns dos sons emitidos são inaudíveis pela espécie humana.
Os morcegos podem viver solitários ou em grupos.
O morcego é perigoso?
Vou dar um “spoiler”: o real perigo dos morcegos surge dos humanos. Ah, e as doenças transmitidas pelo morcego? Não são perigosas? Na verdade, todos, eu disse todos os animais podem ser possíveis transmissores de vírus. Vamos prestar atenção : não é o risco que os morcegos podem oferecer para os humanos, mas, sim, as atitudes dos humanos que tornam essa transmissão ( popularmente chamada de “doença do morcego”) realmente perigosa como a captura e comercialização de animais selvagens para consumo e o desmatamento de áreas onde os morcegos vivem. Percebem? Esses são alguns dos exemplos que favorecem a transmissão de vírus dos morcegos para os humanos. Se forem deixados quietos no habitat, os morcegos selvagens dificilmente oferecerão riscos aos humanos.
E aí eu pergunto: o humano vai ficar quieto e deixar os morcegos quietos? A resposta é: infelizmente, não.
É possível encontrar morcegos em todo o globo terrestre, exceto nos polos. A principal região que abriga os morcegos é a neotropical, que envolve a América do Sul e uma porção da América Central. Ainda, é entre os trópicos que vivem as mais diferentes espécies de morcegos. O local é propício para a vida dos animais, pois oferece uma abundância de insetos e frutos, e o clima contribui para a sobrevivência e reprodução dessas espécies.
Morcegos naturebas
Alguns morcegos são classificados como nectarívoros quanto à alimentação, porque possuem como cardápio preferido o néctar das flores e o pólen. Grande parte dos morcegos brasileiros preferem insetos, já a maioria ao redor do mundo é frugívoro, ou seja, se alimentam de frutos.
Morcegos-vampiros
Existem três espécies de morcegos-vampiros no mundo: o morcego-vampiro comum; o morcego-vampiro de asas brancas e o morcego-vampiro de pernas peludas. Todas essas espécies podem ser encontradas no continente americano. Apesar de serem hematófagas (que se alimentam exclusivamente de sangue), essas espécies de dentes mais afiados não atacam os seres humanos. A preferência é por bois, vacas, cavalos, algumas aves e bichos silvestres de menor porte.
Uma das curiosidades dos morcegos é que eles possuem vida longa e são bastante saudáveis. Mesmo sendo infectados com vírus mortais, tais como ebola e raiva, poucos ficam doentes ou desenvolvem doenças graves.
Segundo maior grupo de mamíferos
De fato, os morcegos são o segundo maior grupo de mamíferos do mundo, atrás apenas dos roedores. E dentre os mamíferos, eles são os únicos que possuem a capacidade de voar e o jeitão característico de dormir de cabeça para baixo.
Estou com a impressão de que aquele “papo” do taxista em dizer que os morcegos ficavam presos nas linhas de suas pipas parece ser conversa de pescador. Mas isso é um outro papo!
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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Nos tempos da pré/adolescência, fazia muito sucesso revistas ditas de terror. Lia muito as do Conde Drácula, o morcego vampiro do Castelo.