Por José Carlos de Assis –

A 27ª Conferência Mundial do Clima (COP 27), realizada no Egito em dezembro último, não teve qualquer consequência prática, assim como os eventos similares anteriores.

As forças econômicas e políticas que poderiam se comprometer com a redução do efeito estufa, essencial para o controle progressivo das mudanças climáticas, resistem estupidamente em fazê-lo, a despeito das comprovações científicas de que, sem isso, o planeta está condenado a tornar-se inabitável até 2050.

Grandes poluidores como a indústria automobilística e os produtores de energia com base em carvão e petróleo têm mobilizado bilhões de dólares em publicidade e influência política para evitar o estabelecimento de controles sobre as emissões de gás de efeito estufa. Nos Estados Unidos, um único senador , Joe Manchin, contraditoriamente do partido do presidente Joe Biden, impede no Senado a aprovação do programa do presidente contra a poluição, porque sua base política é da Virgínia, uma região produtora de carvão.

Na reunião do Egito, o presidente Lula assumiu vários compromissos responsáveis na área ambiental, principalmente quanto à redução do desmatamento da Amazônia. Entretanto, até agora não houve qualquer contrapartida em termos de ação concreta do governo norte-americano em financiar, junto com Noruega e Alemanha, o Fundo Amazônia. Biden está preferindo despejar bilhões de dólares para financiar a guerra na Ucrânia – só neste mês, US$ 500 milhões -, a contribuir para o combate às mudanças climáticas no Brasil.
É uma irresponsabilidade incomensurável das classes dominantes do mundo em relação ao futuro do planeta. O mais grave é que já existem soluções plausíveis para reduzir o efeito estufa, porém ignoradas. Por um lado há as que diminuem esse efeito, como a utilização em larga escala de veículos e equipamentos movidos a energia elétrica. Por outro, já estão consagradas iniciativas para o aumento de produção da própria energia elétrica limpa, com custo baixo em relação aos benefícios, como usinas eólicas, fotovoltaicas e a gás.

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Ao lado da leniência dos EUA, o país mais rico e também o maior poluidor do planeta, em atacar os fatores que provocam mudanças climáticas que causam desastres extremos, o mesmo comportamento se observa na China e na Rússia. Devido a questões geopolíticas, um acordo sério sobre o clima, entre essas potências, parece cada vez mais distante, para desespero dos ambientalistas que veem se esvair o tempo fixado pela ONU – 2025, 2030 e 2050 – com marcadores de etapas que devem ser vencidas para salvar a civilização.
Vivemos, além disso, um tempo de contradições. Foi a insistência norte-americana, através de sua guerra por procuração na Ucrânia, que arrastou o resto da Europa para uma posição estúpida de desafio à Rússia, antes do conflito. Que ninguém se esqueça de que a principal motivação de Putin para atacar foi uma reação ao cerco crescente dos ocidentais sobre a fronteira da Rússia, abarcando todos os países da antiga União Soviética, exceto Bielorússia, com a violação dos acordos verbais feitos anteriormente com Gorbachev.

Se não tivesse havido a infinita ambição dos EUA de manter sua hegemonia mundial, a OTAN teria de ser extinta junto com o Pacto de Varsóvia. Depois de 1999, os países da antiga União Soviética foram se democratizando progressivamente, e não havia razão para que se preservasse a estrutura dessa aliança militar. Desde então, a Rússia estava tendo relações normais e positivas com o Ocidente. Então, veio a guerra híbrida na Ucrânia, estimulada pelos EUA, por oligarcas e neonazistas, determinados a afastar o país da Rússia.

A consequência de tudo isso é que a humanidade nunca esteve mais longe, como agora, de um acordo, formalizado entre países que contam, para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Estamos condenados a sofrer os efeitos dos eventos extremos em todos os lugares do planeta. O fato de que afetam inicialmente os pobres e as camadas mais baixas da população é ainda mais dramático. Entretanto, os ricos compreenderão, aos poucos, em si mesmos e nas suas famílias, que também eles pagarão a conta por sua indiferença.

Não é impossível que uma tragédia ainda de maiores proporções, embora não ligada diretamente às mudanças do clima, comprometa em prazo relativamente mais curto a vida na Terra. Os ocidentais fazem sua guerra por procuração contra a Rússia entupindo a Ucrânia de armas moderníssimas. Imaginem, então, uma potência nuclear de primeira linha sendo derrotada junto a suas fronteiras por uma potência menor, armada por seus inimigos! Acaso ela resistirá a usar armas nucleares, sob qualquer risco, para se defender?

Lula e Celso Amorim durante videochamada com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Lula tem toda razão quando coloca o fim da guerra na Ucrânia, que começaria por um cessar fogo, como prioridade absoluta na atualidade. Contudo, as dificuldades são quase infinitas. As razões que levaram Putin a atacar subsistem, pois o cômico Zelensky ainda insiste em enfiar a Ucrânia dentro da OTAN. E a OTAN aceita esse desejo com naturalidade, justificado como um ato de soberania da Ucrânia.

Entretanto, que soberania tem um país que, para sobreviver, tem de recorrer a armas estrangeiras?

JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, doutor em Engenharia da Produção, autor de mais de 25 livros de Economia Política e introdutor do jornalismo econômico investigativo no Brasil com denúncias de escândalos sob o regime militar que contribuíram de forma decisiva para o desgaste da ditadura nos anos 80. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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