Por Iata Anderson –

Como tantas outras, é preciso que pessoas morram para se tomar providências.

Deve ser assim desde que Cabral aportou por aqui, com suas caravelas coloridas e a falta de vento. Durante a primeira missa alguns índios descuidados meteram-se em pequenos galhos, até que um deles não suportou e caiu com cinco irmãos do Juruna, todos enterrados três dias depois quando, finalmente, os corpos foram identificados pelo Instituto Médico Legal da região. Os caciques prometeram providências, as famílias seriam amparadas, o rei de Portugal mandou cortar todos os galhos que oferecessem perigo aos donos da terra, a Funai prometeu apresentar os culpados em 90 dias. Até hoje ninguém sabe quem foi o irresponsável que deixou os silvícolas trepar na mangueira, justo naquela, naquele dia histórico. Até hoje as prefeituras mandam podar todas as mangueiras da cidade, como faço em Pasárgada, antes que algum desavisado suba para roubar minhas mangas Tommy.

Em abril de 1500, o território correspondente ao atual Brasil foi reivindicado por Portugal após a chegada da frota comandada pelo explorador português Pedro Álvares Cabral

Alguns anos depois, a imprensa, muito parecida com aquela enviada pelo rei, repete as mesmas frases enviadas aos jornais portugueses sobre o infausto acontecimento. Com uma diferença, agora já sabem quem é o culpado. Exatamente, ele mesmo. O resto, igualzinho a mais de 500 anos atrás.

Prefeito promete amparar famílias dos mortos na tragédia, defesa civil interdita local, Marinha vai providenciar estudo apurado de todos os penhascos brasileiros, do Iapoc ao Chuí, “esse professor de geologia garante que o local não oferecia perigo”, disse a afoita repórter de um canal especializado em novelas, que se mete em tudo. Esperei esse tempo todo para ouvir uma verdade e só escutei cascata (sem trocadilho, pelo amor de Deus, não é hora), como de costume. Palpites e mais palpites. Aparecem “especialistas” de todos os cantos do país. Vão continuar procurando culpados e não vão encontrar, sabe por quê? Não têm coragem, esse jornalismo de hoje é covarde, medíocre, ridículo. Vão esperar alguém dizer alguma coisa mais ou menos aceitável para virar verdade e a boiada vai atrás. A natureza avisou várias vezes. Primeiro o “olho d’água” em dose dupla, uma atrás da outra, depois, rochas despencando anunciando a tragédia. E as lanchas de aproximando do rochedo, apesar dos avisos. Negligenciaram a tragédia.

Se eu fosse o piloto daquela lancha atingida não teria morrido ninguém, ela não estaria ali.

Lamento tantas vítimas inocentes, que estavam apenas se divertindo.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.


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NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.