Redação

“Acharam que ia melhorar o quê?”, Lula diz em entrevista exclusiva a canal de TV ser “bobagem” achar que BC independente pode “fazer mais”. Também destacou que inteligência militar não alertou sobre tentativa de golpe.

Em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (18), o presidente Lula (PT) se declarou contrário à implementação de uma CPI na Câmara dos Deputados ou no Senado para investigar os responsáveis pelos atos golpistas que ocorreram na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro. Lula afirmou que, tendo em vista a existência de uma investigação em curso por parte das autoridades policiais, uma apuração paralela por parte do legislativo pode atrapalhar o trabalho investigativo.

“O que nós podemos investigar em uma CPI que a gente não possa investigar aqui e agora? Nós estamos investigando, já têm mais de 1,3 mil pessoas presas. Estamos ouvindo depoimentos, pegando telefones celulares, (…) já sabemos quem foi negligente, quem não foi negligente. Eu não sei o que a gente vai ganhar com uma CPI”, declarou o presidente. Poucas horas antes da entrevista, a Câmara Legislativa do Distrito Federal instaurou uma CPI com esse objetivo.

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O presidente também teceu críticas ao aparato de inteligência do governo federal, incluindo das três forças armadas, por não o terem alertado sobre o risco de invasões às sedes dos três poderes.

“Eu saí daqui [de Brasília] com a informação de que só havia 150 pessoas no acampamento, que estava tudo muito tranquilo. (…) Depois que tudo aconteceu, você vai ver nas redes sociais que isso estava sendo convocado há mais de uma semana. (…) Nenhuma inteligência serviu para avisar ao presidente da república que isso poderia ter acontecido”, desabafou.

Outro alvo de críticas de Lula foi o ex-presidente Jair Bolsonaro, visto por ele como um fomentador dos atos tanto por conta de suas declarações ao longo do mandato, hostis às instituições, quanto por conta da recusa em reconhecer o resultado das eleições. “O silêncio dele, mesmo depois do que aconteceu, me deu a impressão de que ele sabia de tudo o que estava acontecendo. Obviamente o que vai provar isso são as investigações”, avalia.

Sua impressão sobre os ataques aos três poderes é de que se tratava do “início de um golpe de Estado”, e que Jair Bolsonaro estaria “esperando voltar ao Brasil na glória de um golpe”. Essa possibilidade foi inclusive um dos motivos que o levaram a convidar os governadores de todos os estados e os presidentes dos demais poderes para uma reunião no Palácio do Planalto no dia seguinte.

Esforço internacional

Além de acompanhar as investigações sobre os responsáveis pelos atos golpistas no Brasil, Lula manifestou preocupação com o crescimento de movimentos e partidos de extrema direita ao redor do mundo, em especial após a vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos em 2016. A política estadunidense, a propósito, será um dos tópicos de sua conversa com o presidente Joe Biden em fevereiro, por conta dos indícios de fortalecimento da ala radical do partido republicano e de enfraquecimento do partido democrata.

Lula também planeja tratar de políticas de enfrentamento ao autoritarismo ao se reunir com o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz.

“É um movimento internacional essa extrema direita. Por isso eu vou propor uma unidade do pessoal progressista e democrático do mundo. Vamos fazer uma reunião para estabelecer uma ação de enfrentamento para não permitir o ressurgimento do nazismo e do fascismo. Precisamos ter competência para convencer a sociedade de que o regime democrático é melhor”, anunciou.

Fonte: Congresso em Foco

 



“Acharam que ia melhorar o quê?”, Lula diz ser “bobagem” achar que BC independente pode “fazer mais”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quarta-feira (18) a atuação do Banco Central, questionando o atual patamar dos juros e classificando a autonomia da autoridade monetária como uma “bobagem”. Além disso, ele considerou exagerada a atual meta de inflação a ser perseguida pela autarquia.

Para Lula, a meta de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo, obriga o BC a implementar um arrocho econômico por meio da elevação dos juros em um momento em que o Brasil precisa crescer.

AUTONOMIA DO BC – “Nesse país, se brigou muito para ter um BC independente, que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente [da República] era quem indicava”, afirmou Lula.

“Eu duvido que esse presidente do BC [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Eu duvido. Por que, com o BC independente, a inflação está do jeito que está e o juros está do jeito que está?”, questionou.

Henrique Meirelles foi presidente do Banco Central durante os dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e 2010. No entanto, o BC brasileiro não chega a ser independente, e sim autônomo. O Congresso Nacional aprovou em 2021 a autonomia do banco, uma medida que busca reduzir a ingerência política sobre a instituição. Uma das principais medidas é que o presidente do BC e seu diretores passaram a ter mandato fixo, de quatro anos.

SEM INDEPENDÊNCIA – A independência seria um passo além. Ela ocorre quando os bancos centrais têm poder para definir, eles próprios, suas metas e objetivos, além de terem liberdade operacional para definir como atuarão para atingi-las.

Lula na sequência também criticou a meta de inflação atual, argumentando que o percentual acaba barrando o crescimento econômico brasileiro.

“Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer”, afirmou o presidente.

TRÊS VOTANTES – A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que tem três votantes. Durante o governo Bolsonaro, as cadeiras eram ocupadas pelo ministro da Economia, pelo secretário especial de Tesouro e Orçamento da pasta e pelo presidente do BC.

Assim como já havia feito anteriormente, Lula usou os resultados de seus dois primeiros governos para afirmar que não é contra a responsabilidade fiscal e pediu, com base nisso, para as pessoas não exigirem esse compromisso dele. Também sinalizou que é preciso “fazer política fiscal, dar garantia que a gente não vai gastar mais que a gente ganha”.

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No entanto, também ressaltou que é necessário cumprir as obrigações com o social. “Não peçam para mim seriedade fiscal. O que eu quero é que as pessoas que pedem estabilidade fiscal tenham responsabilidade social. Assumam compromisso com o social, porque não é possível esse país ter gente na fila do osso para pegar carne, ter 30% de pessoas passando fome”, afirmou.

Fonte: Folha de SP

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