Por Pedro do Coutto –
Numa reportagem, ao mesmo tempo essencial e oportuna, edição deste domingo da Folha de S. Paulo, Camila Mattoso e Bruno Boghossian revelam que dois dias antes da invasão e das depredações no Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo, um relatório foi entregue à Secretaria de Segurança de Brasília, revelando a invasão que ocorreria dois dias depois.
Logo, o relatório chegou às mãos das autoridades na sexta-feira, antes dos atos de vandalismo. O ex-secretário de Segurança Anderson Torres já estava viajando nos Estados Unidos e Fernando de Oliveira, que o substituía, não se manifestou, da mesma forma que o comando do QG do Exército sediado na capital do país.
CONSENSO – Numa entrevista a Paula Ferreira, Jeniffer Gularte e Thiago Bronzatto, O Globo, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirma ser consenso que a atuação tanto de policiais quanto de militares esteve longe da eficiência. As duas reportagens, portanto, convergem para duas faces distintas da calamidade ocorrida, criando uma visão bastante crítica e realista do atentado contra o Governo Lula da Silva.
É preciso não esquecer, inclusive, o projeto de golpe militar que Anderson Torres em sua viagem à cidade de Orlando, na Flórida, onde se encontrava o ex-presidente Jair Bolsonaro, estabelecia um absurdo total, abrangendo a anulação das eleições de outubro.
Torres, portanto, conforme escrevi há poucos dias, é o homem que sabia demais, de Hitchcock. É de se acreditar que seja ele o coordenador do projeto subversivo. Camila Mattoso e Bruno Boghossian acentuam que o relatório que antecipou o vandalismo foi produzido pelo setor de Inteligência da Secretaria de Segurança do Distrito Federal.
INSEGURANÇA – Em seu texto está prevista a chegada de ônibus transportando participantes e a intenção da prática de atos de violência. A Folha de S. Paulo teve acesso ao documento, que se encontra em poder do jornal, entregue à Secretaria de Segurança de Brasília e que se transformou na verdade numa usina de insegurança.
A Polícia Militar sabendo do fato não enviou agentes em número suficiente para conter a onda criminosa e impedir a entrada dos golpistas nos prédios do Planalto, do Congresso e do STF. Informações não faltaram, como se constata, e fica no ar um conjunto presumível de conivência e omissão dolosa. Além desse aspecto devastador, existem resultados e monitoramentos feitos de mensagens através de aplicativos sobre a realização dos atos de vandalismo.
O relatório cujas informações não foram seguidas ou consideradas nessas omissões, incluindo até o governo Ibaneis Rocha, que apenas se disse mal informado, deixa claro a realidade da situação. Trata-se de um documento da maior importância que amplia a excepcionalidade de um panorama que contém e reflete a insegurança pessoal dos integrantes do Governo Lula da Silva.
DESCONFIANÇA – Na entrevista a Paula Ferreira, Jeniffer Gularte e Thiago Bronzatto, o ministro Rui Costa destaca fortemente a falta de confiança do governo nos comandos policial e militar da capital do país. “Uma falha histórica”, disse Rui Costa. “A equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) será renovada, passará por um treinamento e adotará novo protocolo de segurança.”, afirmou o ministro.
No episódio ficou claro que a permanência de Múcio Monteiro na pasta da Defesa ficou desestabilizada. Fará com que, penso, Lula tenha que se entender diretamente com os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. José Múcio Monteiro não tem o perfil adequado para o cargo. Afastou-se do palco dos acontecimentos querendo evitar colocar o pé numa bola dividida.
NEGOCIAÇÃO – Reportagem de Luiz Vassalo, o Estado de S. Paulo de ontem, informa que o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, é o articulador de uma alternativa para o pagamento das dívidas das empresas empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato. O que está sendo articulado é que possam tais empresas trocarem as suas dívidas pela execução de novas obras.
Como se percebe, trata-se de uma engenharia financeira que pode não funcionar por vários motivos, entre eles a supervalorização do valor das obras a serem executadas a partir de agora. Outra, são os prazos de pagamento que variam entre 18 e 22 anos de duração. Portanto, toda atenção é pouca sobre tal articulação.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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