Por Bolivar Meirelles

Pinguelli veio para marcar seu tempo. De vida e de luta social. Não se separava o cientista da luta cotidiana do povo.

Frequentava os dois locais: laboratório de pesquisa e, dele se retirava, tranquilamente, para os movimentos de contestação ao arbítrio e à violência dos reacionários de plantão. Conheci o Pinguelli aos 15 anos de idade, eu aos 17 anos. Muito tempo como colega e co-partícipe de sua turbulenta vida. Nunca se arrependeu, nem eu, de ter cursado a Preparatória de Cadetes do Exército, nunca nos arrependemos de termos cursado a Academia Militar das Agulhas Negras. Dentro do Exército, dois jovens “segundos tenentes”, nos colocamos contra o Golpe de Estado de abril de 1964. Eu acabei sendo atingido pelo Ato Institucional, em setembro de1964. Fui demitido do Exército. Pinguelli continuou sua trajetória de brilhante aluno. Cursou, parcialmente, o Instituto Militar de Engenharia, em Eletricidade. Lutou para sair do Exército que não mais condizia com os limites de sua suportabilidade. A vida, as posições políticas e ideológicas nos aproximaram. Até mais ainda, quando já, de uma forma ou outra, as Forças Armadas brasileiras golpistas não davam espaço, nem para nós dois, nem para os milhares de militares cassados. Passados para a reserva, reformados ou demitidos ou, se permaneceram, anulados em seus ofícios. Eu fui demitido. Ele passou para a reserva não remunerada. Viramos, ambos, civis. Preferi, sempre, sem arrependimento qualquer, pertencer ao conjunto de ex-militares como o Luíz Pinguelli Rosa do que aos companheiros dos generais presidentes, dos pontas de lança da tortura, simbolizados pelo Coronel Ustra. “Lavei minha consciência” ao ser demitido do Exército como Segundo Tenente em 1964, aos 24 anos. Felicitei-me ao consolidar amizade com o Luiz Pinguelli Rosa. Com outros camaradas de existência oriundos da formação militar inicial digna e patriota. Luiz Pinguelli Rosa um patriota, um nacionalista, um socialista. Defensor da Pátria brasileira, do patrimônio nacional, do Povo Brasileiro. Eu um Patriota sim, como ele, não jurei defender o capitalismo nem o imperialismo, juramos à Bandeira do Brasil, defender o território, a Pátria, o patrimônio Nacional, o Povo brasileiro. Eu um Patriota comuno/socialista, internacionalista. Sim juntos, muito juntos. Eu via no colega Pinguelli uma inteligência privilegiada, um homem digno, uma personalidade vocacionada à luta pelos bons projetos. Um humanista.

Vários pontos de encontro com o Pinguelli.

A Marisa, primeira mulher do Pinguelli, com quem sempre mantive boas relações, ela também com o ex marido, dois filhos, neta e neto com o Pinguelli, relação de amizade mesmo após se separarem, disse-me, ao eu defender o Pinguelli em alguma circunstância: “Bolivar, o Pinguelli é assim, existem os que o odeiam e os amigos, você faz parte dos amigos”. Sempre, no caso particular, preferi pertencer a esse conjunto. Pinguelli teve contradições com o PCB na Universidade, eu que militei durante 16 anos nessa sigla partidária, todo o período em ilegalidade, também discordei em certos períodos. Hoje o PCB retomou posições melhores. Passou por clima de turbulência. Uns se afastaram como eu, pela esquerda, segui o Luiz Carlos Prestes, apoiamos o Leonel Brizola. Outros foram para o PT, seguiram Lula. Outros resistiram internamente, até a saída do liquidacionista Roberto Freire com uma corja. Quem saiu com o Roberto Freire, alguns já fizeram a autocrítica na prática. Agregando as qualidades, Pinguelli um petista não orgânico, nunca pertenceu ao PCB, nem aos quadros do PT. Eu com o Prestes, acabei também me afastando e hoje, sem Partido, um comuna desorgânico. Amigo do PCB, nunca deixei de curtir as boas amizades antifascistas e antientreguistas, construídas em minha, já longa, trajetória de vida. 82 anos de idade não é pouco. Vivam os que, em qualquer espaço político, defendem os interesses nacionais, o Povo Brasileiro, a América Latina! Cuba livre do bloqueio Norteamericano. Aos que denunciam o Imperialismo, o Colonialismo, a OTAN e seu cerco à antiga URSS e, hoje, à China e à Rússia. Dificílimo é construir uma unidade de pensamento das esquerdas. Hoje, eu um amigo do PCB auto criticado, não deixo, no entanto, de entender a necessidade de uma frente para derrotar, no Brasil, a extrema direita fascista e o neoliberalismo entreguista. Você, Luiz Pinguelli Rosa, meu particular amigo, meu orientador no doutorado que tirei na COPPE em Ciências em Engenharia de Produção, faz falta sim, você seria um Norte Orientador, num possível novo governo de Lula, no campo da política energética do nosso querido Brasil. Você se foi mas…sua Escola ficou. Forte abraço colega, companheiro, camarada, amigo de sempre.

Além dos dois filhos, neta e neto do Pinguelli com o casamento com a Marisa mais um filho de seu encontro com a Suzana. Cinco herdeiros deste excelente DNA do Luíz Pinguelli Rosa. A vida continua.

Pinguelli vivo! Pinguelli presente!

BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública e Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente do Conselho Executivo da Casa da América Latina.


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